Mesmo com incertezas econômicas, sociais e políticas, a maior parte das empresas brasileiras deve manter ou aumentar investimentos em tecnologia e capacitação de profissionais como forma de responder à transformação digital e garantir a sustentabilidade do negócio. Por outro lado, a evolução do processo eleitoral é a maior preocupação para o ambiente de negócios ao longo do ano, segundo empresários.
Essas são algumas das conclusões de um levantamento realizado pela consultoria Deloitte com cerca de 500 empresas, cujas receitas somadas equivalem a 35% do PIB do Brasil.
“Mesmo com incertezas no ambiente de negócios, as organizações continuarão investindo em transformação digital, capacitação profissional e melhoria contínua de suas operações. Somente assim elas vão se manter competitivas em um contexto de mudanças tão relevantes como o atual. A ‘Agenda 2022’ revela que, apesar de a maioria dos empresários não estar otimista com os rumos da economia, há uma consciência clara do dever de casa a ser feito. Em cenários mais voláteis, a resposta das organizações sempre requer planejamento e pragmatismo”, destaca o sócio-líder de Market Development da Deloitte, João Gumiero.
Aplicativos, sistemas e gestão
A pesquisa “Agenda 2022” revela que os principais investimentos em tecnologia, de acordo com os entrevistados, serão em aplicativos, sistemas e ferramentas de gestão (96%); infraestrutura (96%); gestão de dados (95%); segurança digital (95%); customer marketing (81%); atendimento ao consumidor (78%); e canais de venda online (71%). As tecnologias emergentes também ganham cada vez mais espaço nas empresas, no processo de consolidação da transformação na Indústria 4.0. Entre os investimentos nessas tecnologias emergentes, estão robôs móveis autônomos (39%), digitalizações do parque fabril (34%) e Realidade Virtual ou Aumentada e drones (29%).
Grande parte dos empresários (75%) investirá em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) ao longo de 2022; 59% devem focar em pesquisa aplicada, 44% em desenvolvimento experimental, 26% em pesquisa básica dirigida e 17% em tecnologia industrial básica. Para 2022, estão previstas ações de inovação realizadas colaborativamente. Foram citadas pelos entrevistados: treinamento de equipes (58%); interação com clientes (56%); troca de conhecimento e experiências (53%); apoio para adoção de novas tecnologias (52%); desenvolvimento de novos produtos e serviços (50%); realização de pesquisas (43%); realização de eventos (42%); simplificação de processos burocráticos (39%); apoio para captação de recursos financeiros (22%); e apoio para registro de patentes (13%).
A pesquisa revela que mais da metade das empresas (53%) pretende aumentar o quadro de funcionários, enquanto 18% preveem a manutenção do quadro atual sem substituições; 24% devem manter o quadro com algumas substituições; e apenas 5% devem diminuir o número de profissionais. Entre aqueles que devem diminuir ou substituir funcionários, 56% deles devem fazer as substituições por profissionais mais qualificados; 30% diminuirão para reduzir custos, 28% por causa da robotização ou automação de processos, enquanto 18% alegam a diminuição da demanda.
A ampla maioria (90%) dos respondentes planeja investir em treinamento e formação de funcionários. Além disso, nove em cada dez empresas vão aumentar ou manter investimentos em qualificação tecnológica, e a maior parcela (78%) vai direcionar esses treinamentos a diversas áreas da empresa. Segundo a Deloitte, essa necessidade de maior qualificação reflete uma lacuna estrutural na formação desses profissionais. O fato de a educação figurar como a principal demanda social do empresariado para o setor público, seguida por saúde, saneamento básico e segurança, confirma essa percepção.
Lançamentos de produtos
É alta a parcela de empresas (85%) que pretendem lançar produtos ou serviços em 2022. Ainda sobre investimentos prioritários, 70% afirmam que ampliarão ações em P&D, enquanto 53% intensificarão parcerias com startups. Em relação à expansão dos negócios, 59% devem investir na aquisição ou renovação de máquinas e equipamentos, 41% em novos pontos de venda, 31% na ampliação de atuais unidades de produção e 21% na abertura de novas unidades de produção.
