Alimentação sustentável: entre a teoria e a prática, um chamado para atitudes conscientes

Quase 90% dos brasileiros já consideram urgente e necessária a mudança para uma alimentação sustentável

Alimentação sustentável: entre a teoria e a prática, um chamado para atitudes conscientes

Você já parou para pensar na distância entre aquilo que sabemos ser importante para o nosso futuro e o que realmente praticamos? Estava refletindo em relação a isso quando recebi os resultados da nossa primeira pesquisa internacional de sustentabilidade Food Barometer, realizada pela Sodexo em parceria com o instituto global de pesquisas Harris Interactive. Este é um estudo inédito em nosso mercado de atuação e os números revelaram uma urgência palpável para a adoção de uma alimentação cada vez mais sustentável.

A pesquisa Food Barometer coloca luz à percepção dos consumidores dos nossos restaurantes pelo mundo, nos ajudando a pensar e a desafiar o setor de foodservice a ter, de forma ágil e consistente, soluções atrativas e saborosas de alimentação sustentável, que contribuam com a preservação do nosso planeta. Nosso estudo buscou entender as motivações das pessoas diante do tema alimentação sustentável e contou com a participação de mais de 5,2 mil entrevistados na França, Reino Unido, Estados Unidos e Brasil, (1,5 mil brasileiros).

Entre os dados, um me chamou a atenção no recorte do nosso País: 89% dos brasileiros já consideram urgente e necessária a mudança para uma alimentação sustentável. Isso nos mostra que a conscientização está crescendo e os brasileiros entenderam mais rapidamente que o restante do mundo que as nossas escolhas têm impacto em nossa saúde, no meio social e no meio ambiente. Os resultados da pesquisa apontam que nós, brasileiros, valorizamos aspectos importantes da alimentação sustentável. Em muitos casos, até mais do que a média mundial. Globalmente, 75% dos participantes do estudo disseram ter uma percepção muito positiva do tema, enquanto, no Brasil, esse número chegou em 90%. Vejo que aqui no Brasil estamos cada vez mais atentos ao que estamos consumindo, bem como considerando a forma como o alimento foi produzido, comercializado e preparado até chegar ao nosso prato.

Mas mesmo com a consciência em relação a importância da alimentação sustentável, os hábitos da população desafiam as mudanças. A pesquisa revela uma lacuna entre as percepções dos entrevistados sobre a sua alimentação sustentável e a realidade: no Brasil, 50% dos entrevistados acham que a sua alimentação já é sustentável. No entanto, os lacticínios produtos agrícolas (78%) e a carne (71%) continuam entre os produtos mais consumidos regularmente, muito à frente dos cereais (60%) e das proteínas vegetais (45%), com um teor de carbono notavelmente mais baixo. As mudanças que as pessoas estão dispostas a fazer são mais uma questão de ajustes do que de transformação real. Quando questionadas em relação às alternativas que poderiam introduzir em suas refeições, as pessoas respondem com produtos que já comem: como alternativa à carne, mencionam ovos ou laticínios, por exemplo.

As respostas para questões complexas nunca são lineares (elas precisam ser construídas com interesse e resiliência, individuais e coletivos) e precisamos considerar não apenas nossa história e cultura alimentar, mas também a disponibilidade sazonal de alimentos e fatores socioeconômicos. Um caminho para superar tais obstáculos é a maior conscientização do que, de fato, é alimentação sustentável em nosso dia a dia. Ou seja, tem maior centralidade em plantas (frutas, legumes, leguminosas e cereais), buscando encontrar um novo equilíbrio na proporção de proteínas vegetais e animais. E em uma visão mais ampliada, inclui, ainda, práticas agrícolas que preservem a saúde do solo, a biodiversidade e os recursos naturais, além de uma remuneração adequada aos produtores. Em modelo de produção e consumo de alimentos de qualidade que seja ambientalmente responsável, socialmente justa e economicamente viável.

Na prática, toda escolha traz um impacto e precisamos estar dispostos a sair da nossa zona de conforto e buscar um equilíbrio entre nossas necessidades e o prazer de comer. E isso precisa estar nas agendas das empresas, principalmente nas do setor de foodservice. Acredito fortemente que esta mudança necessária está ao alcance de empresas de todos os setores, sobretudo àquelas que trabalham pela saúde e bem-estar das pessoas. Por isso, defendo a alimentação cada vez mais sustentável para reduzir os impactos ambientais, diminuir a emissão de gases de efeito estufa – do campo ao prato nos nossos restaurantes –, combater o desperdício de alimentos, preservar recursos naturais, além de priorizar o uso integral de alimentos, para oferecer opções atrativas e sustentáveis aos nossos consumidores.

Assumir essa responsabilidade não é apenas um dever, é uma oportunidade de gerarmos mudanças consistentes e significativas em nossa sociedade. Sobretudo, porque estamos falando em quebrar paradigmas e questionar comportamentos profundamente enraizados e culturalmente consolidados. É urgente que nos tornemos disseminadores desta agenda para que possamos conectar a nossa paixão pela comida com o nosso amor pelo planeta. Convido você a se juntar a nós nessa jornada, rumo a uma alimentação mais sustentável e consciente. O futuro do nosso planeta está em nossas mãos – e em nossos pratos, com comida atrativa e cheia de sabor!

Andrea Krewer é CEO da Sodexo no Brasil
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
Imagem: Shutterstock

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