No varejo também toda generalização é perigosa

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No varejo também toda generalização é perigosa

Convenhamos que não é só no varejo. Na vida, toda generalização é perigosa. Mas é preciso reconhecer que devemos reciclar algumas das verdades propaladas sobre o presente e o futuro do varejo na sua combinação omnicanal.

As lojas de departamentos estão desaparecendo. É real no mundo ocidental, mas não é verdadeiro na Ásia, vide Hyundai, Lotte ou Shinsegae na Coreia, Takashimaya em Singapura ou Japão.

O varejo de valor está dominando o cenário. É verdade na Europa, nos Estados Unidos e no Brasil, mas não é o que acontece na Coreia, na China, na Indonésia, no Japão ou Singapura e na Ásia de forma geral.

Os consumidores estão cada vez mais orientados por um comportamento racional e pragmático na hora de comprar. De fato, isso é dominante no mundo mais maduro e desenvolvido ocidental e muito menos presente nas economias emergentes e em expansão da Ásia.

Se toda generalização é perigosa, no cenário do varejo atual pode ser irreal.

O ambiente de forte crescimento econômico e de consumo em muitos países da Ásia, em especial China, Coreia do Sul, Indonésia, Singapura e outros tem promovido expansão do varejo de luxo, em contraponto ao varejo de valor e das marcas em flagrante diferença com o que acontece nos Estados Unidos, Inglaterra, França, Itália, Espanha, Portugal, Canadá e em especial no Brasil.

Se em muitos desses países Primark, Zara, H&M, Uniqlo, Costco, Aldi, Liedl, clubes de atacado ou atacarejos, ao lado das plataformas asiáticas focadas em preços baixos são os conceitos que mais crescem e se desenvolvem, nesses outros países da Ásia-Pacífico a possibilidade de acesso às marcas consagradas globais, sonho de consumo de um passado não muito distante, fazem com que nessas regiões se viva uma realidade totalmente distinta.

O aumento do poder aquisitivo naquela área do mundo com forte crescimento das classes média e alta tem criado um cenário favorável à expansão e aumento do consumo dos segmentos de luxo e das marcas de maior valor agregado.

O mercado asiático de luxo, segundo estudo divulgado pela Bain & Co, já representaria 39% do mercado global e com tendência de crescimento ainda mais acelerado, significando um aumento dessa participação nos próximos anos.

O segmento luxo deverá representar perto de US$ 142 bilhões neste ano na Ásia, podendo chegar a US$ 173 bilhões em 2029. Estima-se que a China, isoladamente, possa ser responsável por 40% desse mercado no mundo até 2030.

As iniciativas envolvendo a transformação do consumo com tudo que envolve experiência, personalização, digitalização, edições limitadas, storytelling, integração físico-digital e a possibilidade de acesso às marcas mais icônicas do mundo como Chanel, Louis Vuitton, Gucci, Hermès e Dior, entre muitas outras na Ásia, transformaram a região.

E com uma característica interessante que é a participação dos segmentos mais jovens no perfil de seus clientes.

Na questão das lojas de departamentos também o que acontece por lá contraria a tendência do mundo ocidental.

Na Coreia, Lotte, Shinsegae e Hyundai desafiam o vaticínio do desaparecimento das lojas de departamentos. Da mesma forma que Takashimaya e ION Orchard, em Singapura, ou Isetan Mitsukoshi ou Daimaru, no Japão.

Esses elementos permitem um repensar mais abrangente, que temos proposto de forma constante, para revermos conceitos e dogmas envolvendo o varejo e o consumo na realidade ocidental ante as transformações estruturais que têm sido observadas e predominam numa visão mais aberta e abrangente do mundo em transformação.

Vale a reflexão e a consideração que nossa “cabeça” tem sido feita muito pelo que acontece no mundo ocidental e que vale muito abrir horizontes para conhecer, entender e aprender com uma visão mais plural e abrangente.

 Notas

  1. No dia 27 de junho, em São Paulo, a Gouvêa Ecosystem promoveu evento especial sobre impactos no mercado e no varejo globais e na realidade brasileira das transformações que acontecem na Ásia, com especial ênfase em China, Coreia e Singapura, onde estivemos recentemente em missões técnicas 360. O evento teve transmissão virtual e pode ser acessado por esse link. E o que de mais importante foi observado na NRF em NY em janeiro deste ano, na NRA em Chicago em maio, nos eventos Digitail, Inside Fashion Business e no que foi apresentado e discutido no evento sobre a reconfiguração do varejo global, pode ser discutido em um evento direcionado para a realidade local em todos os mercados brasileiros. Clique aqui e veja como promover essa discussão.
  2. No Latam Retail Show, de 17 a 19 de setembro no Expo Center Norte, em São Paulo, haverá especial ênfase, conteúdo e programação dedicados às discussões dos impactos das transformações no mercado, na geografia, na economia, no consumo e no varejo em diferentes canais, categorias, formatos de lojas e modelos de negócios. Com a presença de líderes, marcas, iniciativas e cases que mostram caminhos já sendo percorridos na integração possível de negócios e desses setores para enfrentar os desafios à frente. O evento também terá transmissão virtual de parte do conteúdo para quem não possa participar presencialmente. Os ingressos limitados e já estão disponíveis pelo site do evento.

Marcos Gouvêa de Souza é fundador e diretor-geral da Gouvêa Ecosystem e publisher da plataforma MERCADO&CONSUMO.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da MERCADO&CONSUMO.
Imagem: Shutterstock

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