A dificuldade que as empresas têm em se financiar é motivada não apenas pelo custo mais alto do crédito, mas também pela piora das condições colocadas pelos bancos, que ficaram mais cautelosos em emprestar para pessoa jurídica. O drama narrado por empresários teve, talvez, o seu momento mais pitoresco três semanas atrás, quando Luiza Helena Trajano, dona do Magazine Luiza, fez um apelo diretamente ao presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto. “Se você não der um sinal, nós não vamos aguentar”, avisou a empresária durante reunião de lideranças do setor de varejo com Campos Neto.
De lá para cá, não pelo recado de Trajano, mas pela melhora nas expectativas de inflação, a comunicação do BC ganhou gradualmente um tom mais leve, e hoje a expectativa da maior parte do mercado é de que os juros comecem a cair no mês que vem.
De qualquer forma, a fala da varejista fez “viralizar” nas plataformas da internet o lamento frequente nos círculos empresariais. Uma pesquisa feita pela Abit, a associação que representa a indústria de confecção e produtos têxteis, mostra que as empresas do setor que contrataram crédito neste ano depararam-se, além dos juros mais altos, com prazos mais apertados para o pagamento.
Feito com fábricas da indústria têxtil que normalmente buscam financiamento com bancos comerciais tradicionais, o levantamento revela que, para mais da metade delas (52%), os prazos estão piores ou muito piores do que um ano atrás. Metade dos empresários do setor (50%) também aponta piora nas carências – isto é, o prazo dado pelos bancos para o início do pagamento do financiamento -, ao passo que 44% notaram maior exigência nos pedidos de garantia.
A Abinee, associação das fábricas de aparelhos eletroeletrônicos, questionou em sua sondagem mensal como o crédito está fluindo no setor. A resposta: 44% estão encontrando dificuldade para conseguir financiar o capital de giro, ou seja, compromissos financeiros de curtíssimo prazo. Junto com março, quando a mesma dificuldade foi apontada por 46% das empresas, foi o pior resultado para essa questão dos últimos três anos.
Os empresários aguardam ansiosamente o afrouxamento da política monetária para terminarem uma travessia feita sob juros, para usar a imagem de um deles, “asfixiantes”. Diretor-superintendente da Abit, Fernando Valente Pimentel diz que o crédito não acabou, mas ficou escasso e atingiu um custo que faz as empresas lutarem ao máximo para não ir ao sistema financeiro. “Não há negócio que pague os juros atuais. As empresas menores sofrem mais”, assinala.
Existem acertos dentro da cadeia para aliviar a pressão do capital de giro. A Lojas Renner, por exemplo, antecipa recorrentemente, com caixa próprio, os pagamentos de metade de seus fornecedores. Essa corrente de crédito setorial representa, porém, um paliativo de curto prazo e tem limite porque o dinheiro ficou mais caro para todo mundo. “Lidamos com o problema de encurtamento de crédito, juros mais altos e queda no faturamento. São três problemas de grande magnitude”, observa Pimentel.
De acordo com Guilherme Dietze, assessor econômico da FecomercioSP, entidade que representa, em São Paulo, os setores de comércio, serviços e turismo, as empresas chegaram ao limite. Ficou difícil até mesmo formar estoques. Assim, continua Dietze, tem sido complicado negociar prazos de pagamento mais dilatados com fornecedores. “Todos estão apertados. O fornecedor também está pressionado por compromissos com seus próprios fornecedores. Da mesma forma, não é fácil para o varejo, em geral, antecipar pagamentos a fornecedores que precisam de liquidez, pois também vende a prazo”, resume o economista.
Com informações de Estadão Conteúdo (Eduardo Laguna e Cynthia Decloedt).
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