A inexorável automação das lojas

Estamos em Dubai nesta semana entregando um projeto da Gouvêa Consulting, empresa de consultoria estratégica e operações do Ecossistema Gouvêa.

Há tempos os Emirados Árabes são reconhecidos pelo seu altíssimo nível de desenvolvimento em consumo e varejo, liderado pelos principais conglomerados empresariais. A região ostenta os maiores e melhores shopping centers do mundo, abriga todas as grandes marcas globais – massificadas e de luxo – que marcam presença por meio de flagships únicas no mundo.

Em meio ao luxo, espaços instagramáveis, imersos na imensidão de telas, um aspecto chamou a atenção: o uso cada vez maior e mais maduro da automação e robotização das lojas.

Automação do frontoffice

Uma das lojas que visitamos foi o Carrefour City+, inaugurada em setembro de 2021, a loja 100% autônoma é a primeira operação desse tipo do grupo Carrefour em todo o mundo (hoje existe mais uma experiência em Paris, inaugurada em 2022).

Carrefour City + Dubai - Foto: Eduardo Yamashita

A loja segue o mesmo modus operandi e tecnologia desbravada e desenvolvida inicialmente pela Amazon: câmeras instaladas no teto da loja identificam os clientes na entrada e os seguem em toda sua jornada. Pela triangulação de imagens, tudo o que o consumidor faz na loja é registrado e enviado em tempo real para processamento em nuvem. A Inteligência Artificial aplicada à análise de imagem computacional gera modelos precisos (com acurácia superior a 99%) do que o consumidor pegou ou devolveu nas gôndolas da loja, que instantemente é adicionado ou retirado do carrinho virtual. A compra é finalizada e paga via cartão pré-registrado no aplicativo.

Preciso confessar que já estive em algumas dessas lojas e a experiência é sempre interessante e marcante como consumidor, entretanto o que mais tem nos chamado a atenção é a rápida evolução dessa tecnologia.

A primeira Amazon Go foi aberta ao público em Seattle (EUA) em 2018. No momento da sua inauguração, lembro que todo o mercado simplesmente não acreditou que algo parecido com isso seria possível e que a Amazon estaria décadas a frente da concorrência. Agora, no finalzinho de 2022, temos uma infinidade de fornecedores oferecendo a mesma tecnologia, por uma fração do preço inicial e quase sendo tratado como commodity. Da mesma maneira que qualquer varejista pode escolher ou comprar diversas soluções de frente de caixa, o mesmo acontece agora para as lojas autônomas.

A loja que visitamos em Dubai, por exemplo, tem sua tecnologia desenvolvida pela AiFi, empresa de tecnologia baseada na Califórnia (EUA) e que já tem 82 lojas operacionais usando sua tecnologia, que é vendida como SaaS (software as a service). O varejista compra as câmeras, instala na loja, as conecta à internet e passa a usar o sistema diretamente da nuvem pagando um valor de assinatura mensalmente – que entra como Opex no P&L.

A própria Amazon tem reportado enorme evolução da sua tecnologia. Nas primeiras lojas em 2018 o investimento era de exorbitantes US$ 4 milhões por loja (de cerca de 100 m²). Com o passar dos anos, esse investimento foi reduzido para US$ 1 milhão por loja em 2020 e agora, em 2022, beira “apenas” US$ 150 mil por loja do mesmo tamanho. Outras soluções no mercado estão na mesma ordem de grandeza de investimento por loja, algo na casa de US$ 300 mil a US$ 100 mil por loja. A chave para a redução do investimento foi a ampla melhoria do sistema de câmeras com melhor campo de visão (reduzindo drasticamente o número de câmeras que precisam ser instaladas). A melhoria da IA e da visão computacional também permitiu que os sensores de peso não sejam mais necessários nas gôndolas para aferir que o consumidor pegou ou devolveu um item. Houve, ainda, grande redução de necessidade de intervenção humana para eventual análise de imagens.

No Brasil

No mercado brasileiro as soluções mais populares e com forte expansão são os modelos em que os clientes pegam os produtos e precisam escaneá-los em algum tipo de dispositivo – toten, celular –, mostrando ao sistema que estão comprando aqueles itens. São inúmeras empresas entrando e expandindo suas operações nesse mercado.

No modelo de lojas 100% autônomas como as que descrevi anteriormente, a primeira e única da América Latina foi inaugurada em Curitiba, em novembro de 2022, pela rede Muffato.

Batizada de Muffato Go, a loja tem 250 m² e 2.000 SKUs. Com 500 câmeras e 3.900 sensores instalados, a empresa reportou que foram 3 anos de projeto com um investimento de total de R$ 10 milhões. A tecnologia é da empresa portuguesa Sensei, que fornece a tecnologia para outros varejistas globalmente como a Sonae em Portugal – que, aliás, também opera sua loja 100% autônoma chamada de Continente Labs.

Automação do backoffice

Tivemos a chance de visitar outras lojas que, por sua vez, estão focando na automação dos processos e da gestão, conceito na minha opinião ainda mais interessante que o foco no frontoffice. Mas, pela limitação de espaço, vou deixar essa pauta para o meu próximo artigo aqui na Mercado&Consumo – não percam!

Eduardo Yamashita é COO da Gouvêa Ecosystem
Imagens: Eduardo Yamashita

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