A elevação no preço do cacau tem feito confeitarias se reinventarem para não repassar a alta para os consumidores nessa Páscoa. Uma das saídas foi estocar o fruto antes da alta; a ampliação do mix é outra opção usada pelos estabelecimentos
“A gente não está conseguindo repassar totalmente os aumentos de custo para os preços do cardápio. Por isso, estamos ajustando o mix de produtos, mesmo que alguns itens acabem ficando com uma margem de lucro menor do que a de costume. Estamos tentando encontrar um ponto de equilíbrio, porque, do jeito que está, não é bom nem para o cliente, nem para o nosso negócio”, afirma Elisa Dayrell, proprietária da Espetacular Doceria, de Belo Horizonte, Minas Gerais.
Ela comenta que deve adotar ações para aumentar as vendas nesta Páscoa e tentar cobrir os custos com a alta do preço do cacau. “Estamos fazendo ovos recheados de doce de leite e estamos usando o caramelo para substituir o cacau, quando possível”, exemplifica. Além disso, ela diz ter diversificado as formas de pagamento e adiantado a divulgação da venda de ovo para atender melhor o público.
Marília Lima, sócia da confeitaria Cenoradas, na capital paulista, estocou cacau. “A primeira coisa que fiz foi tentar guardar o fruto antes do aumento, porque eu sabia que isso aconteceria. Isso me ajudou a não ser tão atingida pelo aumento do preço do cacau, mas agora, infelizmente, não teve jeito e hoje já estou gastando mais para ter a matéria-prima para os produtos”, afirma.
Ela também percebeu que, com os preços dos ovos de Páscoa elevados, os clientes estão buscando alternativas – e criou as suas. “Eu percebo que a cada ano as pessoas estão comprando mais lembrancinhas, coisas que remetem à Páscoa, mas não necessariamente um ovo de Páscoa para presentear.” Para esse ano, ela conta com cenourinhas, bombons em formato de coelhinho e outros produtos.
Alta no preço do cacau
Com a Semana Santa se aproximando, a busca dos consumidores por chocolates e ovos de Páscoa tem crescido. Mas 70% da lavoura mundial de cacau, que está em uma região da África, vêm sofrendo com crises climáticas desde 2023, o que, consequentemente, tem resultado na elevação do preço dos produtos.
Segundo dados do IPCA de fevereiro, o preço da barra de chocolate aumentou 16,53% em 12 meses. Nesse mesmo período, o preço do cacau aumentou 189%, chegando ao pico de 300%, segundo estimativa da Associação Brasileira da Indústria da Alimentação (Abia). A alta atingiu desde produtores artesanais até as grandes marcas de produtores de chocolate – além, claro, dos consumidores.
Segundo a pesquisa da Abrasel do mês de março, em comparação ao mesmo período do ano passado, 71% dos empresários do setor de alimentação fora do lar esperam aumentar o faturamento no feriado da Semana Santa. O otimismo com a movimentação está, principalmente, na extensão do feriado, que neste ano emenda com o Dia de Tiradentes — na segunda-feira.
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