O quadro atual está razoavelmente encaminhado. Estamos avançando aos trancos e barrancos com as reformas e modernizações, com concessões aqui e ali, e fazendo o que é possível para o momento. O judiciário avança nas investigações, julgamentos e punições às empresas, executivos e políticos que assaltavam de forma agressiva o país. Mas muito mais ainda virá à tona.
A economia dá sinais de recuperação, sendo os mais visíveis deles a redução marcante da inflação, a recuperação da confiança do consumidor e dos setores empresariais.
VEJA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO VAREJO NO 1º TRIMESTRE DE 2017
A oposição histérica persiste em sua estratégia suicida de tentar envolver tudo e todos lutando desesperadamente para manter privilégios e “conquistas” que ajudaram a colocar o país na sua mais profunda crise em sua história, mobilizando seguidores em manifestações que usualmente têm descambado para o vandalismo como forma de intimidação.
Mas, aos poucos e com mortos e feridos, avançamos num inexorável processo de modernização, cuja alternativa é a continuidade da destruição de valor que vivemos nos últimos anos.
Já se desenha uma tênue recuperação em alguns segmentos, especialmente aqueles beneficiados pelo mercado externo e algumas áreas do interno, como o agronegócio, a indústria automobilística e poucos setores do varejo, como moda, farmácias, atacarejos e conveniência.
Na infraestrutura, a retomada positiva do programa de concessões e privatizações cria nova onda de investimentos envolvendo geração de novos empregos e, em algumas regiões, já existe sinalização de melhoria do setor imobiliário, especialmente o residencial.
De prático temos a sinalização da perspectiva de lenta recuperação do PIB, a estabilização do nível de desemprego e uma tímida melhoria da renda real familiar, beneficiada por algumas negociações com recuperação de poder aquisitivo.
Porém, o crédito ao consumo familiar, que poderia acelerar o processo de recupação, continua escasso e incrivelmente caro por conta dos spreads bancários, da carga tributária e do rigor da análise e da concessão, inibindo e frustrando uma recuperação mais rápida.
A quem interessa e por que manter o paciente Brasil na UTI econômica mais tempo que o necessário?
Seria um preço a ser pago para acelerar o processo de aprovação das reformas e modernizações?
Seria o preço para continuar baixando a inflação ainda mais e dando mostras de total controle da situação para o mercado externo?
Seria a incapacidade de enfrentar a concentração do setor financeiro com medidas que aumentassem a competitividade no crédito ao consumo, especialmente via cartões de crédito?
Seria uma vocação atávica para atuar com absurdas taxas de juros reais cada vez mais altas e que sufocam a economia real?
Seja qual for a combinação de explicações, até porque o dano é tanto que não pode haver uma só, estamos atrasando e protelando um ritmo mais rápido de recuperação do consumo e da economia gerando o agravamento do problema do emprego e correndo sérios riscos na vertente social pelo acirramento de ânimos que essa situação tem provocado.
Em termos de emprego, estamos de fato além do limite do tolerável e o preço econômico e social é crescente e, pelo andar da carruagem, só vamos ver o desarme dessa bomba no último trimestre do ano. É realmente brincar com fogo.
Tenha a razão que tiver, a recuperação do crédito às famílias tem que acontecer já, especialmente porque os níveis de inadimplência estão em seus níveis mais baixos em relação aos seus patamares históricos e o endividamento e comprometimento da renda dessas mesmas famílias estão declinantes há três anos.
Tudo indica que será apenas por pressão que se vão precipitar medidas de abrandamento nas taxas e competitividade do crédito ao consumo familiar e se assim é, que se mobilizem entidades, associações, empresas e líderes de bom senso para imporem uma revisão imediata dessa situação, sob pena de colocarmos a perder tudo que passamos nesses últimos anos.