Poucos setores do varejo têm se esforçado tanto para orientar suas estratégias de negócio por fatores ambientais, sociais e de governança (environmental, social and governance – ESG) quanto a indústria da moda e do vestuário. Tendo sua imagem nos últimos anos crescentemente associada a problemas como produtos de baixa qualidade e praticamente descartáveis, exploração de mão de obra e uso de tecidos com fibras de plástico que se soltam na lavagem, o setor tem reagido a esse escrutínio com políticas de ESG auspiciosas. Um exemplo consistente desse movimento pode ser observado nas ações da rede varejista C&A.
Com cerca de 300 lojas no País e vendas líquidas de cerca de R$ 4 bilhões em 2020, nos últimos anos a empresa vem obtendo resultados positivos com a implementação de uma série de iniciativas. A diretora de Pessoas & Inovação da C&A Brasil, Fernanda Campos, explica que, em termos de matérias-primas e processos produtivos dos itens de vestuário, a rede tem conseguido acelerar seus patamares de sustentabilidade sob diferentes indicadores.
“De 2015 a 2020, chegamos a mais de 90% dos produtos de algodão com algodão adquirido como mais sustentável, mais 60% de matérias-primas de origem mais sustentável, mais de 80% de produtos comercializados vieram de empresas que participam do nosso programa de segurança química e mais de 85% dos produtos comercializados vieram de fornecedores com melhores classificações.”
Além disso, Fernanda diz que, em outubro de 2020, a rede lançou a primeira coleção de jeans com a Certificação Cradle to Cradle (C2C) em nível Gold produzida no Brasil. Chamada de Ciclos, a coleção foi desenvolvida após cerca de dois anos de trabalho junto aos fornecedores . Com este lançamento, a C&A tornou-se a primeira varejista de moda nas Américas a lançar produtos feitos no Brasil com esta certificação internacional, que assegura que cada peça foi desenvolvida com materiais e produtos seguros, circulares e feitos de forma responsável.
Coleção Ciclos
A peça certificada da coleção Ciclos, prossegue Fernanda, foi produzida com algodão mais sustentável e insumos químicos seguros, além de fomentar o uso de energia renovável e a gestão de água no processo de produção. “Por fim, o projeto também olha para a comunidade e para as pessoas envolvidas com o desenvolvimento e a capacitação dos fornecedores envolvidos, que estão prontos para seguir diretrizes internacionais.”
Outra ação da C&A voltada a garantir fornecedores alinhados às melhores práticas de trabalho e gestão foi a parceria com a fornecedora de jeans Lorsa e a empresa espanhola Jeanologia. Essas empresas apoiaram a rede no lançamento de coleções jeans com redução média de 80% no uso de água no processo de lavanderia a partir de um software. Outra parceria foi firmada com o Enjoei para incentivar a economia circular. “Essas e outras iniciativas fazem parte da nossa Plataforma Global de Sustentabilidade, em que o nosso maior objetivo é construir uma moda consciente e com impacto positivo para a sociedade”, salienta Fernanda.
Sobre possível preço final mais alto de peças desenvolvidas com algodão certificado e processos que minimizam o impacto ambiental, Fernanda afirma que na C&A não há esse tipo de diferença. “Não repassamos os acréscimos destes custos à consumidora. Essa iniciativa faz parte do movimento da empresa de oferecer uma moda acessível e sustentável para todas as nossas clientes.”
Monitoramento dos fornecedores
A Plataforma Global de Sustentabilidade, que norteia as ações e metas da companhia relacionadas à sustentabilidade em todos os países onde a C&A está presente, incluindo o Brasil, tem rede de fornecimento como um dos seus pilares. “Especificamente dentro deste pilar, chamado Rede de Fornecimento Sustentável, a companhia atua na busca por garantia de condições de trabalho justas e seguras para sua rede, por meio do monitoramento e desenvolvimento constante das unidades de produção em nossa cadeia”, explica Fernanda.
