É perigoso ser otimista. Mas é realista!

Momentum nº 976

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Otimismo neste momento pode parecer alienação. Quando não passível de ser tachado de opinião política favorecendo uma corrente partidária.

Como é possível ser otimista considerando o conjunto de fatores adversos que o mundo enfrenta somando o que ainda não está equacionado no pós-pandemia e que envolve crise de abastecimento e elevada e resistente inflação, tudo isso agravado pelos problemas de energia e combustível, em especial no Hemisfério Norte?

E ainda as consequências da invasão da Rússia na Ucrânia e seus impactos no abastecimento alimentar e os problemas de energia na Europa?

E mais o agravamento dos conflitos políticos entre as duas maiores potencias globais – Estados Unidos e China – que estão elevando o tom geral de preocupação no mundo?

Definitivamente o mundo vive um período instável e conturbado que gera cautela e desconfiança generalizada e determina um comportamento muito mais racional de consumidores privilegiando as alternativas de consumo ligadas a valor em termos de formatos, canais, marcas e produtos.

No cenário político local temos a exacerbação da polarização que contribui para acirrar ânimos e inibir o equilíbrio para permitir análise mais abrangente e menos apaixonada. Tudo isso sem minimizar em nada os equívocos que têm sido cometidos nos últimos anos, por diversos governos nas esferas federal, estadual e municipal e pelas opções políticas equivocadas e seu impacto no aprofundamento dos problemas gerados pelas desigualdades sociais, a insegurança coletiva e a carência na educação.

Em especial quando consideramos indicadores mínimos relativos à alimentação de boa parte da população.

Se buscarmos um olhar mais abrangente e menos apaixonado politicamente veremos que, olhando o todo desse cenário, o Brasil vive um momento particular quando comparado com o ambiente global.

Não temos problemas mais sérios de desabastecimento generalizado.

Temos uma inflação elevada, porém declinante e, mais importante, temos experiência e mecanismos financeiros para operar nesse ambiente.

Temos elevado desemprego, perto de 12 milhões de pessoas, porém também declinante, e mecanismos de estímulo que favorecem o microempreendedorismo individual, estimulado pela chamada Gig Economy, que já reúne perto de 13,5 milhões de empreendimentos, 69% do total de empresas do país.

Temos um país que avança cada vez mais na produção de alimentos e é líder mundial em algumas categorias, para um mundo que precisa cada vez mais de alternativas.

Temos um país que tem cometido equívocos sérios em seu posicionamento e ações envolvendo os temas de sustentabilidade e proteção da natureza, porém com crescente consciência sobre a importância de ações efetivas e resultados mais imediatos. E com muitas iniciativas, em especial do setor privado, nessa direção.

Temos um país dos mais jovens do mundo e que tem evoluído de forma marcante nos temas ligados à tecnologia e transformação digital e com avanços importantes na implantação massificada no 5G. E que tem surpreendido pela incorporação de relevantes evoluções em temas com pagamento e relacionamento digital.

Temos um país onde o nível de desigualdades sociais é inaceitável, mas que tem avançado na consciência coletiva sobre a necessidade de atuar nessa equalização e com forte envolvimento do setor privado na tentativa de contribuir para minimizar esse problema.

Temos um dos maiores mercados do mundo, balizado pelo tamanho da população, sua idade média e sua propensão ao consumo de bens e serviços.

Temos um setor empresarial vibrante, criativo, inovador, flexível e adaptável, forjado na sequência de crises locais e globais que o tornou dos mais resilientes para enfrentar problemas, como ficou patente no quadro que envolveu a crise recente da covid.

Temos uma das maiores economias do mundo que, por equívocos internos, especialmente no campo político, e não é de hoje, não consegue potencializar os ativos estratégicos, naturais ou desenvolvidos que temos à disposição

Mas temos também uma autoestima baixa e uma propensão a focar no copo meio vazio e detratar o país publicamente inclusive para o mundo, como se isso significasse isenção na capacidade de análise. Comparem com povos de outros países, mais ou menos desenvolvidos, se têm o mesmo comportamento.

É preciso ter equilíbrio, atualização e visão global para enxergar tudo que deve e precisa ser melhorado, não transigir em nada com os equívocos e problemas que nós mesmos como sociedade temos cometido, sem nenhuma alienação. Mas com a necessária isenção.

Valorizando o que precisa e deve ser valorizado, mas sendo intransigente com a necessária correção de rumos que se impõe no curto prazo. E entendendo que o cenário mundial pode nos favorecer nesse momento se formos hábeis e competentes para continuar a promover a necessária evolução social, política e atitudinal.

E nesse aspecto, se fizerem sentido essas análises acima, entendermos que cabe ao setor privado ser mais protagonista na evolução que se impõe ao país, valorizando e potencializando o que temos de positivo e atuando decisivamente para transformar a realidade onde é necessário.

Que essa possa ser uma reflexão realista, relevante e, principalmente, motivadora para todos nós.

Nota: Os principais temas que impactam o varejo e o consumo no Brasil, no Mundo e na América Latina serão tratados no Latam Retail Show, que acontecerá em versão fígital de 13 a 15 de setembro com mais de 200 palestrantes, acima de 100 horas de conteúdo e com 8 pesquisas inéditas e exclusivas que ajudam a decodificar a realidade emergente e contribuir para o repensar de caminhos para empresários, empreendedores, executivos e profissionais especialmente ligados a esses setores.

Marcos Gouvêa de Souza é fundador e diretor-geral da Gouvêa Ecosystem e publisher da plataforma Mercado&Consumo.
Imagem: Shutterstock

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