Varejo e emissores de cartões: uma aliança baseada em tecnologia para alavancagem de negócios

Após enfrentar uma pandemia e com o registro de um faturamento que cresceu apenas 1% em 2022, quando comparado com o ano anterior; o varejo brasileiro está continuamente procurando métodos novos e criativos para fidelizar o consumidor, aumentar as vendas e simplificar a experiência de compra de seus clientes em um mercado cada vez mais competitivo.

Fato é que o e-commerce vem ganhando espaço no varejo brasileiro e que, no último ano, foram inseridos mais de 36 mil varejistas nesse universo. Para 2023, é esperado um faturamento 9,5% maior, podendo atingir os R$186 bilhões em dezembro, segundo a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm).

Entretanto, vale notar que além da experiência omnichannel, o mercado de consumo brasileiro tem despertado para uma outra frente inovadora: a integração de produtos de cartão de crédito nas redes de varejo, uma estratégia que ganhou força nos últimos anos. Os atuais avanços tecnológicos em meios de pagamento potencializaram ainda mais os benefícios desse elo simbiótico entre varejo e instituições financeiras.

Esta estratégia pode produzir vários benefícios, tanto para as empresas de varejo, quanto para instituições financeiras emissoras de cartões e o cliente final.

Experiência do cliente
A transformação tecnológica possibilitou que os meios de pagamento avançassem além dos métodos convencionais. As cadeias de varejo podem oferecer uma melhor experiência de compra aos seus clientes, fornecendo cartões de crédito private label que não apenas permitem transações rápidas, seguras e digitais, mas também oferecem acesso a ofertas exclusivas, descontos personalizados e benefícios de fidelidade, gerando mais engajamento e valorização da relação usuário e rede de varejo.

Fidelização
As redes de varejo podem, por meio de oferta de cartões private label, usar informações baseadas em dados para compreender as preferências, hábitos de compra e padrões de gastos de seus clientes. Com esse conhecimento, as empresas podem direcionar melhor suas promoções, ajustar seus planos de marketing e construir relacionamentos mais fortes. Essas interações individualizadas promovem a fidelidade à marca, aumentando a probabilidade de que os clientes comprem novamente.

Impacto tecnológico
Os avanços da tecnologia de meios de pagamento, como os pagamentos NFC/contactless e integração com as carteiras digitais, se encaixam perfeitamente no foco que o setor de varejo tem na conveniência. Recursos de contactless podem gerar transações rápidas através de smartphones, da tokenização e da  autenticação biométrica. Essa tecnologia melhora a segurança e, ao mesmo tempo, agiliza o processo de checkout no ponto de venda.

Geração de cartões virtuais, provisionamento automático de pagamentos recorrentes e uma ferramenta de fraude robusta são outros bons exemplos de como a tecnologia pode impactar positivamente.

Programas de benefícios e incentivos
Os serviços modernos de cartão de crédito vão além dos incentivos simples de cashback. Ao criar programas de recompensas adequados à sua base de consumidores, as redes de varejo podem trabalhar com instituições bancárias em estratégias individualizadas por segmento de consumidores.

Esses incentivos, que podem incluir o acúmulo de pontos por compra, a obtenção de descontos exclusivos ou prioridade de acesso a eventos, shows e espetáculos, têm um grande impacto sobre quanto dinheiro os clientes gastam e, consequentemente, na rentabilidade da carteira.

Aumento de receita
Estratégia de private label entre varejo e emissores pode resultar em elevação dos lucros para ambas as partes. Por meio da base atual de portadores de cartão do banco, as redes varejistas podem acessar novos grupos de clientes, enquanto os emissores podem aumentar seu alcance por meio de parcerias com varejistas de grande escala. Tais alianças podem resultar em iniciativas de marketing conjuntas e potencial para promoção cruzada e consequentemente aumento de receitas para ambas as partes.

Monetização de dados
Cartões de crédito processados em plataformas modernas produzem uma enorme quantidade de dados transacionais. Toda a cadeia de varejo pode usar essas informações para entender o comportamento do consumidor, preferências de produtos e padrões de compra.

Ao analisar esses dados, o gerenciamento de estoque, logística, marketing e até a criação de novos produtos podem ser aprimorados. Do lado das instituições financeiras, cada dia mais dependentes de informações, otimizar custos, melhorar experiência do usuário e dar melhor crédito, são alguns exemplos de como monetizar informação.

Um ótimo exemplo disso é a integração com a Inteligência Artificial, que trouxe para o varejo mudanças profundas. Ao aproveitar os algoritmos de machine learning, os varejistas podem identificar padrões e anomalias nos dados do cartão de crédito, aprimorando a detecção de fraudes e as medidas de segurança.

De acordo com a pesquisa Top Priorities, Technologies and Challenges in Retail in 2023, da Gartner, 95% das empresas de varejo provavelmente adotarão a Inteligência Artificial ou machine learning até 2025.

Time to market
Manter o crescimento à medida que o ambiente de varejo muda, exige constante atualização tecnológica. Ao adotar tecnologias inovadoras, as cadeias de varejo podem atender melhor às demandas dos consumidores em constante mudança por experiências personalizadas e pagamentos digitais. Isso exige maior critério e avaliação dos melhores parceiros tecnológicos, pois parcerias com empresas tecnologicamente atrasadas geram maior time to market de novos produtos e pouca flexibilidade de se ajustar às demandas do mercado.

As possibilidades são muitas: o mercado se transforma todos os dias trazendo novas oportunidades e modelos de negócio inovadores, portanto, torna-se primordial neste ambiente possuir um parque tecnológico que possibilite suportar uma estratégia de sucesso a longo prazo.

Para fazer a diferença em um mundo que se move mais rápido do que nunca, alianças entre grandes players de mercado devem basear-se em uma estratégia que contemple plataformas escaláveis (em cloud), flexibilidade e time to market no desenvolvimento de novos produtos e negócios (com foco em APIs e método agile de desenvolvimento), segurança (autenticação/fraude) e inovação contínua.

Apenas com base nesses quatro pilares será possível combater a projeção de queda de 3,96% para o segundo trimestre deste ano, quando comparado ao mesmo período do ano anterior pelo Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar). Menos recuo com mais alianças baseadas em tecnologia para alavancagem de negócios.

Alexandre Borghoff é diretor de Negócios de Soluções de Emissões do Brasil na Fiserv.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
Imagem: Shutterstock

 

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