A Arezzo e o Grupo Soma anunciaram na segunda-feira, 5, a fusão de suas operações, com o potencial de criar uma das maiores empresas brasileiras de moda. O faturamento combinado será de R$ 12 bilhões, com geração de caixa de R$ 1,5 bilhão e lucro de R$ 750 milhões. A nova empresa, cujo nome não foi divulgado, abrigará 34 marcas. Entre elas, Arezzo, Schutz, Reserva e Vans (da Arezzo & Co) e Hering, Farm, Animale (da Soma). Também terá mais de 2 mil lojas.
Os acionistas do Grupo Soma receberão, para cada uma ação ordinária de emissão do Grupo Soma, 0,120446593048 novas ações ordinárias de emissão da Arezzo&Co, de modo que os acionistas da Arezzo&Co serão titulares de 54,00% e os acionistas do Grupo Soma titulares de 46,00% do capital social da companhia, desconsiderando as ações atualmente em tesouraria. A relação de troca levou em consideração a cotação das ações na bolsa de valores.
O atual comandante da Arezzo, Alexandre Birmann, permanecerá à frente do novo negócio. Roberto Jatahy, CEO do Soma, cuidará da moda feminina.
Desde que rumores sobre a retomada das negociações para a combinação de negócios começaram a vir a público, a alta nas ações da Arezzo e do Grupo Soma superou os 12%. Um dos motivos seriam as sinergias nos negócios cruzados entre as duas empresas, bem como ganhos em produção, negociação com fornecedores e gestão.
“O cenário de aumento de competição induz organizações a se integrarem para se tornarem mais competitivas, seja na racionalização de custos e estruturas, seja na ampliação de suas competências complementares – e esse seria um dos determinantes mais estratégicos para essa fusão”, afirma Marcos Gouvêa De Souza, sócio da consultoria especializada em varejo GS&MD.
“De forma mais objetiva, o setor de moda e vestuário no Brasil está muito mais competitivo e desafiador pois, além dos fatores naturais de aumento da concorrência e desafios pela ampliação da oferta de novas marcas, categorias, canais e players, incluindo a própria indústria operando varejo, temos também as plataformas de e-commerce globais, com isenção de impostos de importação, em flagrante desigualdade competitiva com marcas e negócios formais estabelecidos no país.”
Para ele, as duas organizações foram e são visionárias na sua maneira de operar no mercado interno e também externo e essa “fusão poderá torná-las ainda mais relevantes no mercado interno e estimular uma presença maior forte no mercado externo onde também existem competências complementares a serem potencializadas”.
“Entendemos que o sentido estratégico [do negócio] é o fato de ser a forma mais curta e rápida para consolidar o mercado de moda de alta renda, com um portfólio de marcas que andam juntas: calçado e roupa feminina”, afirma a assessoria de investimentos Nomos.
Para Lucas Rietjens, analista da Guide Investimentos, a operação tem a seu favor ainda o histórico de sucesso de alocação de capital de Arezzo. A companhia realizou inúmeras aquisições que se provaram frutíferas nos últimos anos, como foi o caso da Reserva.
Agora, está próxima de incorporar todo o Grupo Soma por um valuation (avaliação) em torno de R$ 6 bilhões, montante muito próximo que a Soma pagou somente na Hering, quando realizou a aquisição em 2021, de R$ 5,1 bilhões. Na opinião de Rietjens, a transação tende a ser positiva para os acionistas de ambas.
O outro lado da criação de uma empresa deste porte, contudo, é justamente a gestão sem perda de eficiência e a capacidade de conciliar diferentes culturas. Segundo o Citibank, a Hering é a maior do portfólio (com 20% de participação), seguida por Arezzo (13%), AR&CO (13%) e Farm (11%). Além disso, teria um “mix” de canais diversificado, com atacado representando 31% das vendas totais; lojas próprias, 28%; e-commerce, 23%; e franquias, 17%.
Um obstáculo que a operação ainda enfrentará é a resistência de alguns acionistas relevantes, preocupados com o endividamento da Soma e também porque não está previsto no acordo o pagamento de prêmios, e sim uma troca de ações.
Ele acrescenta que os cálculos sobre possíveis ganhos da operação estão comprometidos porque não é possível prever o impacto da MP 1185, que muda os benefícios fiscais do ICMS, a vigorar a partir desse ano. Mas possivelmente, segundo Carvalho, a fusão poderá gerar ganhos de ágio no médio a longo prazos, que compensarão as perdas com a mudança fiscal.
Com informações de Estadão Conteúdo (Cristiane Barbieri)
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