Conversando com os nem-nem da política

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Conversando com os nem-nem da política

Temos ficado particularmente surpresos com o número de pessoas bem preparadas e esclarecidas, que dizem que não vão escolher nenhum candidato caso os dois líderes das pesquisas atuais sigam para o segundo turno. Os chamados nem-nem.

Logicamente, é um direito inalienável pessoal, mas votar branco ou nulo é se omitir e uma forma simplista de transferir os problemas para outros e deixar que decidam por quem se omite.

Talvez um pouco pior.

É resolver seu problema pessoal de consciência (eu não escolhi!) e deixar que os problemas sociais, econômicos, de segurança, saúde, educação e sustentabilidade do País sejam resolvidos por quem decidiu por você quem será eleito. Porque alguém será.

É, de certa maneira, muito egoísmo em relação à sociedade, com sua família, amigos e com o País.

Normalmente, temos percebido esse comportamento em pessoas com ótimo nível de educação e que estão bem financeiramente. Que podem escolher onde e com quem vão jantar hoje. Podem viajar e conhecer o mundo. Que tem acesso a tudo que o moderno e atual pode oferecer em termos de tecnologia.  Que tem inúmeras opções de lazer e entretenimento e que tem o direito adquirido de escolher o que é melhor para si.

Mas, ao se omitirem, já fizeram uma opção pelo lavar as mãos e deixar que tudo o mais se arrume por si.

Toda discussão ligada a opções políticas é na sua essência uma discussão difícil pois envolve sentimentos, percepções, crenças e convicções.

E como é sabido, nada mais complexo do que discutir preferências.

Mas num momento crítico como o que vivemos no País, com seus crescentes desafios e oportunidades, quando o mundo vive o intenso drama envolvendo inflação, acesso à energia, alimentos e combustíveis, não deveria ser assim.

Com tanta desigualdade e carências nas áreas de educação, saúde e segurança.

Com contingentes de brasileiros que não têm o que comer.

Com os desafios envolvendo os temas sustentabilidade e crescimento sustentável.

Com tudo isso, se omitir é um direito, sim, mas é egoísta demais.

Não importa se seu candidato ou candidata, que mais representa suas ideias e visão do mundo não for para o segundo turno. Isso não deveria significar lavar as mãos e ficar fora da continuidade do processo, simplesmente optando pelo voto nulo ou em branco.

Como parte do processo legal, teremos um segundo turno com duas opções dentre os mais votados no primeiro escrutínio.

Uma opção deve ser melhor do que outra, considerando o momento e o futuro do País. E entre essas alternativas haverá uma que será eleita. Com ou sem esse voto indeciso. Mesmo que ambas as alternativas não sejam suas opções de preferência.

Na reta final, entre os dois eleitos para o segundo turno, quem levará a eleição deveria ser aquele que possa contribuir da melhor forma para transformar positivamente nossa realidade num momento que as vantagens estruturais têm se mostrado positivas ante o cenário global adverso.

E que poderia ser significativamente diferente fosse o País mais bem conduzido pelos representantes dos poderes Legislativo e Executivo. E com menos ativismo político no setor Judiciário.

E escolher deveria uma responsabilidade indelegável.

E isso só acontecerá se todos, em especial quem tem o privilégio de uma visão ampliada, ajudar a escolher o que possa ser melhor. Mesmo não sendo a ideal na percepção individual.

Omitir-se não deveria ser uma opção.

Marcos Gouvêa de Souza é fundador e diretor-geral da Gouvêa Ecosystem e publisher da plataforma Mercado&Consumo.
Imagem: rafapress / Shutterstock.com

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