A aprendizagem constante ou ‘milagres’ de um dia

A aprendizagem constante ou ‘milagres’ de um dia

O mundo se atualiza em alta velocidade. As pessoas querem respostas com rapidez. Empresas pressionam executivos por resultados em cada vez menos tempo. A tecnologia já trouxe uma novidade enquanto você leu as primeiras palavras desse texto. Velocidade real ou pressa?

Velocidade é um movimento ou deslocamento rápido. Pressa é a falta de paciência ao agir; uma precipitação ou afobação.

A maioria dos leitores vai afirmar, categoricamente, que o mundo de hoje exige velocidade e que a pressa fica na conta de quem não tem experiência profissional.

Faço um desafio: em relação ao seu desenvolvimento pessoal, você busca velocidade ou tem pressa? Pense bem na resposta. Não diga apenas sua opinião sobre o tema. Responda com o que você coloca em prática na sua vida.

Os avanços no mercado de trabalho são constantes, e o profissional que não buscar atualizações, vai ficar pra trás. Neste cenário, há alguns anos, o mundo corporativo apresentou o conceito de lifelong learning, ou seja, o aprendizado ao longo da vida. É a priorização da educação contínua. É a ideia de que os estudos devem ser permanentes, e não apenas durante um período específico.

Os grandes executivos do mercado afirmam, em dezenas de palestras e entrevistas em podcasts, que praticam esse conceito e buscam passar essa ideia para seus colaboradores.

Se o aprendizado acontece ao longo de uma vida, é contínuo e permanente, a pressa deve passar longe. Alguém sem paciência, afobado e precipitado não conseguirá se desenvolver com qualidade.

E aqui vai uma provocação que vai gerar polêmica. Os apressados são aqueles que fazem uma imersão de dois dias e afirmam que o treinamento valeu por um MBA de dois anos. Isso não é velocidade. Isso é pressa.

Aprender algo significa aplicar um conhecimento adquirido, em todas as circunstâncias possíveis. Ter acesso a uma ferramenta de gestão e uma dica de um mentor não fará você aprender algo. Com certeza, a ferramenta e o conselho vão te ajudar a adquirir uma informação importante, mas você precisa aplicar tudo isso em diversas situações diferentes para ver se aprendeu mesmo.

Pense no seguinte exemplo: um renomado chefe de cozinha te passa uma receita criada por ele de um prato premiado no mundo todo. Ele te informa quais são os ingredientes e faz uma descrição do modo de preparo. Você anota tudo ou leva um documento pronto.

Quando chega em casa, você vai se aventurar a fazer. Ao terminar, percebe o óbvio: não ficou igual ao do renomado chefe. A temperatura exata do fogo, a medida certa de cada ingrediente, a forma de misturar e o tempo de mistura, de descanso e de resfriamento não são iguais. Mas ainda tem o principal: a experiência do chefe. Ele criou a receita e a produziu milhares de vezes. Ele errou várias, perdeu material, mudou ingrediente, fez de novo e errou de novo até chegar num modelo.

Ao pegar o modelo dele, sem dúvida, você pulou algumas etapas, mas ainda não sabe se virar em todas as adversidades que podem surgir no momento de produzir a receita.

Fica muito claro que a pessoa não quer aprender algo; a pessoa quer o conteúdo do milagre de um dia. A pessoa não quer o lifelong learning. Ela quer uma mágica, ou seja, que tudo aconteça numa imersão de dois dias.

Com apenas um curso, por melhor que ele seja, ninguém se transforma em alguém vitorioso, cheio de reconhecimento, que trabalha em alto nível de excelência, que sabe liderar pessoas, formar times de alta performance e fazer uma gestão financeira eficiente.

Isso não é lifelong learning, isso não é velocidade. Isso é pressa, afobação, precipitação e falta de paciência ao agir.

E a velocidade?

A velocidade deve estar presente. Errar rápido é importante. Ao perceber o erro, faça o deslocamento e busque alternativas. Não perca tempo com duas horas de Instagram por dia.

Constantemente, faça uma análise de suas prioridades. Tenha foco. Seja constante e consistente. Cuide de sua saúde, esteja ao lado das pessoas que ama. Tenha maturidade para saber que, mesmo fazendo tudo isso, não há garantias de sucesso.

O mundo exige de você a tal velocidade. Saiba diferenciá-la de pressa e busque seu desenvolvimento. Ser paciente não é ser lento. Ser rápido não é ser apressado.

Que busquemos mais maturidade e menos papo furado de internet.

Rodrigo Maia dos Santos é CEO da Gonow1.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
Imagem: Shutterstock

 

Sair da versão mobile