Consumidores do mundo todo adotaram novos hábitos de consumo por causa da pandemia de Covid-19. No Brasil, as vendas de móveis de escritório, material de construção, bicicletas, games e instrumentos musicais, entre outros produtos, aumentaram significativamente. É o que mostra um relatório produzido pelo Itaú Unibanco e que passa a ser divulgado trimestralmente a partir deste mês.
O documento “Análise de Comportamento de Consumo” – feito pela diretoria de Estratégia e Engenharia de Dados do banco em parceria com a área de Pagamentos, criada neste ano – reuniu e analisou os dados relativos às compras feitas ao longo de 2020 com cartões de crédito e débito emitidos pelo Itaú e às vendas transacionadas pela empresa de meios de pagamento Rede em todo o Brasil.
“A análise de uma ampla gama de informações tem sido o caminho para entendermos de maneira aprofundada quem é o nosso cliente e atendermos com mais agilidade às suas expectativas e às particularidades de novos momentos de consumo”, afirma o diretor de Estratégia e Engenharia de Dados do Itaú Unibanco, diz Moisés Nascimento.
Investimento em reforma e home office
Com as pessoas mais tempo dentro de casa, os gastos com transporte urbano e com turismo caíram em 2020, respectivamente, 38,6% e 43,8%, na comparação com o ano de 2019. Em contrapartida, os consumidores investiram mais em suas casas. Por causa do home office, o valor gasto com móveis de escritório cresceu 39%.
Em outra frente de itens comprados para a casa, materiais de construção e reforma, artigos de decoração e produtos para jardinagem e de floricultura tiveram alta de 29,8%. Também se destacaram as vendas de artigos relacionados a pets e serviços veterinários, com crescimento de 13,2%.
Outra conclusão que consta do relatório é a de que, com o fechamento de clubes e academias (que tiveram queda no faturamento de mais de 30% no ano), os consumidores tiveram de buscar novas opções para a prática de exercícios físicos e ocupação mental. As vendas de bicicletas cresceram 54,4% em faturamento, e as de equipamentos de streaming, livros, games e instrumentos musicais, 40,4%.
Maior impacto foi sentido em abril
De modo geral, o crescimento de vendas no comércio, que vinha sendo observado em janeiro e fevereiro de 2020 (mais de 16% ao mês na comparação com os mesmos meses de 2019), foi interrompido no final de março, quando entraram em vigência as medidas de isolamento social.
O maior impacto foi sentido em abril, na comparação com o mesmo período do ano anterior, com queda de 22,4% nos valores transacionados. O consumo começou a se recuperar a partir do terceiro trimestre, e 2020 fechou com faturamento apenas 3,2% maior que o de 2019.
O movimento foi puxado pelos estabelecimentos atacadistas, de materiais de construção, mercados e drogarias e cosméticos. Entre os segmentos que se destacam pela perda de valores transacionados, estão turismo, vestuário, cultura, esportes e entretenimento e educação.
As vendas no varejo físico fecharam o ano empatadas com as de 2019, com o segundo semestre compensando as perdas do primeiro. Já o e-commerce transacionou 19,4% mais que no ano anterior, com crescimento mais acelerado em restaurantes, atacadistas e materiais de construção. Ao final de 2020, os meios digitais já respondiam por 18,9% do total transacionado pelo varejo, contra 16,3% um ano antes.
Valor médio de transação subiu
O valor do gasto médio por transação no comércio cresceu 6,9% sobre 2019. O crescimento foi mais acentuado entre os consumidores de maior poder aquisitivo e é explicado pelas mudanças de comportamento provocadas pela pandemia: para evitar saídas constantes de casa ou gastos extras com frete nas entregas em domicílio, o consumidor preferiu reduzir a frequência de compras, elevando o tíquete médio de cada transação, e também optou em pagar os bens adquiridos em mais parcelas.
A quantidade de pagamentos usando a tecnologia Aproxime e Pague (NFC) subiu exponencialmente após o início da pandemia, com crescimento acumulado no ano de 326%. Antes do isolamento, os pagamentos por aproximação vinham crescendo a uma taxa média mensal de 2,3%.
Mais da metade (50,4%) das compras online foi feita por mulheres, com presença expressiva delas como consumidoras nos setores de vestuário, drogarias e atacadista. Os homens tiveram participação levemente menor nas compras em canais digitais, mas seu gasto médio por transação foi 23,9% maior do que o das mulheres. As compras em atacadistas, de eletrônicos e de itens e serviços de saúde foram as que puxaram o crescimento do tíquete médio dos homens.
Consumidores da geração X (nascidos entre 1965 e 1984) foram os que mais gastaram em 2020 (maior valor transacionado entre as gerações), tanto em compras online quanto presenciais. Já a geração Y (1985-1999) foi a que mais aumentou seu tíquete médio em relação ao ano anterior.
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