Diante do anúncio nesta quinta-feira do fechamento de mais de 200 lojas das redes Macy’s e Sears — marcas ícones dos Estados Unidos —, fica evidente a crise do varejo americano, que enfrenta as consequências da concorrência das vendas on-line e ainda não se adaptou a um novo modelo de consumo no país do consumismo.
Os primeiros dados sobre as vendas de Natal mostram mais uma vez números fracos para as lojas físicas, enquanto a gigante Amazon se destaca no horizonte. As empresas precisam lidar não apenas com os concorrentes on-line e a mudança nos hábitos de consumo, mas também com um consumidor mais exigente, em busca de barganhas, e que gasta menos com vestuário e mais com itens para casa e experiências como viagens e alimentação fora. Relatório recente da Mastercard aponta alta de 4% nas vendas globais. As compras, no entanto, teriam sido direcionadas para o on-line, com a Amazon como a grande beneficiária.
“Os resultados de vendas fracas dos feriados da Macy’s e da Kohl’s refletem os continuados desafios que atormentam a indústria de lojas de departamentos. Esperamos que a mudança das compras para canais alternativos, como on-line e promocionais continue em 2017. A entrada no quarto trimestre com estoques baixos não foi suficiente para garantir as metas de lucratividade nem na Macy’s nem na Kohl’s por causa do desempenho frustrante de vendas”, disse, em relatório, Christina Boni, analista sênior e vice-presidente da Moody’s, segundo a rede CNBC.
MARCAS FORTES
As perdas estão espalhadas por marcas fortes do varejo. Nesta quinta-feira, a Sears informou que está fechando mais 150 lojas como parte de um programa para reduzir a presença física da empresa e conter as perdas contínuas. As vendas no fim do ano caíram de 12% a 13%. Ao tempo, a companhia informou que concordou em vender a marca de ferramentas Craftsman para a Stanley Black & Decker por cerca de US$ 900 milhões, marcando a terceira ação do diretor executivo Edward Lampert nas últimas duas semanas para tentar dar novo fôlego à varejista com novas fontes de recursos.
Já a Macy’s anunciou a demissão de dez mil trabalhadores — sendo 6.200 dos escritórios e 3.900 das lojas — e o fechamento de 68 unidades em 2017. A empresa revelou uma queda de 2,1% das vendas em novembro e dezembro — considerando as mesmas lojas — e disse esperar recuo semelhante em 2017.
A loja de departamentos Kohl’s, por sua vez, também divulgou queda de 2,1% das vendas, e o diretor-executivo, Kevin Mansell, afirmou que as vendas foram “voláteis”. Mais do que apenas o recuo nas vendas, a Kohl’s revelou que a receita também foi prejudicada pelas muitas promoções, que reduziram a margem de lucro.
“A força das vendas de Black Friday e Natal foi insuficiente para compensar a fraqueza no balanço do trimestre. Além disso, esses picos de vendas foram caracterizados por grandes promoções, que contribuíram para uma margem de lucro mais fraca que o imaginado”, disse, em relatório, o analista da Stifel, Nicolaus & Co Richard Jaffe.
Enquanto isso, a Amazon afirmou, na semana passada, ter tido o melhor resultado de sua história para as vendas do fim do ano. Ao todo, foram vendidos mais de um bilhão de itens por dia em todo o mundo.
PREÇOS DE AÇÕES RECUAM
No mercado financeiro, os preços das ações de varejistas despencaram nesta quinta-feira com as preocupações sobre o futuro dos ganhos do setor. O índice da Bloomberg que monitora as gestoras de shoppings registrava a maior queda em quase dois meses, de 2,8%. Os papéis da Macy’s, por sua vez, perdiam mais de 13%.
Pelo menos sete corretoras de valores reduziram o preço-alvo das ações da Macy’s e da Kohl’s. Em relatório, o analista do JP Morgan Matthew Boss estimou que as perdas das lojas de departamento chegaram a US$ 1 trilhão no fim do ano.