Neste sentido, a C&A conta com um processo de auditoria e monitoramento de fornecedores, por meio de um checklist que verifica a implementação de seu Código de Conduta para o Fornecimento de Mercadorias. “Além disso, implementamos o Programa de Monitoramento Participativo da C&A com o objetivo de tornar os fornecedores protagonistas, emponderando-os, capacitando-os e disponibilizando ferramentas para seu próprio monitoramento. Acreditamos que somente juntos conseguiremos construir uma jornada em prol de uma moda com impacto positivo”, ressalta a executiva.
Em abril deste ano, com a implantação da tecnologia blockchain, a C&A deu mais um passo para intensificar o monitoramento de seus fornecedores. “Com ela, o sistema da C&A e dos nossos fornecedores será integrado em tempo real, conferindo visibilidade para a produção de cada peça, do começo ao fim, de forma clara, ágil e prática”, explica Fernanda.
Economia circular
Outro ponto destaque na política de ESG da C&A é a implementação do conceito de economia circular na operação da rede. Nesse sentido, a empresa criou em 2017 o Movimento ReCiclo. Hoje presente em 170 lojas físicas da C&A, a iniciativa conta com urnas para a arrecadação de roupas de qualquer marca. Os itens podem ser enviados ao Centro Social Carisma, que fica em Osasco e fomenta projetos comunitários, à Amigos do Bem, instituição que promove a transformação de comunidades por meio de projetos no sertão do Nordeste) ou à reciclagem via Retalhar, negócio social responsável pela manufatura reversa das peças que encaminha o tecido para transformação em matéria-prima.
“Desde a criação do Movimento ReCiclo, há quase quatro anos, mais de 100 mil peças foram arrecadas, o equivalente a cerca de 27 toneladas. Deste total, cerca de 70% foram encaminhados para reutilização e 30% para reciclagem”, informa Feranda.
Os sistemas de iluminação das lojas físicas da rede também recebem atenção especial no contexto das políticas ambientais. “Hoje, dentre as varejistas de moda do país, a C&A é a que aparece com maior número de unidades consumidoras no Mercado Livre de Energia – que fornece energia advinda de fontes renováveis, como pequenas centrais hidrelétricas, usinas solares e eólicas”, conta a dirigente. Somente em 2020, cerca de 200 lojas foram habilitadas para recebimento de energia limpa por meio desta modalidade.
Além disso, a C&A anunciou a construção de duas usinas solares em parceria com a Faro Energy, empresa que realiza investimentos em projetos de energia solar distribuída e eficiência energética no Brasil para o abastecimento exclusivo de suas lojas por dez anos. Inicialmente, as usinas abastecerão 11 lojas da C&A localizadas no Rio de Janeiro e em Brasília.
“A partir do uso de energia solar proveniente das usinas, anualmente a C&A evitará a emissão de 1,8 mil toneladas de CO2, montante equivalente ao plantio de 11 mil árvores ou menos mil veículos, com média de 12 mil km rodados cada, circulando pelas estradas brasileiras. Estimamos, ainda, uma economia potencial de cerca de R$ 20 milhões até o final do contrato, além dos ganhos ambientais, como redução das emissões dos gases de efeito estufa e a obtenção de energia renovável.”
Diversidade dos funcionários
A empresa também tem dado especial importância à diversidade de seu quadro de funcionários, outro pilar da política de ESG. A C&A possui desde 2017 um Comitê de Diversidade e tem parceria com organizações como TransEmpregos e Indique Uma Preta. A ideia é incorporar cada vez mais profissionais que fazem parte destes grupos, fortalecendo a diversidade.
Atualmente, mais de 50% do quadro da empresa é composto por negros. Fernanda também destaca a presença da diversidade nas peças publicitárias da marca, lembrando que a C&A teve um dos primeiros garotos-propaganda negros do País (o ator e dançarino Sebastian) e campanhas com a cantora Pablo Vittar.
Por fim, a executiva destaca na parte de governança corporativa as ações da companhia frente às recomendações e orientações da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais. A ideia é assegurar a privacidade dos clientes e funcionários, com a implementação nos próximos meses de um novo canal de denúncias para casos de desvios de condutas éticas, de intolerância e preconceito. “Esse novo modelo de canal de denúncias trará uma maior celeridade na apuração e análise das denúncias, bem como contribuirá para maior credibilidade e confiança na relação entre C&A e denunciante”, conclui a executiva.
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