O ano está quase terminando e, apesar do cenário mundial de conflitos e inflação, é importante termos uma visão construtiva do Brasil para o médio prazo. Afinal, o pessimismo jamais foi um estímulo para o consumo; e o otimismo sem realismo, na mesma medida, também nunca foi bom para os negócios.
Os gestores do mercado brasileiro têm a combinação de resiliência e jogo de cintura carimbada. Inclusive, muitos executivos brasileiros foram recrutados por empresas internacionais para expatriação, devido à habilidade em atuar nesse cenário volátil.
Em anúncio realizado pelo Banco Central no dia 8 de dezembro, foi confirmado que a previsão para o PIB do Brasil em 2024 é de 3,39%. Há exatamente quatro semanas, a projeção era de 3,1%, e anteriormente, de 2,4%.
Com o objetivo primário de conter o consumo, e consequentemente a inflação, o Banco Central mantém a estratégia de juros elevados. Porém, não estamos vendo esse impacto na prática. Com nível de emprego elevado (cresce a renda familiar disponível), aumento de salário mínimo e benefícios sociais (Bolsa Família), parece que faltou combinar o jogo com o consumidor.
Os juros altos vêm sufocando alguns setores, especialmente o de alimentação fora do lar. Infelizmente, para 2025, a queda de juros não deve ocorrer na velocidade que o mercado deseja.
Em pesquisa realizada pela Abrasel, comparando as mesmas bases de estabelecimentos em operação, 57% dos negócios, entre maio de 2023 e abril de 2024, faturaram igual ou menos ao que faturaram no mesmo período nos anos de 2022 e 2023 Somado ao contexto de endividamento a fragilidade do segmento é eminente.
Olhando o copo meio cheio, a pesquisa indica que 43% de negócios de bares e restaurante apresentaram crescimento de faturamento. Como consultoria especializada no setor, o que temos observado é que quem está bem, está ficando cada vez melhor. Então organizamos algumas boas práticas implementadas por negócios de sucesso:
Digitalização e tecnologia: uso de tecnologias avançadas, como sistemas de pedido online, apps de entrega, e pagamento contactless, para facilitar a experiência do cliente e otimizar operações.
Personalização da experiência do cliente: oferecer opções personalizadas para atender às preferências individuais dos clientes, como adaptações de menu para preferências ou necessidades específicas (exclusão ou inclusão de ingredientes) e programas de fidelidade personalizados.
Transparência: comunicação clara e aberta com os clientes sobre ingredientes, processos de origem dos alimentos, e práticas de sustentabilidade, fortalecendo a confiança e lealdade do cliente.
Inovação de menu: introdução de novos sabores e conceitos culinários, inspirados por tendências globais, para manter o interesse dos clientes e atrair novos públicos.
Foco em saúde e bem-estar: desenvolvimento de opções de menu que atendam às tendências de saúde, como alimentos à base de plantas, sem glúten, e alto teor de proteínas, respondendo à demanda crescente por escolhas mais saudáveis.
Operações eficientes: melhoria da eficiência operacional através de treinamento da equipe, otimização de processos e uso de gestão baseada em dados para tomar decisões informadas.
Experiência omnichannel: integração de canais físicos e digitais para proporcionar aos clientes uma experiência de compra coesa e flexível, permitindo interações fluidas em múltiplas plataformas.
Treinamento e desenvolvimento de equipe: investimento contínuo e inovador (plataformas, combinações tech/touch) no treinamento e desenvolvimento dos colaboradores para garantir excelência no atendimento ao cliente e inovação constante nos serviços oferecidos.
Engajamento com as comunidades: participação ativa na comunidade local e apoio a eventos e causas locais, fortalecendo a presença e reputação da marca na área.
Sustentabilidade: implementação de práticas sustentáveis em toda a operação, desde a escolha de fornecedores a redução do desperdício de alimentos e reciclagem.
Esse cenário de performance tem gerado maior concentração e crescimento para algumas marcas e, certamente, deixará o mercado de alimentação transformado, porque consumidores exigentes somados a negócios de alta performance elevam o nível de profissionalização do setor.
Outro desafio apontado é o nível de capacitação de empreendedores e gestores. Temos acompanhado um movimento de pulverização de mentorias, mas, fato é que os gestores precisam de menos indicação de caminhos e mais ombro a ombro. Planos claros, bem construídos e multicenários.
E, sem dúvida, nesse contexto, o trabalho dos consultores faz a diferença na aceleração de resultados. Menos apego ao passado, mais ousadia para a mudança e uma clara visão dos resultados que podem ser obtidos pelas muitas experiências em diferentes tipos de negócios.
Vamos nos conformar em perder 57% dos negócios brasileiros que não estão com boa performance? Certamente, não. A mentalidade é “ninguém solta a mão do outro”. É esse o mood com que gostaríamos de fechar esse artigo. Te convidamos a fazer mais e fazer juntos. Até o próximo.
Cristina Souza é CEO da Gouvêa Foodservice.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
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