A movimento de restruturação anunciado nesta segunda-feira (7) pela Iguatemi Empresa de Shopping Centers e sua controladora, a Jereissati Participações, evidencia a transformação pela qual o setor começa a passar. A análise é do sócio-diretor da Gouvêa Malls, Luiz Alberto Marinho.
As empresas informaram, no fim do dia, que estão encaminhando aos acionistas minoritários uma proposta de reorganização societária, transformando as duas companhias em uma só. O objetivo é ampliar a liquidez dos papéis negociados na Bolsa e, principalmente, abrir caminho para uma futura emissão de ações e captação de novos recursos junto a investidores. O grupo aposta no crescimento por meio da aquisição de concorrentes.
Ao mesmo tempo, a reorganização visa a garantir a permanência do controle nas mãos da família Jereissati mesmo que ela não participe dos futuros aportes de capital na mesma proporção de outros investidores.
“Este movimento do Iguatemi traduz a preocupação que as grandes companhias de shopping centers têm hoje de preparar-se para a transformação que o setor já começa a viver. Como afirmou a nova CEO, Cristina Betts, o Iguatemi agora ganha maior liberdade e capacidade para ser um dos principais protagonistas da consolidação na indústria de shoppings, seja aumentando o controle sobre os ativos atuais, seja adquirindo novos empreendimentos alinhados ao posicionamento da companhia, seja investindo na estratégia digital”, avalia Marinho.
Prêmio de 10% sobre cotação média
A proposta que será submetida para assembleia de acionistas prevê que a Iguatemi Empresa de Shoppings (IGTA3) seja incorporada pela Jereissati Participações (JPSA3) e se torne uma subsidiária integral. Em troca, os atuais acionistas da empresa de shoppings receberão um prêmio de 10% sobre a cotação média das suas ações nos 30 dias anteriores, conforme o comunicado ao mercado.
Com esse movimento, as ações pulverizadas entre diversos investidores fora do grupo controlador (o chamado free float) subiriam em 45%, ampliando sua liquidez potencial, segundo o comunicado.
A nova empresa passará a se chamar Iguatemi S.A. e terá papéis negociados na forma de certificados de depósito de valores mobiliários (units). Cada unit será composta por uma ação ordinária (ON) e duas preferenciais (PN). Hoje, a Iguatemi tem apenas papéis ON.
As ações ON têm direito a voto nas assembleias, enquanto as PN têm prioridade para receber dividendos. Neste caso, as ações PN terão direitos econômicos equivalentes a três vezes os da ON.
Família tem 50,7% dos votos
A família Jereissati controla a companhia de shoppings por meio da empresa Jereissati Participações, que funciona como uma holding. Hoje, a família possui um peso de 50,7% nos votos em assembleia e uma fatia de 30,6% no bolo dos lucros. Após a reorganização, passará a deter 65% dos votos e 29% dos lucros.
Caso a Iguatemi S.A. faça uma futura emissão de units para atrair novos investidores e a família Jereissati não acompanhe a injeção de dinheiro na empresa, o seu poder de voto não será ameaçado, visto que os novos sócios receberão principalmente ações PN – sem direito a voto.
A assembleia para deliberação da proposta ocorrerá no dia 8 de julho, às 10h. Os controladores não votarão. “A unificação das bases acionárias permitirá o aumento da sua capacidade de investimento e crescimento, sem o aumento do endividamento”, informa o comunicado. “Isso colocará as companhias em uma posição mais favorável para participar das oportunidades futuras de consolidação, combinações de negócios e aquisição de ativos estratégicos, aumentando a sua relevância no mercado imobiliário brasileiro.”
Conselho anuncia nova CEO
O conselho de administração da Iguatemi anunciou também a substituição do CEO, Carlos
Jereissati Filho, no cargo desde 2006, pela vice-presidente financeira e de relações com investidores, Cristina Betts, que ingressou na empresa em 2008. A mudança nos postos ocorrerá a partir de 1º de janeiro de 2022. O antigo CEO continuará no grupo como membro do conselho.
A nova empresa será listada no Nível 1 da B3, um degrau abaixo do Novo Mercado, que é o mais alto nível de governança corporativa entre as empresas listadas. Isso se dará porque a nova companhia passará a negociar ações preferenciais, o que não é permitido no Novo Mercado.
A mudança para um patamar de governança inferior demanda que o controlador faça uma oferta pública de aquisição de ações dos minoritários, o que não está nos planos da família. Portanto, os minoritários precisarão aprovar tanto a mudança quanto a dispensa da oferta. Os conselhos de administração da holding e da empresa de shoppings ainda se comprometeram a manter todas as práticas, regras e recomendações do Novo Mercado no estatuto da Nova Iguatemi.
Também serão instituídos na Iguatemi S.A. quatro comitês estatutários para apoiar o futuro conselho de administração: Finanças e Alocação de Capital; Auditoria e Partes Relacionadas; Pessoas, Cultura e Organização; e Riscos e Compliance.
Com informações Estadão Conteúdo (Circe Bonatelli)
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