O Last Mile Delivery é a bola da vez!

FinalMile

Num País de dimensões continentais como o nosso e com crônicas deficiências de infraestrutura, um dos maiores desafios para as empresas de e-commerce é, sem sombra de dúvida, a intricada logística para distribuir produtos. Além da questão do tamanho, é preciso lidar com a baixa eficiência dos Correios – para entender esta dependência atual das empresas da estatal, oito entre dez lojas virtuais de pequeno e médio porte dependem deles para levarem os produtos até a casa dos clientes.

É por isso que todos os principais players deste mercado estão se movimentando para terem cada vez mais centros de distribuição e sistemas para gerenciar este complexo e intricado processo de entregas de produtos até aos rincões do Brasil.

Recentemente, o Magazine Luiza anunciou duas aquisições nesta área. Uma delas foi a da GFL logística, plataforma digital que atende a mais de 600 municípios e conta com 13 áreas de cross docking, com cerca de 850 motoristas independentes. A outra foi a plataforma de tecnologia SincLog, que permite que as empresas de logística façam a gestão de cargas, emissão de documentos fiscais e averbações, controle das tabelas de frete e remuneração dos motoristas, além de fornecer informações de qualidade e em tempo real. Mas existe uma intensa movimentação de startups nascidas nos últimos cinco anos que estão aproveitando o boom que este setor vive.

Desde o fenômeno Loggi (a primeira e ainda única startup unicórnio – avaliada em mais de US$ 1 bilhão – do setor de logística brasileiro), também se destacam a Kangú, a Mandaê, a Eu Entrego, a Delivery Center, a Diálogo Logística e a Lalamove. Além de terem conquistado clientes de peso, elas vêm apresentando números impressionantes (relatam crescimento de 50% a 300% nos últimos 12 meses). Juntas, já atendem cerca de três mil municípios brasileiros.

Mas um dos principais desafios no processo logístico é a chamada entrega de última milha, ou last mile, que consiste no trajeto entre os centros de distribuição dos vendedores (despachos) até a entrega na porta do cliente final. Essa é a fase mais impactante do e-commerce, pois qualquer problema ou desencontro de informações pode resultar na insatisfação e perda de confiança do consumidor com a marca, desvalorizando toda a cadeia de vendas.

Em países desenvolvidos, em que a infraestrutura disponível é moderna, ágil e eficiente, isto não é um problema. Mas, por aqui, o varejista precisa levar em conta todos os aspectos de segurança e custos na entrega de última milha. Entre eles, estão a má-conservação das estradas; a pouca variedade de modais de transporte alternativos – como ferroviário ou fluvial –; as regiões remotas e de difícil acesso; as áreas consideradas de risco; e as poucas opções de empresas no transporte aéreo. Todas essas variáveis acabam impactando no last mile, o que exige cada vez mais criatividade para entregar uma experiência de excelência ao consumidor.

Só para entenderem um dos problemas: segundo levantamento feito pela Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística, em 2019, a cada hora, duas transportadoras tiveram carga roubada nas rodovias brasileiras. Outro dado que choca os empresários: no Estado do Rio de Janeiro, que é o segundo maior destino de vendas pela internet do País, 42% dos Códigos de Endereçamento Postal (CEP) ainda não recebem entregas pelos Correios por falhas na segurança pública (?!).

Aproveitando as oportunidades oferecidas por este bom momento do e-commerce, surgem iniciativas importantes para agilizar ainda mais as entregas. Uma delas são as empresas de self storage, que veem a oportunidade de aproveitarem suas enormes estruturas para se tornarem hubs dark stores – estoques avançados das empresas de e-commerce. Empresas como GuardeAqui e GoodStorage têm montado estruturas distintas para atenderem a este mercado.

Já a Kangu, uma startup que recentemente recebeu um aporte do Mercado Livre, usa como principal diferencial lojas de bairro como pequenos centros de distribuição e coleta de mercadorias. Dessa forma, as papelarias, pet shops e lojas de roupa podem virar locais para os consumidores buscarem encomendas ou deixarem os produtos que precisam ser devolvidos.

Mas, curiosamente, é nos shopping centers, templos das compras físicas, que começam a despontar como fortes aliados do e-commerce. Nessa nova estratégia, os shoppings estão alavancando um de seus principais ativos: a sua localização privilegiada, que lhes permite sair na frente na corrida das entregas rápidas. Ao contrário dos Estados Unidos, onde os shoppings normalmente são localizados nos subúrbios, os shoppings brasileiros têm uma vantagem crucial no last mile.

A startup Delivery Center é uma plataforma de entregas que tem como ponto de partida os shopping centers e que garante ‘same-day delivery’ para a região em torno do empreendimento – a chamada ‘zona primária’. Ela conta com 40 centrais de entregas baseadas em shopping centers em 17 cidades e 3 mil lojistas integrados. Animadas pelo crescimento, a Multiplan e a brMalls, como principais acionistas, anunciaram um investimento conjunto de R$ 69 milhões de reais na empresa, cujos sócios incluem ainda a Cyrela Commercial Properties (CCP), o grupo Trigo e a Bloomin’ Brands.

Recentemente, durante evento de premiação do LIDE Varejo, Renato Raduan, vice-presidente da Raia Drogasil, Roberto Fulcherberguer, presidente da Via Varejo, e Sérgio Zimmerman, CEO da Petz, mostraram como existe sinergia entre lojas físicas e o e-commerce. Segundo o executivo da Via Varejo, 50% dos produtos vendidos on-line são entregues a partir de uma loja física. Na Petz, esse porcentual sobe para 76%, e na RD, para incríveis 82%. Para redes de varejo bastante capilarizadas, por exemplo, não faz sentido entregar um produto em São Luís (MA) a partir da central em São Paulo se existe disponível na filial da cidade.

Certamente o custo logístico será muito menor a partir da menor distância. Diante disto, está muito clara a forte sinergia entre o físico e o digital. Serão vencedores aqueles lojistas que souberem aproveitar ao máximo melhor destes dois mundos. O consumidor agradece.

Marcos Hirai é CEO da Omnibox, startup especializada em varejo autônomo.

Foto: Reprodução

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