Para Roberto Valério, CEO da empresa de educação Cogna, os empresários não podem depender das definições do governo federal para tocar os negócios. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que irá ampliar o Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) e o ProUni em seu terceiro mandato. Apesar de acreditar na promessa, e estar disposto a aderir aos programas de financiamento, Valério não os colocou nos planos da companhia.
A Cogna é uma holding que abriga as instituições Kroton, Platos, Saber e Vasta Educação/Somos Educação. A aposta do grupo para 2023 é crescer com cursos a distância e com as novas vagas nos cursos de medicina. Na Kroton, de educação superior, a companhia conseguiu retomar o crescimento da receita após jejum de 14 trimestres. Agora, o plano é continuar a ampliar os negócios, e fusões e aquisições estão no radar. A seguir, os principais trechos da entrevista:
Qual é a expectativa do sr. em relação ao novo governo Lula?
Todo empresário aprende ao longo do tempo que, independentemente do governo, é preciso ter planos e executá-los. Se esperarmos o governo, não conseguimos fazer muitas coisas, não temos previsibilidade. Com o resultado da eleição, as perspectivas para o setor de educação são mais positivas. O Lula tem sido vocal sobre esse tema, que é importante para ele e para sua gestão. Em diversos momentos, ele citou o Fies, o Pronatec e incentivos à educação básica. Para uma organização de educação, isso é ótimo.
O sr. espera novos recursos para financiamentos para que a população tenha acesso à educação?
O novo governo já tem um histórico no setor de educação e acredito que fará o que disse a respeito do Fies e do Pronatec. Mas não temos isso em nossas projeções porque ainda é muito cedo para saber qual será a dimensão das medidas.
Como o novo governo e as instituições de ensino podem corrigir o atraso que a pandemia causou na formação educacional dos jovens?
A Cogna tem a oportunidade de ajudar o Brasil e gerar um impacto positivo para a população. Nosso modelo pedagógico pressupõe uma avaliação de desempenho dos alunos no processo de aprendizagem com um conceito chamado de ensino adaptativo, dando alternativas para o aluno aprender conceitos que acabaram ficando para trás. Se todos tivessem acesso, isso seria possível reduzir o atraso educacional da pandemia. Essa tecnologia de ensino pode contribuir não só com o governo, como com outras instituições.
Ainda há resistência no mercado de trabalho a quem se formou em cursos a distância?
Não. A pandemia abriu a oportunidade de ter acesso à experiência de educação a distância. As ferramentas evoluíram e são muito mais poderosas do que antes. Não há mais esse preconceito. O empregador não tem acesso a essa informação e não há costume de recrutadores perguntarem sobre isso.
O custo do curso online ainda é menor do que o do presencial. Como aumentar a receita vinda da educação digital?
Temos três pilares: educação híbrida (presencial e virtual), educação médica e negócios de plataformas digitais, como a Plural, que leva conteúdos de educação básica para os alunos. Os cursos digitais atendem a uma demanda muito grande. Nosso portfólio cresceu 165% no ano. Antes, era preciso fazer uma especialização em marketing digital, mas hoje, oferecemos graduações específicas. Ampliamos o número de polos de atendimento presencial e o investimento em marketing. Temos revendedores dos nossos cursos pelo Brasil, como a Avon faz com cosméticos. A nossa estratégia é ter mais cursos, mais formas de distribuição, como venda para empresas, e mais marketing digital.
Como essa estratégia se relaciona com a busca da Kroton por uma virada nos negócios?
Em 2020, fizemos uma reestruturação importante, focando nos cursos digitais e enxugando custos. Já tínhamos geração de caixa, mas ainda não tínhamos aumento de receita, porque essas mudanças tiveram um impacto. No terceiro trimestre de 2022, depois de 14 trimestres, a Kroton começou a aumentar sua receita.
Qual foi o impacto da entrada da Cogna nos cursos de medicina?
O guidance que demos para este ano era de que a medicina, com 580 vagas, chegaria a R$ 480 milhões em receita. No terceiro trimestre, já tínhamos 83% da receita prevista para 2022. Nosso faturamento é de R$ 5 bilhões, ou seja, quase 10% da empresa vem das faculdades de medicina.
Fusões e aquisições estão no radar da empresa para ampliar os negócios em 2023?
Na educação médica, estamos em estágio de maturação, com abertura de novas vagas a cada ano, até 2027, quando chegaremos a 800. Podemos fazer aquisições para nos ajudar a crescer. Além disso, em 2022, incorporamos o sistema de ensino da Universidade Presbiteriana Mackenzie, que passou a ser operado por nós, e o sistema Fibonacci, que é uma marca nicho que estamos agora levando para o País. Só em 2022, nos vendemos o equivalente aos valores somados dos três últimos anos do Mackenzie e do Fibonacci. Fora isso, nós temos uma área de M&A (fusões e aquisições) que analisa oportunidades. Por meio dela, já investimos R$ 158 milhões em uma startup chamada Educbank, que faz antecipação de recebíveis para escolas. Nossa estratégia é fazer aquisições estratégicas.
Com informações de Estadão Conteúdo
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