Caminhar sobre o fio da navalha parece ser o esporte diário de muitos varejistas. Equilibram-se entre dois extremos. De um lado, há quem opte por estar super estocado para não perder vendas em hipótese alguma. O desafio aqui são os altos investimentos relacionados a esta decisão, que impactam a rentabilidade do negócio. De outro, há quem opte por um estoque mínimo e perde oportunidades de vendas por falta de produto na loja, frustrando o seu cliente final.
Nenhum dos dois polos é desejável. O ideal é garantir uma gestão de estoques inteligente e dinâmica e, para isso, há cinco passos a seguir.
O primeiro deles é conhecer e adotar o conceito HBT, um acrônimo do termo em inglês Head, Belly and Tail, que qualifica os itens como sendo de alto, médio e baixo giro. Quando faltam na loja os itens de alto giro, temos um problema. Não apenas há um impacto negativo sobre o resultado das vendas, como os consumidores saem da loja com uma experiência ruim. Já quando o mesmo se dá com itens de giro baixo, o estrago é bem menor.
O segundo passo é a busca diária pelo estoque ótimo. A gestão de estoques inteligente já não se baseia tanto em previsões de venda, mas, sim, no remanejamento inteligente de itens no dia a dia. E isso é possível por meio do ajuste dinâmico das metas de reposição, com base nas vendas que efetivamente estão acontecendo agora, em tempo real. A ideia é alcançar ciclos de reposição com respostas rápidas, de olho nas variações de demanda.
Chegamos ao terceiro passo: saber o que, de fato, priorizar no reabastecimento. Na prática, quando falamos de reabastecimento, queremos chegar a um equilíbrio que contemple a entrega de um produto por seus fornecedores, em uma ponta, e o atendimento da demanda do consumidor, na outra. A questão é que, quando se dá a quebra de estoque, é importante saber priorizar o que e quais lojas reabastecer primeiro, com decisões bem embasadas em informações. A ideia é garantir que produtos de alto giro sempre estejam disponíveis, em particular, nos pontos de vendas estratégicos. É aí que seus esforços precisam ser concentrados.
O quarto passo prevê que é necessário estar preparado para as datas promocionais do comércio. Estamos falando aqui das oportunidades geradas por datas sazonais como Dia das Mães, Black Friday e afins, e como nos preparar com antecedência. Nesses casos, os padrões de demanda são bem atípicos. Portanto, é preciso conhecer as tendências que se manifestaram no passado, antecipar o comportamento do consumidor e fazer o ajuste fino do estoque para aproveitar o aumento de demanda que normalmente acontece nestas ocasiões.
Por fim, o quinto passo diz respeito às transferências de estoques entre lojas. Isto é, retirar o que há em excesso em algumas lojas e realocar os itens para outras, cujos estoques estejam baixos ou então desprovidas de produtos. Com isso, maximizamos as oportunidades de vendas e garantimos a satisfação do cliente nas lojas. Esse passo requer a identificação de padrões de excesso e de escassez em toda a rede, ponto a ponto, assim como a tomada de decisão para redistribuir o estoque ao longo da cadeia de lojas de forma eficiente e inteligente.
É importante ressaltar que a tecnologia, especialmente a Inteligência Artificial (IA), desempenha um papel fundamental na implementação eficaz dos cinco passos mencionados acima. Com o auxílio da IA e sua capacidade de análise preditiva, o varejo pode dar um salto significativo em direção à eficiência operacional.
Igor Melo é especialista em Retail-Tech e country manager da Onebeat
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
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