O mercado global de luxo atingiu o valor de € 345 bilhões, ou cerca de US$ 374,50 bilhões, em 2022. O número é recorde, segundo um estudo realizado pela Bain & Company no Hemisfério Norte e apresentado à Altagamma, associação italiana de fabricantes de artigos de luxo. O estudo ainda prevê um crescimento contínuo nesse setor, apesar das tensões geopolíticas e das incertezas no cenário macroeconômico.
Esse crescimento se deve a uma série de fatores que foram considerados pelo levantamento da Bain, como a gradual diminuição da hiperinflação, a recuperação da confiança do consumidor europeu, a reabertura do mercado na China e a suspensão das restrições de política de tolerância zero em relação à covid-19, antes das compras para o Ano Novo local. Além disso, o bom momento econômico do Japão e do Sudeste Asiático, impulsionado pelo turismo na região, também contribui para esse crescimento.
“A indústria do luxo está passando por uma nova fase depois do crescimento pós-pandemia, com novos indicadores de resiliência, estabelecendo quem ganha e quem perde”, afirma Claudia D’Arpizio, sócia da Bain & Company e líder da Prática Global Luxury Goods and Fashion da Bain.
Porém, nos Estados Unidos, é esperada uma desaceleração devido à cautela dos consumidores diante da possibilidade de uma recessão.
Perspectivas regionais
Nos EUA, os consumidores estão evitando gastos devido às incertezas econômicas e ao encerramento do auxílio financeiro disponibilizado durante o período pandêmico, apesar de o País manter uma reserva econômica de US$ 900 bilhões. Sendo assim, eles estão priorizando compras de artigos de vestuário mais formais e para ocasiões especiais.
No entanto, em Nova York e Califórnia, o mercado de luxo está passando por um processo contínuo de reequilíbrio, e destinos de férias como Havaí e Las Vegas ainda estão distantes dos picos alcançados em 2019, mas estão em processo de recuperação.
Na Europa, o ano começou de forma bastante expressiva para o mercado de luxo, com um alto desempenho mantido pelos grandes consumidores. No entanto, o próximo verão será um momento decisivo para o faturamento do setor na região, pois é nesse período que uma grande quantidade de turistas vindos dos EUA e Oriente Médio visitam o continente, o que representa uma oportunidade importante para as vendas de produtos de luxo. Além disso, a Europa também contou com o retorno de turistas chineses nos últimos meses, o que também impulsionou o setor.
O mercado asiático está passando por um momento de reorganização. Foi registrado um crescimento na China no primeiro trimestre, que deve se manter em alta este ano, com algumas marcas alcançando novamente os níveis de 2021. Em Hong Kong e Macau, foram observadas fortes acelerações, principalmente devido ao interesse turístico dos chineses desde a reabertura do país.
O Sudeste Asiático registrou um crescimento impulsionado pelos gastos dos turistas russos e consumidores chineses, além de um aumento significativo nas compras de joias e relógios, resultando em um ganho de aproximadamente € 12 bilhões (US$ 13,06 bilhões) em valor de mercado em 2022. Por outro lado, a Coreia do Sul está equilibrando os gastos da população em relação às compras internacionais.
No Japão, o mercado de luxo continua em ascensão, com os consumidores locais economizando em gastos, mas um alto crescimento impulsionado pelo turismo, resultando em um valor de mercado de cerca de € 24 bilhões (US$ 26,12 bilhões) em 2022.
Categorias mais procuradas
A categoria de “busca por elevação”, apresentada pela pesquisa, demonstra uma preferência por peças superluxuosas, em que os clientes buscam comprar em menor quantidade, porém com maior qualidade. Os relógios e joias luxuosas são as categorias mais procuradas. As bolsas continuam impulsionando os gastos, sendo cada vez mais consideradas artigos de valor.
Na Ásia, o crescimento mais significativo foi observado nos sapatos, enquanto no restante do mundo eles estão em constante desaceleração. Na perfumaria, os gastos são impulsionados por ofertas específicas, enquanto os produtos de maquiagem e cuidados com a pele mantêm uma trajetória positiva.
“As marcas que desejam ter sucesso precisam estar focadas de forma holística nos consumidores; equilibrar sua exposição em cada região; oferecer propostas de alto valor com a entrada de novos clientes e promover experiências em escala, além de impulsionar peças icônicas, atemporais e atrativas”, comenta Claudia.
Expectativas para o setor
É previsto que o mercado de luxo cresça entre € 360 e € 380 bilhões em 2023, acima dos € 345 bilhões registrados em 2022. O levantamento da Bain e da Altagamma estabelece dois cenários possíveis:
- Cenário positivo: apresenta um cenário de crescimento sólido em 2023, impulsionado pela recuperação da China e pelo crescimento sustentado na Europa e nas Américas. Prevê-se um aumento nas vendas do mercado de bens pessoais de luxo entre 9% e 12% em relação a 2022.
- Cenário realista: apresenta um crescimento geral impactado de forma mais severa por uma desaceleração em mercados consolidados, o que pode ter um efeito negativo nos gastos dos clientes de luxo, assim como por uma recuperação mais lenta na China. Diante desse cenário, prevê-se um aumento nas vendas do mercado de bens pessoais de luxo entre 5% e 8% em comparação com o ano de 2022.