A transformação dos formatos de loja é algo dinâmico no varejo em geral. E não seria diferente no varejo alimentar. Essas mudanças ocorrem para atender aos anseios e necessidades do consumidor.
No Brasil, a inflação dos alimentos, somada à redução do poder de compra e à necessidade de estocar a casa, para sair menos vezes durante a pandemia, levou para o atacarejo um novo público. Assim, o hipermercado, que já vinha enfraquecido, praticamente desapareceu, permitindo tração a expansão de marcas como Assaí, Atacadão, Giga, Roldão, Max, Tenda entre outras.
Em outro extremo, consolidam-se marcas que entregam conveniência. Para liderar esse segmento, a combinação entre localização, mix e atendimento são fundamentais. Minimercados de marcas consagradas, como Pão de Açúcar e Carrefour, olharam com humildade para players que jogavam esse jogo há tempos e, claro, trouxeram seu arsenal de competência e diferenciação dos seus ecossistemas para criar sua proposta de valor. Concorrentes internacionais, como a Oxxo, e nacionais, como Hirota e Dia%, também ocupam espaço.
Esses são os extremos, máximo valor e máxima conveniência, mas existe um contexto central com clientes que desejam e pagam por experiência.
A experiência pode ser caracterizada por sofisticada curadoria, arquitetura, atendimento e serviços. Marcas como St Marché, Hortifruti Natural da Terra, Oba e Mercadinhos São Luiz surfam essa onda.
A conexão com o cliente é fundamental, independentemente do formato. Levar o cliente para a loja com mais frequência é muito importante para manter a conexão. Mesmo o atacarejo, cuja premissa sempre foi produto com a menor quantidade possível de camadas que pudessem agregar custos, especialmente por áreas que possam impactar em perdas, repensou seu modelo e, em lojas novas, incluiu padaria, fatiação de frios e até açougue.
Os minimercados adaptaram padarias compactas às suas operações e os mercados premium, além de rotisserie, padaria, confeitaria, peixaria e açougue, turbinaram suas adegas e introduziram respeitáveis operações de restaurante, cafeteria e food hall.
Ainda no âmbito conexão, os programas de fidelidade, que, nos seus primórdios serviam ao propósito de captura de dados de clientes, hoje, bem mais do que cupons de descontos, oferecem cartões de crédito, carteiras digitais e uma infinidade de serviços de prestação própria ou integrados com parceiros. É a conexão amparada por tecnologia.
O varejo alimentar busca eficiência incansavelmente, e a tecnologia passou a ser a grande aliada. Sistemas de monitoramento e gestão, self check out, robôs para monitoramento de gôndolas, inteligência artificial, drones, plataformas de e-commerce, tudo em um arrojado programa de transformação digital.
No último 4 de novembro, o grupo paranaense Muffato inaugurou sua primeira loja autônoma. Em outubro de 2021, o Carrefour inaugurou também, porém, em formato compacto com menos de 20 m2. A iniciativa da Muffato tem impressionantes 250 m2 e somente sete funcionários. O acesso é feito por QR Code como ocorre em lojas como Amazon Go. O pagamento é feito diretamente no aplicativo e sem passagem por qualquer tipo de checkout.
Esse pode ser, sem dúvida, o futuro do varejo premium no Brasil. Em avanços ao experimento Amazon Go, nos Estados Unidos, a companhia integrou uma operação de foodservice em parceria com a Starbucks de forma humanizada, ou seja, com atendentes, algo que acredito ser muito assertivo.
O consumidor amplia o hábito de consumo de alimentos preparados fora de lar e o varejo alimentar pode participar dessa oportunidade. Por quê? A matemática é simples: a comercialização do insumo possui margens cada vez mais achatadas. No produto transformado, os drivers de decisão são outros: confiança, qualidade, sabor e apresentação, permitindo explorar margens de dois dígitos.
Em nossa visão, na Gouvêa Foodservice, as operações de restaurante, cafeteria, rotisserie e padaria devem consolidar-se como o mais potente motor no crescimento da rentabilidade do varejo alimentar no Brasil nos próximos anos.
Cristina Souza é CEO da Gouvêa Foodservice.
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