As seguintes iniciativas estratégicas foram apontadas por parcelas relevantes de empresas: participação em licitações e privatizações (31%), aquisição de outras empresas (22%), aquisição de produtos ou marcas (18%) e participação em concessões públicas (13%). Do total de companhias participantes, 25 organizações pretendem abrir capital (IPO, na sigla em inglês) em 2022. Já 46 empresas pretendem emitir títulos de dívidas durante o ano.
Quando questionados sobre quais são as principais preocupações para o ambiente de negócios no Brasil, a maioria dos entrevistados (68%) apontou a evolução do processo eleitoral que culmina nos pleitos de outubro. Instabilidades políticas (65%), inflação acima de 5% (61%) e alta dos juros (50%) foram outras preocupações apontadas em respostas múltiplas.
Com o mundo vivendo uma escalada de novos casos diários de Covid-19, praticamente metade dos pesquisados (47%) apontou a nova onda da covid-19 como preocupação. A desvalorização do real (43%), riscos fiscais (40%) e crises hídrica e energética (34%) também foram mencionadas pelos respondentes. Apesar dessas preocupações, 21% dos entrevistados ainda esperam crescimento das vendas maior do que 20%; já a taxa média de crescimento de vendas esperada pelas organizações é de 10,2%. Apenas 6% dos participantes esperam queda nas vendas.
Prioridades do governo
A “Agenda 2022” mapeou quais deveriam ser, de acordo com os empresários, as prioridades para o governo neste ano. No campo da economia, foram apontadas a geração de empregos, a manutenção da inflação abaixo de 5%, investimentos em infraestrutura e logística e política de juros. No âmbito do empreendedorismo, foram elencadas como prioridades as micro e pequenas empresas, a transformação digital, o crédito a empresas e a abertura e fechamento de empresas. Da gestão pública, os entrevistados esperam reforma administrativa, combate à corrupção, desburocratização e planejamento estratégico. Em relação às regulamentações, as empresas apontaram como prioridades a reforma tributária, a legislação trabalhista, a legislação ambiental e o endereçamento de ataques cibernéticos.
Para 39% dos respondentes, suas indústrias precisam de revisões ou novas regulamentações. Para a indústria extrativa, por exemplo, a principal demanda é um novo código de mineração. Para os setores da cadeia de agronegócio, alimentos e bebidas, é o ESG, enquanto, para as indústrias de manufatura, comércio e telecomunicações, o tópico mais importante de revisão é a carga tributária. O segmento de energia e petroquímico apontou as energias renováveis como o principal aspecto a ser tratado no âmbito das regulamentações. A indústria de construção, por sua vez, tem como prioridade as regulamentações municipais. Já o setor de saúde apontou como principal demanda a regulamentação de preços.
Sobre a mais recente proposta de reforma tributária em tramitação no Congresso Nacional, 38% concordam parcialmente com ela, 14% concordam totalmente, 15% discordam e 33% a desconhecem. Entre aqueles que concordam parcialmente, os pontos de discordância envolvem: falta profundidade (32%), tributação de dividendos (27%), aumento da carga tributária (23%), falta de abrangência (14%) e falta de foco na simplificação (9%).
Quando questionados sobre os principais desafios para tirar projetos de capital do papel, foram elencados, em ordem: volatilidade do mercado; imprevisibilidade de receitas e vendas; custo de captação para financiamento; imprevisibilidade dos resultados; falta de mão de obra qualificada; definição de orçamento; burocracia para captação de recursos; insegurança legal e jurídica; e atendimento a ESG. Entre aqueles que a desconhecem, a maior parte representa empresas com faturamento anual de até R$ 250 milhões.
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