Os desafios estruturais do trabalho no mundo pós-IA. Em especial no varejo e hospitalidade

Momentum Nº 1.105-2

Os desafios estruturais do trabalho no mundo pós IA. Em especial no varejo e hospitalidade

“No Brasil e nos Estados Unidos, os indicadores de desemprego estão nos seus patamares históricos mais baixos, com tendência de continuidade de queda. E com um cenário em que se antevê a potencial substituição de mão de obra por tecnologia potencializada pela Inteligência Artificial (IA), ao mesmo tempo em que parte das novas gerações discrimina empresas com menor flexibilidade no vetor de home office.

No setor de tecnologia, a diferença cambial entre economias mais e menos desenvolvidas privilegia o multiemprego, ou seja, poder trabalhar para mais de uma empresa do setor em diferentes geografias.

No Brasil, os diferentes programas de auxílio que atendem perto de 21 milhões de famílias desestimulam o vínculo formal de emprego via CLT. Ao mesmo tempo em que os custos sociais atrelados ao emprego formal ajudam a alavancar o microempreendedorismo individual ,que já reúne perto de 15 milhões de pessoas. E em crescimento.

Algumas são questões globais que transformam de forma definitiva o cenário estrutural do emprego. Outras são mais locais e contribuem para ampliar a magnitude do desafio. E que nos setores de varejo e hospitalidade, no âmbito global e na realidade brasileira, têm problemas ainda maiores pelas questões que envolvem trabalho nos fins de semana ou as limitações do home office.

Para além de tudo isso, os hiperempoderados omniconsumidores pelo aumento da oferta e mais os recursos da IA aumentam a demanda por mais experiência, interação e toque humano nas suas relações com produtos e marcas nos diferentes canais.”

Para ampliar a dimensão dos desafios, é fundamental levar em conta que os cenários mais competitivos pela ampliação da concorrência e foco no valor pedem estruturas e processos mais enxutos, simples, racionais e, mais importante, com alta produtividade.

Tudo para enfrentar uma realidade em que a percepção de valor está exacerbada e é fator crítico na decisão de escolha e compra de produtos e serviços.

Em tese a tecnologia, em especial aquela potencializada pela IA na linha de frente e na retaguarda dos negócios, torna-se fator decisivo para encontrar caminhos para, ao mesmo tempo em que racionaliza e torna tudo mais eficiente, pode oferecer soluções, experiências e interações que possam diferenciar e atrair nos diferentes canais, categorias e modelos de negócio.

É nisso que Amazon, Whole Foods, Costco e Target nos EUA; Samsung, Hyundai e Shinsegae na Coreia; ou Carrefour, Tesco, El Corte Inglés e Ikea na Europa têm concentrado ainda mais atenção. Por aqui Magalu, Renner, Riachuelo, Assaí, Track & Field, RD e Boticário também têm investido atenção e ainda mais recursos em busca de soluções.

Da mesma forma como todas as redes de restaurantes e hotéis do mundo, começando pelo fast-food, mas chegando até os hotéis de luxo e até mesmo cruzeiros, têm concentrado mais investimentos e inovações em busca de soluções.

Os novos omniconsumidores são também nossos funcionários

Temos dedicado muita pesquisa, projeções e estudos no avaliar as mudanças nas expectativas, ambições, comportamentos e experiências do omniconsumidor global e local e muitas vezes esquecemos que esses mesmos também são os nossos colaboradores e funcionários, que se transformam e geram um cenário de ainda maior complexidade à frente.

Essas transformações nos obrigam um repensar disruptivo em praticamente todos os aspectos.

É preciso encarar a transformação estrutural do emprego no mundo reconfigurada pela IA e rever modelos de organização, gestão, interação, carreira, desenvolvimento pessoal, crescimento, atualização, remuneração, relacionamentos e ambiente de trabalho nas esferas profissional e empresarial de uma forma muito mais ambiciosa e conectada.

Considerando os desafios impostos pelas mudanças e que são potencializados pela necessidade das organizações serem mais competitivas na sua atuação e oferta. Ao menos no âmbito do consumo, comércio e varejo.

E pode ser pior

Quando no Brasil alguns levantam temas envolvendo a volta da contribuição sindical – um dos pontos de relevante evolução trazidos pela Reforma Trabalhista de 2013 -, temos certeza que o que está difícil pode ficar ainda pior pela alienação crônica instaurada.

Como todos os desafios do presente, é preciso reconhecer que sua complexidade, amplitude e profundidade exigem ações, estudos e busca de soluções integradas, envolvendo as diferentes categorias, canais, modelos de negócios e organização.

Vale a reflexão. E a ação. Conjunta.

Notas:

  1. O grupo Proposta para a Nação, que reúne 22 entidades nacionais dos setores de varejo, comércio e consumo, estabeleceu como meta de sua principal contribuição para o período 2025-26 um foco direcionado para o tema Transformação Estrutural do Emprego para apoiar em busca de soluções o País, as empresas e negócios representados por essas entidades, assim como os governos em todos os níveis.
  2. Em março, estaremos na China em Missão Técnica 360 que culminará com a realização do 1º Asia-Latam Retail Summit em Shangai no dia 28 em correalização com a Associação Chinesa de Varejo e Franquias.
  3. E em maio e junho estaremos em Missão Técnica envolvendo Coreia do Sul e Singapura.

Marcos Gouvêa de Souza é fundador e diretor-geral da Gouvêa Ecosystem e publisher da plataforma Mercado&Consumo.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.

Imagem: Shutterstock

Sair da versão mobile