Com os consumidores cada vez mais conscientes e exigentes em relação à origem e ao impacto dos alimentos que consomem, o setor de alimentação está sendo desafiado a adotar práticas mais sustentáveis e éticas, com o potencial de transformar a produção e o consumo de alimentos.
Um dos principais desafios do setor é reduzir o desperdício de alimentos. Segundo o IBGE, 30% dos alimentos produzidos são desperdiçados por ano. Foi a partir do inconformismo de ver o desperdício diário de alimentos quando era proprietário de uma franquia do Carrefour na Espanha, em 2021, que Lucas Infante decidiu voltar ao Brasil e criar a Food to Save, um aplicativo que atua como um elo entre os estabelecimentos que possuem alimentos para consumo imediato, que estão próximos da validade ou fora do “padrão estético”, mas ainda estão adequados para o consumo, e clientes engajados com o consumo consciente. Esses alimentos são vendidos em sacolas surpresas com um desconto entre 50% e 70%.
“Iniciamos o projeto no varejo porque identificamos uma dor. Desde o início, a nossa preocupação foi criar uma solução que fosse fácil para o varejo”, conta Infante no segundo dia do Connection Foodservice, evento realizado no Hotel Jequitimar Guarujá, no litoral paulista, para apresentar detalhes da cobertura feita pela MERCADO&CONSUMO da NRA 2024, em Chicago.
As parcerias ocorrem com vários estabelecimentos do ramo alimentício, entre supermercados, padarias, restaurantes, docerias, hortifrutis locais, entre outros. E agora a Food to Save tem feito parcerias para mobilizar a indústria. “Começamos a conectar várias pontas para que a gente consiga mobilizar toda a cadeia”, conta.
Infante destaca que a Food to Save consegue atuar em 12% da cadeia, o que é bastante significativo diante dos 50milhões de toneladas de alimentos que são desperdiçados por ano.
“Não pode ser fachada. O inconformismo tem que ser essência. A gente é muito obcecado pelo desperdício de alimentos e é por isso que estamos aqui”, diz.
Transformando realidades
Foi com o propósito de fazer a diferença que a Dengo foi criada, em 2017, por Guilherme Leal, um dos donos da Natura. Ao chegar na Bahia com o desejo de construir uma casa de veraneio, Leal ficou chocado com a realidade social da comunidade e decidiu transformar a realidade daquelas famílias.
Para produzir um chocolate de qualidade, a Dengo entendeu que era preciso que o produtor fosse pago de forma justa. “A gente convida as famílias, pequenos e médios produtores, ensina a fazer o cacau premium e paga, em média, o dobro do preço da commodity que é vendido na Bolsa”, conta Ana Laura Masini, gerente de Marcas e Sustentabilidade da Dengo, no Connection Foodservice.
Em 2023 pagou, em média, 105% do valor acima da Bolsa para os seus produtores. O projeto está alinhado com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), do Pacto Global da ONU, e tem como meta atingir 3 mil dos 9 mil produtores da região do Sul da Bahia.
Ana Laura também destaca a importância de um senso de incomodo para impulsionar a mudança, questionando se o lucro máximo é realmente necessário quando se trata de construir um futuro mais sustentável e inclusivo. “Talvez a gente não tenha o mesmo lucro, mas será que a gente precisa disso?”
Imagem: MERCADO&CONSUMO