Distensão à vista

Por Marcos Gouvêa de Souza*

Tudo indica que nesta semana teremos o início do fim de um ciclo. Que os astros permitam e nossa prontidão avalize o início de um novo período de resgate econômico e de mercado no Brasil que, por sua vez, será segmentado em três ondas razoavelmente bem distintas.

A primeira delas é a que marca o período de até 180 dias, que necessariamente deveria ser abreviado, de afastamento da atual presidenta e que culmina com o julgamento final do processo instaurado.

É a onda da esperança cautelosa.

Será um período marcado por muita tensão, menor do que a do períodos anteriores, porém ainda presente, pois o núcleo politico que comandou e desgovernou o País recentemente, estará ainda presente e com recursos, mais limitados, é verdade. E seu poder de tumultuar é mais do que conhecido e reconhecido.

Sob o ponto de vista da sociedade e do mercado, será um período que poderá inspirar um primeiro alento de  distensão, especialmente por parte do omniconsumidor-cidadão.

Contando com uma perspectiva de redução da inflação, conjugada com melhoria do saldo da balança comercial, redução ou estabilização do dólar e bom desempenho da Bolsa de Valores, terá sido criado o cenário potencialmente benéfico para melhoria da confiança, elemento crítico neste momento.

Esse movimento pode suscitar um comportamento positivo de demanda, especialmente nos segmentos não duráveis. Para os duráveis e o imobiliário a recuperação só acontecerá com um reversão real e significativa do humor coletivo.

No setor empresarial o momento inspira, mas também gera preocupações. Cresce a percepção de que estamos mais próximos da idealização do que da realização do muito que tem sido proposto.

Revisão do tamanho e do papel do Estado, desidratação da máquina pública, redução da máquina, reformas estruturais da previdência, trabalhista e tributária, entre outras fundamentais,  ainda terão que esperar o desenlace final com afastamento definitivo da presidenta, até o final do julgamento pelo Senado.

O período será marcado pelo sentimento de que paramos de piorar e que é possível voltar a sonhar.

A segunda onda é a que vai do provável afastamento definitivo e perda de mandato e as eleições de 2018.

O Governo que deverá emergir depois do afastamento definitivo poderá ser bem diferente do que esse do período de até 180 dias e obrigado a composições circunstanciais por conta de um cenário instável e onde ainda se negocia muita coisa, inclusive o próprio afastamento.

Para o mercado, será um período onde de fato se fará a cobrança pelas medidas e decisões mais estruturais que sinalizem a necessária transformação estrutural que o país precise em muitos aspectos, incluindo a própria reforma política.  Nada mais, nem menos. Será tudo ou nada.

Nesse período, será fundamental que o ex-presidente Lula se torne inelegível, para não comprometer o processo de reconstrução.

Ou se mostrará que estamos trabalhando com a correta visão de longo prazo, com um profundo e amplo repensar do papel do Estado e do setor empresarial ou todo o trauma que temos vivido não terá servido para nada.

É nesse período que se mostrará que existe futuro que valha a pena ser vivido para o Brasil.

Podemos caracterizar essa onda como a da “irreversível transformação estrutural”.

Mas não pode ser subestimado o tamanho do desafio por conta do tempo que conspirará contra e as necessárias composições políticas no atual quadro partidário.

O próximo período é o que virá após as eleições.

O que tiver acontecido na primeira e na segunda onda e mais o jogo politico, em novas bases e premissas, será determinante para conhecermos que composição politico-institucional emergiu desse período e em que bases.

Os nomes potencialmente emergentes para a condução do Brasil nessa terceira onda já estão no jogo e na sua velada disputa.

O que todos temos que considerar é que o dramático ciclo que encerra poderá ter servido para muita coisa, dependendo fundamentalmente, do que aconteça nos próximos dois anos.

Ou vamos emergir das trevas para a luz ou estaremos condenados a viver na penumbra dos que não conseguem ser senhores de seu destino.

E a lição que não pode ser esquecida, especialmente para o meio empresarial, é que não se pode delegar a responsabilidade de pensar o futuro do Brasil. É uma tarefa grande e importante demais para ser deixada apenas para os políticos e legisladores.

Que a distensão seja bem-vinda, mas não nos esqueçamos que o futuro exige eterna vigilância.

*Marcos Gouvêa de Souza (mgsouza@gsmd.com.br) é diretor-geral da GS&MD – Gouvêa de Souza. Siga-o no Twitter: @marcosgouveaGS

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