Após a recente publicação no futureoflife.org de uma carta aberta ao público sobre o uso de inteligência artificial (IA) e os potenciais riscos para a humanidade, com endosso de Elon Musk e diversos especialistas, podemos utilizar esta oportunidade para refletirmos sobre a transformação digital do trabalho de hunting e o processo seletivo de profissionais para contratação.
Cada vez mais comum entre as equipes de recursos humanos (RH), estas novas tecnologias oferecem vantagens em automatizar tarefas repetitivas e manuais, permitindo aos recrutadores mais dedicação e tempo às atividades que exigem habilidades humanas, como a avaliação de soft skills e a interação com os candidatos.
No entanto, precisamos ter a consciência de que o uso de IA deve ser adotado como uma ferramenta agregadora, que pode ser extremamente útil, mas não deve substituir completamente a análise humana. Afinal, os processos de recrutamento são complexos e envolvem diversos fatores que necessitam do entendimento e percepção da personalidade e habilidades interpessoais dos candidatos, que são características complexas e de difícil mensuração por meio de algoritmos.
Precisamos estar atentos sobre a adoção e criação de processos ao redor do uso de inovações tecnológicas com base em machine learning, pois podem causar falta de diversidade nos processos de recrutamento, fazendo com que algoritmos treinados com dados e históricos internos das empresas possam reproduzir padrões de contratações anteriores e que, muitas vezes, não refletem a diversidade e a inclusão desejadas pelas empresas.
Estes alertas se tornam ainda mais relevantes quando temos os dados de que, em 2023, 75% dos processos de recrutamento serão apoiados por IA, segundo estudos da consultoria Gartner. Se analisarmos o relatório “The Future Jobs”, realizado durante o Fórum Econômico Mundial, a expectativa é de que 41% das empresas planejam expandir o uso de contratados para trabalhos especializados e que 34% planejam expandir sua força de trabalho devido à integração de tecnologia. Com isso, até 2025, o tempo gasto em tarefas atuais no trabalho por humanos e máquinas deverá ser igual.
Com processos bem estruturados, a adoção de IAs para complementar o trabalho de hunting e processo seletivo de profissionais pode trazer uma série de benefícios para as equipes de RH, pois algumas ferramentas podem auxiliar na identificação de talentos que não tenham sido encontrados por meio de métodos tradicionais de recrutamento. Mesmo oferecendo redução de tempo e custo para as empresas, precisamos buscar digitalização e automação de processos com foco na melhoria da qualidade e objetividade da seleção de candidatos.
Para não perdermos contato humano durante o processo de seleção e contarmos apenas com a inteligência artificial, sem nos preocuparmos com a possibilidade de vieses sociais inconscientes – fruto da probabilística e aprendizado de máquina alimentado por informações criadas por todos os tipos de seres humanos e disponíveis na internet -, temos o dever de acompanhar as tendências e entendermos como utilizar essas ferramentas. Isso ajuda a aumentar a eficiência e eficácia dos processos, ao mesmo tempo em que a IA possa ser utilizada para contribuir com o desenvolvimento e bem-estar das nossas equipes e profissionais.
As empresas precisam entender o uso das IAs como complemento, priorizando as interações humanas, para que as reais necessidades das empresas e candidatos sejam compreendidas em sua totalidade. Além de focar na construção de equipes e preparar seus profissionais para que a transformação digital possibilite processos cada vez mais responsáveis e transparentes, não se baseando exclusivamente nos dados coletados para garantir que o processo de seleção dos candidatos seja justa e imparcial.
Carlos Carvalho é CEO da Truppe!
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