A evolução do franchising no Brasil é um case global e coloca o País entre os maiores mercados do mundo nesse modelo de negócio, com perto de 200 mil franquias, faturamento de R$ 240,6 bilhões, em 2023, 3.300 marcas franqueadas e participação no PIB estimada de 2,2%.
Os Estados Unidos são o maior mercado de franquias do mundo, com 800 mil unidades e participação no PIB estimada de 4%, enquanto na França são 78 mil unidades e cerca de 3,5% de participação.
Na China, estima-se que existam 300 mil unidades, enquanto no Japão operam cerca de 260 mil, com uma média de 2,5% de contribuição para o PIB.
Diversos fatores contribuem para explicar o crescimento, a representatividade e a vitalidade do setor de franquias no Brasil, incluindo o espírito empreendedor; a competência das maiores redes, que absorveram, adequaram e se tornaram referência local e global no modelo de expansão; além do apelo pelo empreendedorismo individual.
Deve ser citada também a atividade estruturada da ABF, entidade fomentada com espírito empresarial e decisiva em atividades de promoção, difusão das melhores práticas e organização de iniciativas.
Também é importante lembrar que, diferentemente de muitos mercados, as taxas internas de juros inibem investimentos empresariais próprios. Além disso, a complexa e onerosa estrutura tributária gerou a criação do Simples, que estimula o modelo de franquias. E a legislação trabalhista, que muitas vezes atua como inibidor de investimentos corporativos, também incentiva a opção pelo franchising como modelo de negócio e estratégia de distribuição.
Assim como ocorre no varejo em geral, nos serviços é crescente a adoção do franchising como modelo de negócio. Os dois setores com maior representatividade no País são o de foodservice, com faturamento de cerca de R$ 50 bilhões, e o de saúde, beleza e bem-estar com R$ 55,6 bilhões.
De alguma forma, esses fatores contribuíram para que o Brasil se transformasse num benchmarking global, com duas das maiores redes franqueadas do mundo: a Cacau Show em chocolates, com 4535 unidades (e 120 em implantação), e O Boticário, com cerca de 3700.
Em ambos os casos, o franchising foi a estratégia predominante, mas também operam com a proposta de serem multimarcas, multicanais, multicategorias e multimodelos de negócios.
A proposta em discussão e a aprovação final da reforma tributária podem contribuir para simplificar ainda mais o emaranhado tributário do País e impactar positivamente o setor. Da mesma forma, a transformação estrutural do emprego e das relações no trabalho deve estimular o apelo das franquias como atividade empreendedora inicial.
Essa realidade tem estimulado corporações como Carrefour, Ambev, P&G, Nestlé e Unilever a também adotarem o franchising como estratégia de expansão de negócios, acelerando a cobertura de mercado e integrando, de forma virtuosa, pequenos e médios empreendedores.
Interessante notar que a China também tem se destacado no franchising, com a combinação de redes tradicionais de varejo que operam franquias, como os super e hipermercados Lianhua, Wumart, RT-Mart e Yonghui, assim como o Gome, de eletroeletrônicos, e o Watsons, em saúde e cuidados pessoais.
Vale muito a reflexão das oportunidades que esse modelo de negócio pode oferecer ao combinar dedicação, envolvimento, foco e empreendedorismo individual com a força da marca, apoio, recursos e estímulos proporcionados pelas marcas e corporações. Em especial, em uma realidade como a do Brasil.
Nota: No Latam Retail Show, de 17 a 19 de setembro no Center Norte, em São Paulo, haverá especial ênfase, conteúdo e programação dedicados aos diferentes modelos de negócios sob os quais o varejo opera no Brasil, incluindo o franchising. As discussões vão abordar as transformações no mercado, na geografia, na política e na economia, além de seus impactos no consumo, no comércio e no varejo, considerando diferentes canais, categorias, formatos de lojas e modelos de negócios, tanto no Brasil quanto nos mercados globais. O evento também terá transmissão virtual de parte do conteúdo para quem não possa participar presencialmente. Os ingressos limitados já estão disponíveis pelo site.
Marcos Gouvêa de Souza é fundador e diretor-geral da Gouvêa Ecosystem e publisher da plataforma Mercado&Consumo.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
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