Dando continuidade ao tema do meu artigo anterior, onde expus o grande dilema dos varejistas brasileiros diante da instabilidade econômica e política que assolam este país, quando um novo ciclo de crescimento estava por vir e surge a hecatombe do escândalo político. E aí, qual caminho percorrer a partir de agora? Lamentar e chorar? Para seguir adiante, buscar inspirações positivas com outros varejistas pode ser alentador.
Agora, quero apresentar dois cases de redes internacionais que incrivelmente conseguem se destacar em nosso mercado, expandindo mesmo nos momentos de crise.
Outback
A rede americana de casual dining Outback é um sucesso contínuo de público no Brasil. A marca já contabiliza 20 anos por aqui, expandindo organicamente nos últimos 12 anos em 20% o número de novos restaurantes todos os anos.
Atualmente possui 83 unidades e é uma verdadeira paixão nacional. É aqui no Brasil que fica o restaurante com a maior receita e o maior número de clientes da rede, no Shopping Center Norte, em São Paulo.
Dos 10 maiores restaurantes da marca no mundo, em número de clientes, nove estão no Brasil. Em 2016, com crise econômica e tudo mais, as vendas comparáveis cresceram 6,1% e a empresa obteve por aqui seu melhor resultado global.
O Outback é um líder inconteste do chamado “casual dining”, que se propõe a ser uma alternativa intermediária às lanchonetes fast food e à alta gastronomia.
Esse nicho de mercado aspiracional é o que mais cresce no Brasil. As pessoas querem sair com a família, se reunir com amigos e ter acesso a algo que não machuque o bolso.
Uma das fórmulas do seu sucesso, além do ambiente descolado que foca a experiência do consumidor e do cardápio com porções fartas – mas pouco saudáveis –, que fazem sucesso entre os jovens e famílias, é o fato da rede atuar com o conceito de restaurantes próprios, tocados por sócios-proprietários. Cada unidade é gerenciada por um desses sócios-proprietários, que são selecionados, na maioria das vezes, entre seus próprios funcionários, àqueles que, sobretudo, apresentam forte perfil empreendedor.
O Outback pertence ao grupo Bloomin‘ Brands e conta com cerca de 1,5 mil restaurantes em 20 países. A companhia também é detentora da rede com inspiração italiana Abbraccio (Carrabba’s), Fleming’s Prime Steakhouse & Wine Bar e Bonefish Grill.
Daiso
A rede japonesa Daiso ainda tem presença restrita ao estado de São Paulo, mas praticamente dobra de tamanho desde que chegou ao país, em 2012. Com 4,2 mil lojas no mundo, presente em 28 países é a maior rede de lojas de “preço único” do mundo.
São produtos exclusivos com qualidade, variedade e singularidade e inclui praticamente tudo, desde artigos de papelaria até cosméticos, produtos pet, pesca, utensílios de cozinha, ferramentas, alimentos… são mais de 70 mil itens, renovados semanalmente, vindos diretamente do Japão e outros países asiáticos, num complexo sistema logístico.
Para manter a qualidade dos produtos, grande parte é desenvolvida e fabricada por eles. Em 2007, a empresa construiu na Tailândia a maior fábrica de produtos plásticos do mundo. Todo mês, a Daiso desenvolve mais de 500 produtos diferentes que são despachados para sua imensa rede de lojas no mundo.
Aqui no Brasil, a variedade de produtos é menor, os valores giram em torno de R$ 7,99, e possuem um apelo irresistível de preços baixos, fazendo com que mesmo em época de vacas magras as vendas continuem crescendo.
Já são 25 lojas abertas e até o final do ano serão 35. Mas pretendem chegar a 85 lojas em cinco anos com filiais em todo o Brasil. O faturamento de R$ 100 milhões do ano passado deverá dobrar este ano, colocando o Brasil entre os cinco maiores mercados da empresa.
Assim como Renner e Reserva, Outback e Daiso também resolveram buscar eficiência e inovação atendendo os anseios dos seus clientes e não se abatendo com as inúmeras crises econômicas e políticas que assolam o país. Resolveram trabalhar muito, respeitando suas aptidões, seu DNA, antenados com as transformações do consumidor e das inovações do varejo.