A discrepância salarial entre CEOs e os demais funcionários de uma empresa deve diminuir a longo prazo. Isso porque, o mercado, os acionistas das companhias e os grandes fundos de investimentos vão cobrar mais transparência na gestão e a implantação de práticas ligadas ao ESG (ambiente, social e governança). A avaliação é de Paulo Almeida, professor e pesquisador nas áreas de Liderança, Gestão de Pessoas e Desenvolvimento Organizacional da Fundação Dom Cabral.
Esse desafio é confirmado por pesquisas recentes. O Estudo do Pacto Global da ONU, divulgado no começo deste ano, revelou que 93% dos CEOs estão enfrentando dez ou mais desafios de sustentabilidade. Segundo a pesquisa, 98% dos entrevistados admitiram que o tema é essencial em seus cargos, um salto de 15 pontos porcentuais em relação aos últimos 10 anos.
Na medida em que as formas de trabalho se tornam mais orgânicas e menos hierarquizadas, a tendência é de que a disparidade salarial diminua.
Outro destaque é que acionistas minoritários também devem ter mais voz e pressionar por mudanças na governança das empresas.
“Se essa consciência mudar e se a agenda de ESG avançar, isso vai gerar uma pressão, um efeito cascata”, avalia Almeida. O novo modelo de governança terá impacto em questões éticas, como o futuro do planeta e os salários dos CEOs.
A remuneração tende a ser mais atrelada com os resultados e os impactos de sustentabilidade da companhia.
Quais são as mudanças principais
Nesse sentido, o pilar da liderança do futuro será construído a partir de três pontas:
– Stakeholders (todas as partes envolvidas com a empresa, como acionistas, funcionários e comunidade próxima a ela): as cobranças dessas pessoas terão um peso maior na tomada de decisão dos CEOs.
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Sustentabilidade: promover a agenda ESG nas empresas em paralelo às estratégias de crescimento e investimento.
– Transparência: empresas mais transparentes terão menos dificuldade para combater desigualdades e reduzir gap salarial dos altos cargos em relação aos demais funcionários, a exemplo do CEO, avalia o pesquisador Paulo Almeida.
Almeida diz que, caso esse movimento realmente ganhe corpo na sociedade, não é aceitável “um perfil de CEO que faça investimentos não-limpos, não-verdes, não-sustentáveis.”
Nova geração x velha geração
Outro ponto que o pesquisador destaca é o etarismo nas empresas, que segrega a forma de pensar de duas gerações diferentes.
De um lado, a mais antiga é estigmatizada como um grupo que não se importa em como o dinheiro é investido e não está comprometido com o conceito ESG.
Do outro lado, supõe-se que as pessoas mais novas estejam “naturalmente” dispostas a mudar esse comportamento. Segundo Almeida, essa ideia é equivocada.
“Esse discurso [de que as pessoas mais velhas não se importam] não pode ser normalizado”, afirma, acrescentando que o novo perfil do CEO não tem a ver com idade, mas, sim, com ética comportamental.
“Isso é válido para os mais jovens e para quem já está ocupando esses cargos. É uma virada de perfil que não tem relação com idade”.
Com informações de Estadão Conteúdo.
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