Saúde e educação vivem revolução, diz fundador da Singularity University

Peter Diamandis é um otimista. Conhecido como cofundador da Singularity University e da XPrize Foundation, que dá prêmios em dinheiro como incentivo por soluções tecnológicas para grandes problemas, e como, ele é um empreendedor, investidor e futurólogo que acredita que a tecnologia e as inovações recentes estão nos levando em um caminho sem volta — para o melhor, com um futuro mais brilhante, em que o acesso a recursos, informação e educação serão facilitados.

Entre os dias 13 a 19 de setembro, Diamandis participa do maior evento virtual sobre varejo do mundo, o Global Retail Show 2020, onde vai apresentar suas ideias e discutir como a tecnologia irá impactar, também, essa indústria. Além dele, estão entre os convidados Rudolph Giuliani, assessor de Donald Trump, Matthieu Caloni, das Galerias Lafayette, além de empresários e executivos brasileiros como Abilio Diniz, Artur Grynbaum, Fábio Coelho.

Nesta entrevista, ele fala das teses que defende em seus livros, o best-seller Abundância: o futuro é melhor do que você imagina The Future is faster than you think (O futuro é mais rápido do que você imagina, em tradução livre). Para o autor e investidor, mesmo os problemas que temos encontrado até agora com os maus usos da tecnologia são contornáveis e que as inovações trarão um futuro mais conectado e promissor.

Você advoga que a inteligência artificial e a tecnologia vão impactar drasticamente nossas vidas e negócios. Mas o montante de dados coletados e usados já está começando a nos causar problemas, como vieses de interpretação. Como você acha que iremos passar por isso?

O conceito de viés em inteligência artificial é frequentemente mal interpretado. A inteligência artificial não é enviesada, os dados que a alimentam é que são. Se você apresentar para uma inteligência artificial apenas fotografias de gatos e então mostrar um cachorro, ela vai ter dizer que é um gato. Então é crítico para as companhias, governos e indivíduos avaliem os dados que estão fornecendo, para ter certeza de que não há vieses inerentes. De novo, o viés está nos dados providos, não no algoritmo.

Você já afirmou que veremos um crescimento nos próximos 10 anos maior do que vimos nos últimos 100. O que te faz acreditar que não bateremos em um teto de desenvolvimento e capacidade de processamento computacional?

Nós sempre atingimos tetos, mas todas as vezes que isso acontece há um novo paradigma de capacidade computacional. Hoje, a Lei de Moore [que determina que a capacidade dos computadores dobra a cada 2 anos] está em sua quinta década, mas não estamos na primeira tecnologia de computadores, estamos na quinta. Começamos com computadores mecânicos, então passamos para o retransmissor, depois os tubos a vácuo, então transistores e finalmente circuitos integrados. Ainda haverá uma sexta, sétima e oitava geração. Cada geração ergue um mastro e tem um período de rápido crescimento e depois de desaceleramento, e então pavimenta o caminho para a próxima geração. Então, sim, a Lei de Moore um dia chegará ao fim, mas computação ótica ou quântica, ou algo que ainda nem pensamos, vai em última análise substituí-la.

Você acredita que existam companhias e indivíduos tão à frente em termos de inovação e adoção de tecnologia ao ponto que não podemos mais ter capacidade de competir de igual para igual?

Esse sempre foi o caso, desde o início dos tempos. Os reis e rainhas sempre estavam à frente em termos de acesso à terra e às forças de trabalho. Os barões industriais estavam à frente em termos de ter os recursos e acesso ao capital. Mas cada geração de tecnologia traz consigo novos líderes e uma capacidade de nivelar o campo. Um dos elementos mais importantes sobre tecnologia é que ela está democratizando o acesso e reduzindo custos, no sentido de que tudo se torna mais barato e disponível para mais pessoas. Por exemplo, o acesso à informação costumava ser algo crítico para se ter, mas, hoje, com o Google, até mesmo a criança mais pobre no planeta pode ter acesso a informações que Larry Page, co-fundador do Google, tem.

Que áreas estão melhor posicionadas para tirar vantagem do que você acredita que o futuro será? Quais serão mais impactadas?

Eu acredito que existem duas áreas que merecem e terão as mudanças mais dramáticas: saúde e educação. Ambas são altamente reguladas, sistemas barrocos. Educação e saúde serão completamente reinventadas, dirigidas e transformadas por uma nova geração de inteligência artificial, sensores e redes, que irão reduzir custos essas áreas. Isso irá permitir a melhor saúde e a melhor educação para todo mundo no planeta por um custo efetivamente baixo.

Como a pandemia de covid-19 impactou a adoção de tecnologia nos negócios? Você pode dar exemplo de companhias, indústrias e pessoas que viram na tecnologia uma maneira de se adaptar e passar pela atual situação?

A maioria de nós já experienciou a adaptação de comprar na Amazon ou comprar digitalmente, ‘viajar’ via Zoom e ser capaz de nos virar para o mundo digital para completar muitas das tarefas que estamos realizando no mundo físico. Isso só vai aumentar. No meu livro mais recente, O futuro é mais rápido do que você pensa, eu explico como cada indústria, do transporte ao mercado imobiliário, ao varejo, saúde, educação, entretenimento estão sendo rapidamente digitalizando, desmaterializando, democratizando e cortando custos em produtos e serviços. O benefício é que todos nós, indivíduos e consumidores, ganhamos mais acesso, mais rápido e mais barato. A covid-19 acelerou esse processo, trazendo saúde e educação para dentro das casas. Ao mesmo tempo, empreendedores em capital de risco estão surgindo com novas soluções que nos proporcionam serviços que agora são mais baratos e rápidos do que jamais foram.

Você acredita que nós, como humanidade, não iremos resistir a algum tipo de avanço tecnológico nos próximos anos? Já falamos de vício em tecnologia, por exemplo..

Qualquer tecnologia que nos faça viver de maneira mais eficiente será adotada. Nós precisamos lembrar que a sociedade constantemente resistiu a tecnologias, fosse a palavra escrita, o livro impresso, a televisão. Todas essas coisas foram consideradas problemáticas. Eram gerações que queriam reter a arte da palavra oral, ou que preferiam sentar ao redor do fogo e contar histórias. O desafio à frente é que temos um mundo onde estamos nos preparando para nos conectar de maneira ainda mais substancial com a tecnologia.

Com informações do portal Exame.
* Imagem reprodução

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