Como sua empresa se prepara para enfrentar a queda da taxa de natalidade no Brasil?

Como sua empresa se prepara para enfrentar a queda da taxa de natalidade no Brasil?

Estamos sempre no automático, tentando apagar incêndios no dia a dia no varejo. Se sobressaem as empresas que, de forma estruturada, conseguem ter informações para fazer análises preditivas e se antecipar ao caos. Não é tarefa fácil, mas necessária.

Com a chegada de novas tecnologias e informações, que podem vir das Inteligências Artificiais, nada mais diferente do que apostar em humanos para trazer sua capacidade analítica nesse momento. E quando olho para a nova pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada recentemente com dados de 2021, fico pensando se o varejo tem se preparado frente a novos dados.

Tenho batido na tecla em minhas palestras de que a taxa de natalidade iria mesmo cair. Nenhuma arte em ser vidente, mas uma tendência já vista nos países desenvolvidos. Segundo o IBGE, 2,63 milhões de pessoas nasceram no país em 2021, o que representa 1,6% a menos do que no ano anterior e o menor índice desde 2003 (3,42 milhões). A taxa de fecundidade, que representa a estimativa de filhos por mulher ao longo de seu período fértil, já foi de 6,3 filhos em 1960. O estudo mostra que hoje a média é de 1,94 filho por mulher, ou seja, estamos já abaixo da taxa de reposição populacional (2,1 filhos substituem os pais). Não é preciso muito para saber que menos mulheres estão engravidando e nossa população, envelhecendo.

Ouvi outro dia um comentário conservador, dizendo que a “culpa” era da ascensão feminina, já que desde que nós, mulheres, começamos a trabalhar, não quisemos ter mais muitos filhos.

Tendo um olhar acolhedor para uma análise tão míope, fico me perguntando se as empresas preparam os ambientes para que as mulheres se sintam seguras para ficarem grávidas. O normal é ver muitas mulheres ficarem com medo de anunciar a gravidez no mundo corporativo. Vão perder autonomia, espaço para ascender na carreira e muitas vezes o próprio emprego após um tempo da licença-maternidade.

Nunca entendi essa equação. Se somos as responsáveis por criar cidadãos saudáveis para o mundo, ou seja, os futuros clientes do varejo, por que somos preconceituosamente analisadas quando anunciamos a gravidez no corporativo? Será que uma empresa tem de comandar o nosso corpo e mostrar o momento certo para engravidar? Será mesmo que sua empresa tem políticas para acolher uma mulher grávida? Qual o problema de contratar ou promover uma gestante? Você já treinou equipes para discutir sobre o assunto e quebrar paradigmas?

Do outro lado, mais de 5,5 milhões de crianças não tinham o nome do pai no registro, de acordo com o Censo Escolas de 2013, realizado pelo Conselho Nacional de Justiça, e estudos de IBGE mostram que 48,7% das famílias são chefiadas por mulheres. Um enorme problema social se não temos espaço no mundo corporativo e somos chefes de família. Como criar ambientes mais saudáveis para que esse quadro mude? É lógico. Devemos ter políticas públicas para que tenhamos uma performance econômica melhor no futuro, mas precisamos analisar não só o nosso negócio. Temos o dever de ser socialmente responsáveis. Outros formatos de famílias estão sendo formados. Cada pessoa é um ser único e deveria poder ter suas escolhas! Sua empresa está preparada? Informações você já tem!

Recentemente, vi algo bem inovador no varejo brasileiro, inspirado no holandês, que foi o caixa de bate-papo, lançado em junho pelo Enxuto Supermercado, que para mim mostra o que é colocar o cliente no centro para que ele possa ter suas escolhas. Ao conversar com o CEO do grupo, ele disse que a ideia não foi pensada para trazer mais dinheiro para o “caixa”, mas sim para cuidar da saúde mental de seus clientes que querem ter alguém com quem dialogar. Se ele quiser fazer compras de forma rápida, eles têm self checkouts ou até o carrinho inteligente. Se não, vamos para o bate-papo. Eu achei a ideia brilhante e trará, sim, mais lucro para empresa, pois tive a oportunidade de visitar e falar com alguns que passaram pelo caixa de bate-papo. “Me senti prestigiado”, “Me trouxe paz nesse mundo corrido”, “Isso sim é se preocupar com o cliente”, foram algumas das frases que ouvi ao perguntar sobre a novidade. Tenho certeza de que a experiência, a preocupação e a valorização do cliente vão trazer cada vez mais fidelização para a empresa, ou seja, mais lucro. E, se não for, ela está fazendo o papel que é se preocupar com o lado social da população – dever, sim, de todos os empresários e líderes do País.

E você? Quais os planos para que sua empresa faça alguma transformação no mundo?

Sandra Takata é presidente do Instituto Mulheres do Varejo.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.

Imagem: Shutterstock

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