Yes, We Need

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Sim, precisamos. Parodiando o clássico bordão usado pelo então candidato Barack Obama nos Estados Unidos, “Yes, We Can”, que estimulava um pensamento transformador para sua proposta de campanha, está mais do que na hora de o setor empresarial brasileiro avançar para assumir responsabilidades na transformação positiva do Brasil. É mais do que necessário.

Enquanto isso não acontecer, comparando com a realidade global dos países mais desenvolvidos, vamos trabalhar muito mais para ganhar ou produzir muito menos. Vamos ter de nos dedicar muito mais para termos resultados menores. Vamos ter de nos desdobrar para criar renda, emprego e resultados desproporcionalmente menores enfrentando um aparato público, um sistema tributário e uma estrutura de Estado que são indutores da ineficiência e estimuladores da corrupção endêmica. E não podemos esperar que o setor público, isoladamente, corrija as inúmeras distorções existentes.

Essa foi uma das mensagens no encerramento do 8º Fórum LIDE do Varejo e Marketing, que foi realizado neste fim de semana em São Paulo pelo LIDE Comunicação e pelo LIDE Comércio, marcando a retomada de eventos híbridos, reunindo o virtual e o presencial muito limitado.

Foram dois dias de intenso e profundo conteúdo, analisando as visões globais das transformações precipitadas pela pandemia e seus impactos na realidade brasileira do consumo, do marketing e do varejo.

Foi marcante a constatação de como empresas desses setores, pressionadas pela abrupta mudança da realidade, tiveram de se transformar, evoluindo 50 anos em cinco meses. Cases como os de Via Varejo, Telhanorte-Tumelero, Raia Drogasil, Multiplan, Hirota, O Boticário, Petz, Pernambucanas, XP Investimentos e Aché Labortatórios foram marcantes para mostrar como as empresas brasileiras se transformaram no período para jogar o jogo imposto pela pandemia.

Importante lembrar – e esse tema foi muito aprofundado – como, ao lado das mudanças impostas na área da saúde, foi necessário enfrentar e se reposicionar ante as mudanças precipitadas pelo Big Bang Financeiro, que incluem os Cadastro Positivo, a LGPD, o Open Banking, as taxas de juros reais próximas a zero e mais os pagamentos instantâneos, além das habituais questões político-partidárias. Tudo isso configura um cenário de intensa, profunda e ampla mudança, que em artigo anterior definimos como “VUCA elevado a 5G”.

Ficou claro que no setor de Consumo, Marketing e Varejo muitas empresas foram hábeis e competentes para encontrar soluções disruptivas e algumas fizeram movimentos que transformarão sua história e estratégia empresarial para sempre. A incorporação dos modelos de organização por Ecossistemas de Negócios no Brasil foi acelerada. Da mesma forma, os líderes empresariais se aproximaram para trabalhar de forma integrada e conjunta em busca de soluções para problemas nunca antes imaginados.

Ficou flagrante a capacidade de inovação, renovação e superação de empresas, negócios, profissionais e empresários brasileiros para redesenhar a realidade a partir da absoluta necessidade de romper com o passado e criar o novo muito mais eficaz em muito pouco tempo.

E cases apresentados e discutidos mostraram que o Brasil, além de criar benchmarks globais na forma de enfrentar os problemas, evoluiu em muitos aspectos, como por exemplo na plataforma de pagamentos instantâneos e digitais Pix, em fase final de implantação.

Mas, se as constatações positivas no setor privado foram inspiradoras e exemplos a serem compartilhados, o mesmo não se pode dizer do País como um todo, uma vez que saímos desse momento mais divididos, endividados, desestruturados, desunidos e com a imagem internacional chamuscada pelo mais diversos motivos.

E com a perspectiva recém-constatada de que as inadiáveis Reforma Administrativa e Tributária ficarão para um outro momento mais favorável. Quase que as mesmas razões que fizeram com que a Reforma Previdenciária demandasse 13 anos para ser aprovada. E a Reforma Trabalhista fosse a possível – e não a necessária. E até hoje contestada e não plenamente implementada pela reação de Tribunais da área do Trabalho que teimam em enfrentar o que foi aprovado.

Ou seja: convivem, na mesma nação, dois Brasis.

Um virtuoso, resiliente, realizador, líder global em provisão de alimentos, em energia limpa e renovável e em capacidade de reinvenção, representado pelo privado dos mais diversos segmentos.

E um outro mais retrógrado, burocrático, desalinhado, inchado, sujeito ao jogo baixo dos conchavos retardantes da modernidade, representado, em parte, mas não na totalidade, pelo setor público nas esferas federal, estadual e municipal, nos três Poderes. Com notáveis e louváveis exceções em muitos municípios, Estados e áreas na federação, como foi destacado pela atuação do Banco Central.

Mas na média, e toda média é demais perigosa, o atraso, ainda que não generalizado, é mais a constante do setor público do que a exceção, se pensamos no Brasil como um todo.

É por isso que cabe ao setor privado a consciência da importância do “Yes, We Need”, para injetar e cobrar novas visões, práticas e transformações na gestão da coisa pública para acelerar a necessária e virtuosa transformação positiva, integrando os setores privado e público em prol do desenvolvimento da Nação.

Se no ano passado o chamado final foi o Mind the Gap, alertando para a distância que nos separava de outros países mais desenvolvidos, especialmente nos temas sociais, educação, modernidade, eficiência e segurança, passado esse período e estressados pela travessia da pandemia, fica a constatação inadiável de que temos de assumir o “Yes, We Need” se quisermos promover a transformação que o presente e o futuro nos cobram. Com menos diagnósticos e discursos, mas com mais propostas e ações efetivas, como estamos habituados no setor privado.

Marcos Gouvêa de Souza é diretor-geral e fundador da Gouvêa Ecosystem.

* Foto: Reprodução

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