A M. Dias Branco, líder em massas e biscoitos no Brasil, anunciou na segunda-feira, 31, sua primeira aquisição internacional, a Alimentos Las Acacias, uma das três principais marcas de massas do Uruguai. Com um portfólio que inclui também molhos, mistura para bolos e outros itens, a Las Acacias tem faturamento anual superior a R$ 120 milhões e margem Ebitda de 14%.
Em entrevista à reportagem o vice-presidente de Controladoria, Investimentos e Relações com investidores da M. Dias Branco, Gustavo Lopes Theodozio, disse que, além de uma série de sinergias, a operação é o “primeiro passo” da companhia em seu plano estratégico de internacionalização. Até então, a atuação a empresa no exterior se dava pela exportação de produtos para mais de 40 países.
“O Uruguai estava nos nossos planos porque, em um processo de expansão, é natural procurar oportunidades em países próximos, depois marcas fortes, empresas com agregação de valor e margens boas. Além disso, é uma cultura diferente, um idioma diferente, ou seja, o primeiro passo para atender um novo consumidor, numa outra língua, que vai habilitar a companhia a seguir com seu plano de expansão”, argumentou Theodozio.
Transição da gestão
A assinatura do contrato e a conclusão da operação foram selados na manhã da segunda-feira em Montevidéu, de acordo com o executivo e o diretor de Relações com Investidores e Novos Negócios da M. Dias Branco, Fábio Cefaly, que passam esta semana na capital do país vizinho. A operação não precisará de aprovação do órgão regulador uruguaio porque, entre outros fatores, esta é a primeira aquisição da M. Dias no país. Segundo Theodozio, os dois irmãos que atualmente administram a Las Acacias permanecerão no comando da companhia por algum tempo, um deles cerca de dois anos, para ajudar na transição da gestão. “A partir de amanhã, já assumiremos a operação, temos um time nosso no Uruguai”, afirmou Theodozio.
A primeira “eventual” sinergia prevista da união de M. Dias Branco com a Las Acácias é um possível fornecimento de farinha produzida pela M. Dias em Bento Gonçalves (RS) para a planta da Las Acacias em Montevidéu, a cerca de 800 quilômetros. Com isso, a empresa sairia da dependência da farinha de trigo uruguaia, atualmente fornecida por um único moinho, conforme Theodozio. “Há um monopólio no Uruguai na moagem de trigo”, disse ele.
Outra sinergia a ser avaliada é lançar no Uruguai biscoitos com a marca Las Acacias, que seriam produzidos na fábrica da M. Dias em Bento Gonçalves. “É uma possibilidade, mas não fizemos estudo de marca ainda para saber se há aderência (da Las Acacias) com biscoitos”, ponderou. Há expectativa, ainda, de obter sinergias com pessoal, delegando a executivos brasileiros, por exemplo, o comando de operações também no Uruguai.
Mercado uruguaio
A M. Dias Branco não divulga o valor pago pela aquisição de 100% das ações da Las Acacias, mas Theodozio destaca a capacidade da companhia de investir e expandir a operação da Las Acacias no mercado uruguaio. “A M. Dias tem capacidade de investimento muito maior do que a Las Acacias, de aumentar a produção no Uruguai, o portfólio de produtos. Sem dúvida, com potencial da M. Dias, seu conhecimento do setor e da cadeia de trigo, a empresa poderá, com novos investimentos, expandir no mercado uruguaio”, afirmou.
A Las Acacias foi fundada em 1952 em Montevidéu pelo empresário Jesús Rega e hoje é gerida pela segunda geração da família. Tem um portfólio amplo de massas secas, composto por cortes longos e curtos com ovos, sêmola de trigo duro, integrais e instantâneos, produzidos na planta própria em Montevidéu, onde também se encontra o centro de distribuição da empresa. Possui 12% de participação de mercado, liderando as vendas no país ao lado de outras duas marcas, e ainda possui frota própria de caminhões para distribuir produtos na capital e interior.
A internacionalização da M. Dias Branco dará condições à companhia de continuar crescendo sem enfrentar resistência do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). “É uma operação estratégica porque (a Las Acacias) está no segmento que conhecemos como ninguém (massas), somos líderes no mercado brasileiro, é uma empresa rentável, vai agregar mais margem. Mas, além disso, já temos um terço deste mercado no Brasil, então qualquer nova aquisição (no País) poderia gerar problema com o Cade”, ressalvou Theodozio. “Se a M. Dias quiser crescer, é importante ter crescimento fora do Brasil”, continuou.
Outra vantagem trazida pelo avanço no exterior é reduzir a exposição às oscilações do câmbio. Theodozio lembra que 60% do seu custo de produção é em dólar, já que o trigo, sua principal matéria-prima, é cotado na divisa norte-americana no mercado internacional. “Hoje eu vendo 100% em real (com os negócios no Brasil). Preciso começar a diluir o risco do dólar, dividir esse risco em outras moedas, ter um balanceamento cambial mais adequado”, explicou.
Crescimento no Brasil
A M. Dias já exportava para o Uruguai produtos de algumas marcas, como Isabela (massas, biscoitos e torradas), Jasmine (snacks saudáveis), Piraquê (biscoitos) e Nikito (biscoitos). “Queremos ampliar globalmente a Las Acacias e, também, a presença das marcas que já distribuímos no Uruguai”, disse Theodozio.
Além da internacionalização, a estratégia da M. Dias envolve outros dois pilares, lembrou o executivo: crescimento no Brasil, com aumento das vendas nas categorias em que já atua, e entrada em novas categorias, inclusive por meio de aquisições.
Com cerca de 20 marcas de massas, biscoitos, torradas, bolinhos e margarinas e 17 unidades industriais no Nordeste, Norte, Sudeste e Sul do Brasil, a M. Dias Branco busca a verticalização da cadeia do trigo. Tem elevada capacidade de estocagem, sete moinhos próprios, o que será benéfico para a operação da Las Acacias, que ganhará escala na compra de insumos.
Novos passos
Questionado sobre novas aquisições e outros países alvo da expansão, Theodozio disse que naturalmente seriam “territórios mais próximos” do Brasil. “Não estou dizendo que o foco seja só a América Latina, tem outros lugares que olhamos também, estamos em constantes conversas, olhando todas as possibilidades inclusive fora da região, mas a América Latina é o mais provável, pela proximidade e conexão cultural. Porém o avanço será sempre consistente com modelo da M. Dias, nada sem pensar, sem cuidado, sempre com muita coerência com o plano estratégico e consistência, um passo de cada vez”, enfatizou.
Cefaly contou que o primeiro contato com a administração da Las Acacias ocorreu em dezembro de 2021, durante uma viagem pela região.
Com informações de Estadão Conteúdo (Clarice Couto).
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