Depois da pandemia de covid-19, a questão das janelas de exibição no cinema – jargão no mercado para o tempo de espera entre a tela grande e outras mídias, como o streaming – virou uma questão sem solução para os produtores de filmes. Se nos tempos das locadoras as produções só chegavam em vídeo três ou seis meses após o lançamento no cinema, hoje não há mais um padrão.
Esse foi um dos temas debatidos durante a semana passada no evento Ventana Sur, um dos mais importantes da indústria audiovisual latino-americana, em Buenos Aires, na Argentina. Quando o financiamento é dos serviços de streaming, o espaço de negociação é mínimo: varia de zero a poucas semanas a exibição em salas de cinema. Se a produção é independente – o que, na América Latina, geralmente inclui o uso de leis de incentivo do poder público -, o dilema que se estabelece é outro: bater o pé e exigir uma “janela” mais longa ou ceder para encontrar uma audiência maior nas plataformas?
Por trás dessas questões está o fato de que filmes de baixo ou médio orçamento, como as produções mais artísticas e voltadas ao público adulto, estão sofrendo para encontrar uma audiência nesses tempos pós-pandemia. O público mais velho, ainda temendo a covid-19, resiste a voltar para o ambiente fechado dos cinemas.
Como resultado, blockbusters, como os filmes da Marvel ou da DC Comics, têm tido bons resultados nas bilheterias. Enquanto isso, filmes de prestígio, incluindo o mais recente de Steven Spielberg – Os Fabelmans -, vêm encontrando dificuldade para achar seu público. Esse dilema sobre as janelas de exibição, que parece insolúvel, foi tema de um painel do Projeto Paradiso, entidade filantrópica brasileira voltada a fomentar o planejamento e a busca de público para o cinema nacional.
Redes independentes
Durante o painel, no entanto, mostrou-se que, em meio a tanta incertezas, algumas possibilidades de convencer o público a sair de casa estão aparecendo. Foi o que conseguiu a produtora La Unión de Los Rios, que realizou para a Amazon o sucesso Argentina 1985, com Ricardo Darín.
Depois de negociar com a plataforma duas semanas nos cinemas, disse a produtora Agustina Campbell no painel, outro problema se apresentou: as grandes redes de cinema se recusaram a exibir a película, que estaria disponível no Prime Video. Resultado: a produtora fez um acordo com redes independentes, que, segundo ela, abraçaram o conteúdo. “Foi emocionante de ver. E o filme trouxe o público adulto de volta para essas salas, que sofreram muito durante a pandemia”, disse.
Com informações de Estadão Conteúdo
Imagem: Shutterstock