O varejo como conhecemos está em constante transformação. À medida que a tecnologia evolui e os hábitos dos consumidores se adaptam ao mundo digital, novas tendências emergem para moldar o consumo dos próximos anos. A pandemia acelerou esse processo e, agora, vemos um mercado onde inovação e personalização não são apenas diferenciais, mas necessidades.
Mais do que simplesmente oferecer produtos, as empresas precisarão criar experiências que reflitam as necessidades e preferências individuais de seus clientes. Essa abordagem coloca o consumidor no centro das decisões estratégicas, fortalecendo a conexão entre marcas e pessoas e tornando a jornada de compra mais relevante e significativa.
Para isso, é importante entender o perfil que moldará os consumidores nos próximos anos. Há quatro perfis distintos já existentes e impactados pelas mudanças sociais, econômicas e culturais, segundo a empresa de previsão de tendências de consumo WGSN: os Neo-niilistas, Redutores, Protetores do Tempo e Pioneiros.
O primeiro grupo é definido pelas desilusões geradas por crises constantes, buscando propósito e controle, além de valorizarem marcas com interesses alinhados e inclusivos. Os Redutores, cansados do excesso digital, priorizam conexões reais e experiências simplificadas, buscando marcas com ofertas concisas e significativas. Já os Protetores do Tempo, pressionados pela sensação de urgência, anseiam por otimizar cada momento, valorizando praticidade, experiências enriquecedoras e comunidades com propósito. Por fim, os Pioneiros, impulsionados pela flexibilidade e autonomia, abraçam o trabalho remoto e o nomadismo digital, buscando imersão em novas realidades, como o metaverso e o gaming commerce.
Compreender as motivações, valores e comportamentos, bem como as necessidades e expectativas desses novos perfis, é o primeiro passo para explorar estratégias criativas e tecnológicas que gerem conexão e engajamento, redefinindo a experiência de compra.
A seguir, compartilho alguns insights que podem transformar a forma como as marcas se relacionam com esses consumidores:
Personalização: a personalização já não é uma novidade, mas, no futuro, ela será ainda mais sofisticada. Com o avanço da inteligência artificial e do machine learning, o varejo poderá entender melhor o comportamento dos consumidores, personalizando desde as recomendações de produtos até o marketing e a comunicação direta. Ferramentas de IA poderão prever até mesmo as preferências de compra antes de o consumidor se decidir, oferecendo uma experiência fluida e quase intuitiva. Essa “hiperpersonalização” será essencial para criar uma relação de confiança e lealdade com os clientes.
Omnicanalidade: para atender onde o cliente está, o conceito de omnicanalidade continuará ganhando força. No entanto, o futuro do varejo irá além de simplesmente integrar lojas físicas e online. A experiência de compra precisará ser coesa em todos os canais, da loja física ao e-commerce, passando pelas redes sociais e até inserida dentro do conceito de metaverso. Um consumidor poderá iniciar uma compra no Instagram, experimentar virtualmente e finalizar a transação no e-commerce. Essa integração total permitirá que o cliente escolha onde e como interagir com as marcas, e o varejo precisará estar preparado para atendê-lo em qualquer contexto.
ESG: além disso, a responsabilidade ambiental e social é uma prioridade entre os consumidores, especialmente entre as gerações mais jovens. Nos próximos anos, o varejo precisará incorporar práticas sustentáveis de maneira genuína. Isso inclui não só o uso de materiais eco-friendly e a redução de desperdício, mas também iniciativas como a logística reversa e a transparência total nas cadeias de suprimento. Marcas que realmente se dedicam à sustentabilidade, mostrando responsabilidade social em suas práticas e colaborando para o bem-estar do planeta, terão uma vantagem competitiva importante.
Social commerce: já o comércio social, impulsionado pelas redes sociais, transformará ainda mais a maneira como consumimos. Plataformas como Instagram, TikTok e YouTube têm se tornado espaços de compra, onde influenciadores e marcas interagem diretamente com os consumidores. O live shopping é uma tendência consolidada em outros países e que está cada vez mais presente em território brasileiro. Essa técnica de compras em tempo real permite que o cliente interaja diretamente com o anfitrião da live, criando uma experiência mais dinâmica e próxima, como se o consumidor estivesse em uma loja física.
Ferramentas de realidade aumentada (RA) e realidade virtual (RV): já estão começando a transformar a experiência de compra. No futuro, essas tecnologias permitirão que os consumidores experimentem roupas, móveis ou até maquiagens sem sair de casa. Imagine experimentar uma peça de roupa virtualmente para ver como ela cai no seu corpo antes de efetuar a compra. Isso não apenas melhora a experiência do cliente, mas também reduz a taxa de devoluções, algo que é uma preocupação crescente no e-commerce.
O futuro do varejo será marcado pela inovação, adaptação e, acima de tudo, pela capacidade de conectar-se com o consumidor em níveis mais profundos. À medida que avançamos, as marcas que souberem se adaptar a essas tendências, colocando o cliente e o impacto social no centro de suas decisões, estarão preparadas para prosperar nesse novo cenário. Mais do que vender produtos, será sobre criar experiências e histórias que façam sentido para o consumidor moderno.
Letícia Vaz é sócia e head de Inovação em Moda da Nuvemshop.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
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