O Brasil vive um momento marcado pelo início de um novo período presidencial e com generalizadas e cautelosas expectativas sobre os impactos no desenvolvimento dos negócios, que virão dos necessários e inadiáveis ajustes que serão feitos na economia.
Em uma perspectiva mais estratégica, é reconhecido que o consumo foi a base do ciclo de desenvolvimento recente e pode ser ainda expandido porém, é necessária a busca de formas de incentivo a determinadas áreas industriais que por força do pressão global associada com aspectos internos, perderam capacidade competitiva com reflexos no crescimento e no emprego do setor.
O varejo pode assumir maiores compromissos e responsabilidades com o futuro do país, ciente das responsabilidades inerentes ao setor que teve o maior crescimento recente do emprego na área privada do país e que se mostra competitivo dentro do cenário global por conta de suas próprias características e por ter focado a busca da alta performance nesse período recente.
Esse desejo de ampliar sua responsabilidade deve ser traduzido na proposta do varejo de ser agente de transformação estrutural do mercado disseminando ideias e práticas de alta performance para toda a cadeia de valor.
A característica do varejo global ser um setor sob constante pressão por conta de consumidores cada vez mais informados e instrumentalizados para obter mais por menos faz com que, em todo mundo, o segmento de distribuição e as maiores corporações globais varejistas estejam assumindo um papel mais relevante e estratégico.
Essa relevância se traduz no aumento de sua participação na economia e na multiplicação de negócios a partir do varejo incluindo novos formatos e bandeiras, a expansão do comércio eletrônico, a incorporação de mais serviços, a expansão de negócios na área financeira, o crescimento da participação das marcas próprias e a ampliação dos mercados globais em que atuam as maiores corporações.
Esse protagonismo estratégico do varejo contribui para o processo em que as marcas e indústrias de consumo evoluem para a criação de negócios no setor, expandindo e integrando atividades como é o caso de empresas no mundo todo que passaram a atuar em novos modelos envolvendo a operação de varejo tais como Apple, Nespresso, Procter & Gamble, Nestlé, Nike, Samsung, Ralph Lauren, só para citar algumas, e mais especificamente, todas os fabricantes dos segmentos de carros, motos e do setor de luxo.
No Brasil não é diferente pois muitos segmentos industriais de consumo se reinventaram estrategicamente ao encontraram na operação de varejo o caminho para serem competitivos e gerarem diferenciações relevantes perante o consumidor, sendo particularmente importante nos setores de eletrônicos, móveis, eletrodomésticos, vestuário, moda e calçados, mas também avançando para alguns segmentos de alimentação e bebidas.
Esse processo de integração da Cadeias de Valor em busca de Alta Performance pode ocorrer a partir das indústrias e das marcas ou a partir do varejo.
Quando ocorre a partir das indústrias e das marcas está normalmente associado a uma opção estratégica sobre a importância na internalização da visão, desejos e demandas dos consumidores no negócio industrial e, de forma geral, determina profundas alterações na estrutura e na cultura dessas empresas.
Quando ocorre a partir do varejo, como é o caso do setor de moda, com os conceitos de Fast Fashion, também gera profundas alterações pois é balizada na visão de consumidores que buscam o trinômio produto-preço-diferenciação e toda a cadeia precisa ser repensada para viabilizar a entrega do mais por menos, sendo os exemplos mais eloquentes os que envolveram as marcas do grupo Zara no mercado global e da Riachuelo-Guararapes no Brasil.
Essa visão da transformação estrutural de mercado e negócios é algo que só tenderá a ampliar e diversificar e estamos assistindo a um número cada vez maior de corporações, do lado da indústria e do varejo, em âmbito global ou local, trilhando esse caminho para se manterem competitivas e o moderno varejo brasileiro pode contribuir para a formação de Cadeias de Valor de Alta Performance, integrando de forma virtuosa todo o processo produtivo em busca maior produtividade, eficiência e competitividade nos mercados local e global para produtos, categorias, segmentos, marcas e serviços.
Muito provavelmente esteja nessa constatação, da contribuição do moderno setor varejista brasileiro para o desenvolvimento competitivo das Cadeias de Valor, a próxima missão que o setor se propõe para uma maior uniformidade do desenvolvimento brasileiro.
Marcos Gouvêa de Souza (mgsouza@gsmd.com.br) diretor-geral da GS&MD – Gouvêa de Souza.