A J&F Investimentos, holding dos irmãos Joesley e Wesley Batista, decidiu se aventurar na mineração, com a compra de minas de minério de ferro e manganês da Vale. Com isso, a holding, mais conhecida por ser a dona da gigante das carnes JBS, fez uma aposta fora do setor de alimentos. Segundo fontes ouvidas pelo Estadão, o movimento, que ocorre em um dos melhores momentos de preço do minério dos últimos anos, tem por trás a intenção de tornar o grupo uma gigante exportadora – independentemente do setor.
Segundo fontes que acompanharam a transação, os irmãos Batista acreditam que o produto a ser exportado pode variar, mas a essência negocial seria a mesma, mesmo com as eventuais diferenças dos mercados. Logo, haveria ganhos de escala a serem aproveitados pela J&F.
Prova disso é que, em 2010, a holding fundou a Eldorado Celulose. A companhia acabou vendendo o negócio em seu momento de maior crise – na época da prisão de Wesley e Joesley Batista, em 2017, que resultou em um acordo de leniência de R$ 10 bilhões com a Polícia Federal. Após fechar venda da Eldorado por R$ 15 bilhões para a Paper Excellence, a empresa tentou desfazer o negócio, que há anos é discutido na Justiça.
O valor da transação com a Vale, de US$ 1,2 bilhão (cerca de R$ 5,7 bilhões), envolveu, na prática, um desembolso de US$ 150 milhões (cerca de R$ 710 milhões) no fechamento da operação. O restante do valor, na verdade, se refere a garantias dadas pela J&F em contratos logísticos já existentes, no valor de US$ 1 bilhão (R$ 4,75 bilhões).
“Essa garantia pode ser uma aplicação financeira. A garantia só será executada se eles não cumprirem os contratos. E não tem muita gente no Brasil capaz de dar uma garantia desse tamanho”, comentou uma fonte do mercado financeiro. Foi essa garantia que fez a holding levar o negócio.
Em produção
Os Batistas enxergaram na operação com a Vale uma boa oportunidade de entrar nesse mercado e viram poucos riscos envolvidos na compra do ativo. Na mineração, o maior desafio para as empresas é iniciar um projeto do zero, o que envolve uma série de riscos, incluindo a obtenção de licenças. Mas as minas adquiridas pela J&F já produzem.
Segundo a Vale, o Sistema Centro-Oeste produziu 2,7 milhões de toneladas de minério de ferro e 200 mil toneladas de manganês em 2021. “Para quem começou com um açougue em uma rua comum em Goiânia e chegou onde chegou, Corumbá (referência à cidade de MS onde está localizada a mina) será um excelente começo”, disse uma fonte próxima ao negócio.
Apetite para mais
Outro impulso que levou os Batistas à nova empreitada é o fato de estarem com dinheiro no caixa e dispostos a comprar ativos com potencial exportador. “Eles já têm uma posição dominante nos mercados de alimentação, o que dificulta novas aquisições, por conta das leis de concorrência”, disse uma fonte próxima às negociações. A ideia é ir atrás de negócios com alto potencial de rentabilidade. “Certamente eles não vão parar por aí.”
Segundo fontes consultadas pelo Estadão, outras minas semelhantes às da Vale ainda devem ser vendidas, e a expectativa é de que a J&F participe do processo competitivo. Além da gigante dos alimentos, há fundos de private equity (que compram participação em empresas) já atentos ao momento em que a Vale colocar à venda outros ativos desse tipo.
Além da própria JBS, a J&F tem em seu portfólio Banco Original, PicPay, Flora (do setor de higiene e limpeza) e a Âmbar Energia. Além da Eldorado, já foi dona da Alpargatas (dona das Havaianas) e também da marca Vigor – ambas também foram vendidas durante a crise que o grupo viveu em 2017.
Procurada pela reportagem, J&F não comentou.
Com informações de Estadão Conteúdo (Fernanda Guimarães)
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