O marco histórico do foodservice e suas oportunidades

O marco histórico do foodservice e suas oportunidades

O segundo trimestre de 2024 trouxe alertas para a economia brasileira. Apesar do baixo desemprego, do rendimento médio em crescimento e da inflação ainda controlada, o Banco Central interrompeu o ciclo de corte de juros, a reforma tributária sinaliza complexidades para o ambiente de negócios brasileiro, e a dificuldade do governo para equilibrar as contas públicas ocasionou uma forte depreciação cambial ao longo do período.

Como consequência, empresas postergam investimentos e o consumo não mostra robustez nem crescimento consistente, criando um clima de incertezas futuras que prejudica tomadas de decisão que poderiam beneficiar o crescimento da economia.

Porém, mais uma vez, o foodservice brasileiro mostrou resiliência. De acordo com o CREST, no segundo trimestre de 2024 o gasto do consumidor no setor atingiu R$ 61,4 bilhões, o maior nível histórico já registrado, crescendo 3% em relação ao mesmo período de 2023. Este movimento foi ancorado principalmente no crescimento de 4% do ticket médio.

Apesar de ter ficado praticamente estável em relação ao segundo trimestre de 2023 (-1%), o tráfego mostrou a melhor performance dos últimos 12 meses e cresceu 25% em relação ao primeiro trimestre de 2024, um avanço robusto ao longo do primeiro semestre deste ano. O ticket médio, por sua vez, embora ainda em patamares elevados, mostra estabilidade nos últimos nove meses, trazendo um alento para o bolso do consumidor.

São resultados que trazem um alento para o setor, cujo tráfego ainda não pegou a tração necessária para uma recuperação consistente, mas existem oportunidades carregadas de desafios.

Ticket estável em níveis elevados

O ticket médio está em suas máximas históricas, no patamar de R$ 19,70, porém estável nos primeiros seis meses de 2024.

É importante explicar que o ticket médio difere do preço praticado pelo operador para cada produto ou oferta, já que ele inclui um mix de produtos da cesta de consumo, quantidade de pessoas na visita e hábitos diferentes.

Um consumidor pode gastar sozinho, por exemplo, R$ 200 em uma visita na compra de dois itens (prato e bebida), ou ir com a família e gastar os mesmos R$ 200 em quatro combos. São perfis de consumo distintos.

Outro ponto importante: os patamares elevados do ticket médio podem ajudar a explicar (não de forma isolada) o consumo ainda retraído. De acordo com o Tomorrow’s Consumer 2023, estudo proprietário da Mosaiclab, 66% dos consumidores brasileiros reduziram sua frequência em restaurantes, bares e delivery porque tiveram que cortar gastos.

Para 30% dos brasileiros, o aumento de preços dos últimos anos foi tão exacerbado que realmente afetou suas decisões de consumo, de acordo com o FoodCompass, novo estudo da Mosaiclab divulgado em Chicago neste ano durante a NRA Show.

Escolhas: consumo cotidiano versus indulgência

O orçamento do consumidor é único, ou seja, é a mesma fonte de renda para incluir gastos com viagens, financiamentos, compra de roupas, móveis, eletrodomésticos, gastos essenciais de casa, transporte e alimentação. Ou seja, o consumidor precisa fazer escolhas no dia a dia para conseguir fechar as contas no fim do mês.

E as escolhas afetarão também o consumo das pessoas quando se fala de foodservice. Refeições matinais e almoço cresceram no segundo trimestre de 2024, em prejuízo às refeições noturnas. Ou seja, o consumidor escolheu entre o consumo útil, necessário e do dia a dia, e o de indulgência, de lazer.

O delivery também caiu no mesmo período em relação a 2023, acumulando quedas consecutivas ao longo dos últimos nove meses, sinalizando a redução do consumo de indulgência à noite, enquanto o consumo no salão, fortemente relacionado ao almoço, ficou estável. Escolhas do cotidiano que seguram o potencial de crescimento do setor.

O desafio permanece: geração de tráfego

Os desafios do lado dos preços, das escolhas e da renda já estão claros. Não faltam inovações nos diferentes elos da cadeia, que hoje têm buscado mais eficiência operacional. Porém, tanto para a indústria, quanto para os operadores fica a provocação: como aumentar a quantidade de transações, de pessoas que frequentam o foodservice?

São oportunidades para a criação de estratégias que contemplem preços mais atrativos, promoções, diferentes públicos e ocasiões de consumo, e entender que o consumidor, ao fazer a escolha de comer algo preparado fora de casa, busca bom custo-benefício, já que seu orçamento é único.

Eduardo Bueno é head de Pesquisa e Inteligência na Mosaiclab, responsável pela pesquisa Crest no Brasil.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
Imagem: Shutterstock

 

Sair da versão mobile