A regra é a mudança: caso da capital paulista

Turismo na capital paulista cresce em setembro, na 5ª alta consecutiva

São Paulo nasceu em 25 de janeiro 1.554 no Pátio do Colégio, com propensão ao comércio e serviços, e se expandiu a partir dali. Essa região continua sendo um importante centro de compras e serviços da cidade e do País. Desde a Praça da Sé ou Praça da República ao Viaduto do Chá, passando por Santa Efigênia, região da Luz, Zona Cerealista (Mercadão) e Bom Retiro, Rua das Noivas ou Florêncio de Abreu, as transformações vistas a cada década foram centenas e, mesmo assim, a região não perde o vigor de negócios, a despeito de alguns focos de grande degradação.

O centro de São Paulo, ainda chamado de centro comercial da cidade por muitas pessoas, foi e é o cenário de muitos ícones do varejo, alguns que não existem mais e outros que ainda perduram na paisagem, mas tudo mudou muito ao longo dos anos. O centro da capital paulista é a prova de que a mudança é regra, e pode quase ser usado como máquina do tempo para quem quer antecipar alguns fenômenos que também podem ocorrer em outras regiões da cidade, do Estado e do País. Se São Paulo resistiu ao fim de ícones como Mesbla, Mappin, Sears, Sandiz, mas mantém intactos ou adaptados os marreteiros e lojistas da 25, o Teatro Municipal, muitos restaurantes antigos e tradicionais (Gato que Ri, Piero, Ponto Chic), farmácias famosas como a Botica Ao Veado d’Ouro, que se adaptou ao longo dos anos e em 2008 passou a ter suas linhas de produtos vendidas em uma nova farmácia de manipulação, é possível atravessar mais uma crise, mais uma mudança tecnológica, se adaptando diariamente a tudo isso.

O varejo se reinventou e a cidade se adensou em outras regiões e bairros, que sempre foram testemunhas da força e diversidade da fauna do comércio e de serviços. Muitas empresas abriram e fecharam ao longo das décadas e, em geral, as que fecharam acabaram sendo apenas vítimas das mudanças culturais, sociais e econômicas que não puderam acompanhar. Dessa vez, é diferente,. A pandemia acelerou um processo de mudanças que vai atingir até algumas empresas que normalmente se adaptariam em outras crises. A cidade que já teve parques industriais em seus limites geográficos mudou de vocação e evoluiu diante da necessidade, e assim será de novo. Apesar desse momento, ainda que a crise machuque muitos e derrube alguns pelo caminho, os grandes centros urbanos vão reagir, e se adaptar após a Covid-19.

Andando pelo Brasil

O País enfrentou quedas relevantes de consumo, em especial em serviços e varejo não essencial, e, não fosse o auxílio emergencial, esse cenário seria ainda pior. Muitas cidades pequenas tiveram desempenho ainda pior do que alguns centros maiores e muitas ainda estão com comércio fechado ou sob constante risco de fechamento pelo Brasil. Apesar de alguns setores essenciais terem tido bom desempenho, o fato é que o PIB deve ter caído algo próximo a 4,5% em 2020 e é claro que uma crise aguda e prolongada acaba afetando até os setores essenciais por conta do emprego e renda.

De forma geral, Supermercados, Lojas de Materiais de Construção e Farmácias tiveram bom desempenho, e outros segmentos sofreram e ainda sofrem em todo o País com a perda de emprego e renda e com as restrições sanitárias que ainda persistem em vários municípios.

A inspiração com a história de São Paulo serve como alento também para outras regiões do Brasil, mas o setor terciário de forma geral vai presenciar muitas mudanças que passam por novos conceitos, novas empresas, novos canais de distribuição e, certamente, sinergia entre o comércio e serviço presencial e o e-commerce, com o consumidor atrás do balcão ou com aquele que está do outro lado de um aplicativo ou computador – um novo balcão virtual.

Futuro: mudanças transitórias e mudanças definitivas

Transitórias:

Afastamento dos grandes centros (quem pode), escola não presencial, menos lazer ao ar livre, quase ausência de festas, reuniões sociais, cinema, viagens e comportamento mais recluso – para os jovens sob certa coerção.

Provavelmente definitiva, mas não integrais:

Maior uso do trabalho remoto deve esvaziar algumas regiões, principalmente de escritórios, com efeito sobre o comércio e serviços locais (região das avenidas Paulista e Berrini, por exemplo). Fortalecimento do comércio de bairro. Mas não dá para saber o exato efeito nesse momento.

Fora da curva:

Em tese, esses efeitos (transitórios ou definitivos) são menores quando se trata de ruas especializadas em abastecer outros negócios (como restaurantes ou lojas de roupas e os famosos sacoleiros) ou clientes especialistas. Ainda que cada vez mais a comodidade e os canais virtuais estejam presentes do dia a dia dos consumidores, muitas pessoas ainda vão se dirigir a essas regiões buscando preços competitivos, variedades e artigos especiais e informações. Esses são grandes diferenciais que comprovam que o produto físico tem de ser acompanhado de um serviço, que cada cliente define qual seja. Para muitos, a informação técnica e/ou orientação na hora da compra, em especial para compras de artigos de elevado valor, e de consumo não recorrente, são decisivas.

Fabio Pina é membro da Gouvêa Analytics.
Imagem: Bigstock

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