Desafios do foodservice global para 2022

Após os desafios iniciados com a pandemia de covid-19 há dois anos, 2021 também foi difícil para o Brasil. Inflação elevada, taxa de desemprego alta (apesar da sua tendência de queda lenta), rendimento médio caindo e um saldo elevado de mortos devido à pandemia.

O primeiro semestre foi desafiador para o País: a segunda onda atingiu com força todos os Estados, a campanha de vacinação ainda estava lenta, e restrições rígidas ao funcionamento de estabelecimentos e circulação de pessoas voltaram por quase dois meses. Mas o segundo semestre trouxe alívio, com a aceleração da vacinação.

O ano terminou com boas perspectivas: quase 70% da população adulta completamente vacinada e os números da pandemia mostravam que o pior já havia passado, mesmo com o aumento do número de casos em dezembro devido à variante Ômicron. Restaurantes, shoppings e escritórios não tinham mais restrição, permitindo o retorno das pessoas às ruas e ao consumo. Desafios econômicos, porém, ainda estavam presentes, criando um cenário difícil para 2022 e para uma recuperação sustentável do foodservice.

Apesar do contexto, o setor mostrou uma forte recuperação no ano: em 2021 o gasto cresceu 18% em relação ao ano anterior, sustentado pelo aumento de 5% do tráfego e de 12% do ticket médio por consumidor, segundo o CREST, pesquisa global do mercado de foodservice do The NPD Group realizada no Brasil em parceria com a Mosaiclab.

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Em relação ao quarto trimestre de 2021, o aumento foi de 24% no gasto e de 8% no tráfego, destacando-se também o ticket médio, com elevação de 15% em relação ao quarto trimestre de 2020. Em relação aos níveis pré-pandemia (2019), o gap em gasto e tráfego está em queda, mas mostrando que ainda existe espaço para recuperação.

Movimento no foodservice global: aumento de preços

O fenômeno de elevação generalizada dos preços no foodservice não é uma exclusividade do mercado brasileiro. A inflação no setor é verificada nos diferentes países monitorados pelo CREST, conforme levantamento da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) para o Índice de Preços ao Consumidor, e tem sido causada por demanda aquecida e, também, pelos desequilíbrios verificados nas cadeias de abastecimento globais.

No quarto trimestre de 2021, todos os mercados mostraram crescimento de tráfego e ticket médio e, por consequência, o gasto nos mercados cresceu, com exceção da Austrália e, principalmente, da China, onde severas restrições haviam sido impostas em diferentes grandes cidades por conta de novos surtos de covid-19. Vale ressaltar o desempenho positivo generalizado na Europa, em todos os países analisados.

Apesar do desempenho positivo, nos países da OCDE o tráfego ainda opera em patamares inferiores em relação aos níveis pré-pandemia no final de 2019, sinalizando que o desafio de 2022 para o setor, globalmente, será a geração e aumento do volume de visitas nos restaurantes, nos diferentes segmentos e canais, além das possíveis barreiras que o ticket médio mais elevado pode representar para o consumo.

Desafio global da retomada de visitas no setor

Analisando os diferentes segmentos, no geral todos cresceram no quarto trimestre de 2021 nos diferentes países, destacando-se a recuperação do Quick-Service Restaurant (QSR) e do Full Service na Europa, Estados Unidos e Brasil. Dayparts crescem de forma generalizada nos mercados também, mas no geral estão ainda abaixo dos níveis do final de 2019 em termos de tráfego, reforçando o desafio da geração e aumento do volume de visitas no setor, nas diferentes ocasiões de consumo.

Em termos de canais, o CREST aponta crescimento quase generalizado do consumo on premise nos países monitorados no quarto trimestre de 2021 em relação ao quarto trimestre de 2020, mas o canal está com um share de visitas inferior ao que era verificado em 2019.

O consumo on premise perdeu tráfego durante a pandemia por conta das restrições impostas à circulação de pessoas e ao funcionamento de restaurantes, ao mesmo tempo em que novos hábitos foram consolidados pelos consumidores no canal off premise, principalmente por meio do delivery. Ou seja, o canal está recuperando tráfego, mas existe a possibilidade de não recuperar o espaço que ocupava antes da pandemia, justamente por conta dos novos comportamentos adquiridos – menor circulação, mais consumo em casa.

Barreira da pressão inflacionária

O CREST monitora 13 países, e um dos principais insights de 2021 é de que a inflação é um fenômeno global que já está impactando os preços no foodservice. Coreia do Sul, Alemanha e Itália registram os maiores índices dos últimos 20, 30 anos. Austrália apresentou crescimento de gasto apenas por conta da valorização do ticket médio – seu tráfego ficou estável. O mercado chinês desacelerou por conta dos novos surtos de covid-19 que impuseram fortes restrições em algumas das principais cidades do país.

Na Espanha, França e Reino Unido, o destaque fica por conta do forte desempenho dos canais off premise. Nos Estados Unidos, a alta inflação possibilitou o gasto crescer e ficar acima dos níveis de 2019, mas o tráfego está se recuperando de forma muito mais lenta, e a expectativa é de que ainda não supere os níveis pré-pandêmicos em 2022 – além do desempenho desigual entre os diferentes segmentos do setor, com as redes de fast-food e o varejo crescendo com força, e o full service exibindo um gap de dois dígitos em relação a 2019 ainda. Em todos os países, os especialistas responsáveis pelo CREST apontam que a inflação pode se tornar uma barreira ao consumo.

O ano de 2022 se inicia sob pressão inflacionária e com um cenário externo mais adverso por conta da guerra no Leste Europeu. Pressão nas commodities, elevação de taxas de juros, aumento da cotação internacional do petróleo são fatores que impactarão ainda mais a inflação e, também, o bolso dos consumidores.

Em meio ao desafio de aumentar o volume de visitas nos restaurantes, o foodservice também verá seu ticket médio mais pressionado em um momento em que as pessoas terão menos renda disponível para gastar. É um cenário complexo, mas os bons resultados colhidos em 2021 e o avanço global na vacinação e no combate à pandemia criam uma base mais sólida para o crescimento global do setor em 2022.

Eduardo Bueno é coordenador de Projetos na Mosaiclab.
Imagem: Shutterstock

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