Desde a Revolução Industrial, o homem tem sido ao longo do tempo o principal responsável pela degradação ambiental no mundo. Com isso, as formas de se mensurar o sucesso da atividade de uma empresa têm mudado constantemente. Nas companhias mais modernas não há mais dúvidas: a geração de lucro com foco exclusivo nos acionistas deu lugar à geração de valor com um olhar amplo para todas as partes interessadas – os stakeholders –, tais como funcionários, clientes, fornecedores, parceiros, sociedade e, de forma importante, o meio ambiente.
Isso fez com que algumas vertentes da economia começassem a entender que a avaliação da qualidade de vida e da prosperidade das nações também precisava ser ajustada de uma análise simples de PIB per capita para algo mais amplo que abordasse também aspectos de desenvolvimento social como saúde, educação e equidade. E isso muda tudo. Saímos de uma avaliação da economia de forma linear para uma avaliação circular, ou em forma de “donut” (rosquinha).
Mas, afinal de contas, o que é a economia Donut e por que ela é fundamental nas empresas?
O conceito de economia Donut surgiu há algum tempo e foi criado pela economista Kate Raworth. Trata-se de um modelo de desenvolvimento que foge das barreiras tradicionais e se apresenta como rosquinha, sendo que o centro representa aspectos sociais e a borda contempla os limites do planeta, como mudanças climáticas, poluição, escassez de água e outros. E, nesse conceito, a medida de sucesso passa a ser mais ampla, pois inclui satisfazer as questões sociais sem degradar recursos do planeta e, ainda, trazer resultado.
Por que estou trazendo esse tema? Porque se essa é a real medida de sucesso, precisamos saber como alcançá-la enquanto empresa e enquanto nação! E a resposta tem sido a implantação da governança social, ambiental e corporativa nas empresas, o famoso ESG.
Não existem modelos específicos relacionados a mercados ou comportamentos humanos para seguir o modelo Donut. Cada empresa deve trabalhar em ações específicas, de acordo com o segmento em que está inserida, para cumprir essas metas e estar alinhada ao que prega esse conceito.
Pensa comigo: até hoje, os principais modelos econômicos do século XX são neoclássicos. Seu foco principal é o fluxo de dinheiro apenas. Outros aspectos, como pessoas, sociedade, cultura e meio ambiente, são deixados de lado.
Diante da sobrecarga de todos os sistemas da Terra, não é mais viável pensar assim. As companhias precisam investir, mais do que nunca, em práticas ESG para se tornarem sustentáveis e ganharem valor de mercado.
Agora, a sustentabilidade está no centro das decisões de investimento.
“ESG não se trata de política. E nem de justiça social. É capitalismo”, como já disse Larry Fink, CEO da BlackRock. Segundo ele, ESG nada mais é do que relacionamentos mutuamente benéficos entre você e os funcionários, clientes, fornecedores e comunidades das quais sua empresa depende para prosperar.
Quer a prova de que essa abordagem funciona e traz o tão buscado retorno para os acionistas? Em estudos conduzidos pela Universidade de Oxford com mais de 200 empresas, elas relataram que tiveram redução do custo de capital, melhoraram o desempenho operacional e tiveram valorização das ações por praticarem a sustentabilidade. A relação entre investimentos em sustentabilidade e performance financeira é direta e real.
E, para inserir isso no contexto das empresas, é importante sair do discurso, trazendo o ESG para ser conduzido de perto pela diretoria executiva da empresa, com métricas claras e, por que não, também relacionando as ações à remuneração desses executivos. Isso tudo alinhado ao engajando dos stakeholders nesse processo, sempre com visão de longo prazo.
Parece difícil. Te digo que sim, é. Mas, como dizia Michael Porter: “Onde estão os maiores problemas do mundo estão também as maiores oportunidades do mundo.” Está pronto para descobrir onde elas estão?
Lyana Bittencourt é CEO do Grupo Bittencourt.
Imagens: Shutterstock e Reprodução