Empresas nacionais entram em outros países com auxílio de fundos de private equity

Companhias até então com atuação doméstica começam a colocar os pés fora do Brasil

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Sem tradição em expansão para o exterior, empresas brasileiras de diferentes setores têm aos poucos testado o apetite de consumidores em mercados internacionais. De marcas de cosméticos como Skala e Prestige, passando pela tradicional tubos Tigre, a nomes de TI como CI&T e Scanntech, companhias até então com atuação doméstica começam a colocar os pés fora do Brasil com a ajuda de fundos de private equity, que compram participações em empresas.

“Internacionalização é um dos pilares que a gente olha na hora de fazer uma aquisição”, diz Rogério Cafruni, chefe de criação de valor do portfólio da Advent International. “É claro que depende muito da empresa e da área em que ela atua, mas temos uma visão muito clara de quais são as hipóteses de criação de valor antes de executar o negócio, e ir para o exterior é uma delas.”

O Warburg Pincus está mapeando em seu portfólio global, neste momento, casos de sucesso de empresas que fizeram esse movimento para identificar melhores práticas e adotá-las em companhias nas quais investiram e que tenham essa necessidade. “A internacionalização de companhias brasileiras é bastante recente e foi puxada sobretudo por clientes que têm operações em outros países e pediram que os atendessem também nesses mercados”, afirma Frances Fukuda, responsável pela área de criação de valor da Warburg Pincus no Brasil.

Para Carlos Penteado Braga, coordenador do centro de inovação e ESG da Fundação Dom Cabral (FDC), esse é um dos principais motivos que levam empresas brasileiras ao exterior. Os outros são encontrar demanda forte lá fora por causa da aderência de algum produto, e bater no teto de crescimento do mercado doméstico, quando se começa a ter problemas com as autoridades concorrenciais. “É uma dinâmica parecida com a que acontece nos Estados Unidos e bem diferente da Europa, onde as companhias já nascem olhando para fora.”

Com mais de US$ 90 bilhões em ativos pelo mundo, a Advent tem propósitos bastante específicos em sua estratégia de internacionalização de empresas. Segundo Cafruni, ter presença em mercados maduros reduz a instabilidade de negócios que dependem de países em desenvolvimento, mais suscetíveis a altas e baixas inesperadas da economia.

“Uma empresa que é só brasileira tem um nível de volatilidade muito maior do que a média”, afirma ele. “Ter um pedaço da receita em moeda forte, em locais em que se pode atrair potenciais compradores que provavelmente não querem estar só suscetíveis ao peso do Brasil, é bastante interessante.”

Empresas de tecnologia adaptam-se com mais facilidade em outro país

Fundada em 2012, a Ebanx – que faz pagamentos globais para plataformas de comércio eletrônico – já tem metade do volume de suas transações em dólar. Além de América Latina e China, a fintech começa a se expandir pela Índia e pelo continente africano para fazer com que os consumidores daqueles países façam operações em suas moedas locais, comprando em qualquer lugar do mundo. A empresa é apenas um exemplo de companhia nacional que tem buscado a internacionalização de seus serviços.

A consultoria de transformação digital CI&T, que abriu capital na Bolsa de Nova York, também tem apostado na diversificação. A empresa tem cerca de 40% de sua receita de R$ 2,2 bilhões proveniente do exterior.

No setor de construção, a Tigre, que já era líder em vários países da América Latina, ergueu uma fábrica nos Estados Unidos e adquiriu a Dura Plastics, na Califórnia, antes da entrada da gestora Advent. “Fez parte da nossa tese de investimento ter um crescimento um pouco mais estruturado nos Estados Unidos, que ainda tem um mercado fragmentado nessa área”, diz Rogério Cafruni, chefe de criação de valor da Advent International. “Acabamos de trazer um chefe novo para a região e estamos trabalhando para identificar oportunidades tanto de crescimento orgânico quanto novas aquisições.”

“Nossa proposta é investir em empresas de elevado crescimento e que tenham ambição de atuação nas Américas do Sul, do Norte e Central”, diz o sócio do Grupo Leste, de private equity (que compra fatias em empresas), Eduardo Karrer. “Empresas que queiram se internacionalizar, não somente sair do Brasil e exportar, mas se tornarem efetivamente multinacionais (estão no foco)”, diz o sócio Fabrício Bossle.

A Scanntech, da área de TI, tem começado a estudar os custos de expandir a operação internacional. Apesar de ter nascido no Uruguai, a companhia tem no Brasil seu principal mercado.

De acordo com Carlos Penteado Braga, coordenador do centro de inovação e ESG da Fundação Dom Cabral, empresas de tecnologia têm vantagem nessa expansão internacional, uma vez que não há necessidade de montar estruturas produtivas. Um escritório e alguns representantes bastam para abrir uma frente em outro país. “No caso de indústrias, o processo é mais custoso e geralmente começa com uma estrutura de distribuição terceirizada”, afirma.

Parceria

Os fundos de private equity dizem ter uma vantagem na hora da internacionalização: a rede de profissionais espalhados pelos principais mercados, que os ajudam tanto a tomar a decisão de investimento no exterior quanto a implementar planos de negócios. “São especialistas que as companhias sozinhas não acessariam”, afirma Frances Fukuda, responsável pela área de criação de valor da Warburg Pincus no Brasil.

Com informações de Estadão Conteúdo (Cristiane Barbieri e Aline Bronzati).
Imagem: Divulgação

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