Momentum: Separação Amigável

Digital composition of businesswoman standing with hands on hip on wooden walkway against cityscape

Acontece até nas mais avançadas economias. Vejam o exemplo dos Estados Unidos onde todos os aspectos políticos que envolvem o presidente Donald Trump se tornam cada vez mais confusos e evoluem para um enredo sem perspectiva de final feliz. E, no entanto, a economia vai muito bem, obrigado. No cenário brasileiro parece estar se desenhando algo similar.

Ante frustrações e mais frustrações no cenário político, surpresas atrás de surpresas, e um enredo também para lá de enrolado e indefinido, a economia –  o mundo real –, parece querer se descolar para seguir seu rumo tendo como compromisso encontrar caminhos para reorganizar o que a política bagunçou. E bote bagunça nisso.

Distante dessa separação amigável, 14 milhões de brasileiros desempregados, ou sub-empregados, assistirão ansiosos os próximos capítulos.

Por uma filigrana jurídica, num apertado 4×3, a chapa eleita nas últimas eleições não foi cassada. Prevaleceu ao final, para o bem ou para o mal, a ideia de que a não cassação era o mal menor. Mas ninguém se conforma em ver como a esfera política nacional bóia num lodaçal – ou num pantano, se assim preferirem –, que mistura corrupção e práticas condenáveis em escala jamais antes imaginada. Tudo indica que as surpresas continuarão a surgir à medida que avancem os processos de delação premiada, num salve-se quem puder geral. E o país continua assistindo a tudo atônito e anestesiado ante tanta desfaçatez.

Mas eis que, de forma não planejada ou programada, o mundo real resolveu mostrar sua cara e uma sequência positiva de fatores sobrepõe-se à série infindável de surpresas desagradáveis.

Puxado pela redução expressiva da taxa de inflação e o desempenho do setor agrícola, o país começa a se movimentar e sair do torpor que nos asfixiou nos últimos dois anos. E, rigorismos à parte, podemos constatar que está superada a parte mais crítica da maior recessão que este país já viveu.

O que ninguém pode negar é que o processo de recuperação será longo e de apenas pequenas vitórias, hoje um consenso nacional. Todos que têm algum grau de informação sabem que será dolorosamente cauteloso o processo de recuperação de mercado e não há como imaginar cenário diferente, sendo inconsequente, ou ingênuo, quem acreditar que possamos voltar no curto prazo a patamares de crescimento similares ao que vivemos no período 2004-2013.

As estimativas mais realistas mostram que a recuperação efetiva do emprego só deverá acontecer em meados de 2018 e até lá vamos conviver com massa salarial real similar àquela que tivemos em 2013 e apenas potencialmente beneficiados pela melhoria dos índices de Confiança dos Empresários e Consumidores, nos intervalos dos escândalos que ainda nos aguardam.

Mas aparentemente temos a perspectiva dessa separação amigável entre o político e o econômico, o que pode ser muito benéfico ao país.

Especialmente se ela permitir o avanço da votação e aprovação da Modernização Trabalhista, marco fundamental desse descasamento.

Tanto quanto, num outro possível cenário, o avanço da Reforma da Previdência, fator também crítico para sinalizar a disposição para construção de uma outra realidade.

Faltariam prosseguir as necessárias e fundamentais reformas tributária e política, mas isso já seria querer demais de um governo transitório e marcado pela quadro de instabilidade crítica.

A ponte para o futuro que se desenhava no discurso do PMDB, pré-cisão do governo Dilma, parece ficar cada vez mais distante e é substituída por uma instável e mambembe ponte de cordas, para travessia desse período que nos leva às eleições de 2018 quando, não há como negar, as dúvidas são ainda maiores sobre as alternativas que temos como nação.

Mais do que a ausência de líderes que possam ajudar na transição para esse outro futuro, existe uma carência crônica de instituições que possam agir decisivamente para ajudar a construir um outro país.

O Legislativo e o Executivo, especialmente na esfera federal são, talvez, as instituições com menor grau de confiabilidade e sobre as quais recaem as maiores certezas sobre seu distanciamento e desconexão com essa visão futura. Especialmente pela falta de propostas, visão e propósito.

O Judiciário, em muitas de suas esferas, está se lambuzando com seu melado e, ao mesmo tempo que em alguns momentos traz uma importante contribuição para o repensar da nação, também se enrola no arroubos e efêmero protagonismo mediático.

Ao setor privado, especialmente ao empresariado do bem, falta vontade, conhecimento, apetite e determinação para assumir novas responsabilidades para além daquelas que envolvem o seu próprio negócio. Comportamento que, decisivamente, discordamos.

Nesse cenário, não surpreende o que ouvimos de um dos principais banqueiros deste país ao manifestar sua frustração e desesperança.

Se para um líder do setor financeiro do Brasil, segmento que esteve acima de todo o drama vivido recentemente pelo mercado, o cenário é de cautelosa frustração, o que esperar de todos os demais líderes do setor empresarial?

Vamos torcer para que se consuma o mais rapidamente possível essa separação amigável entre a política e o mundo real e que cada lado vá para seu canto tentar reconstruir sua vida. E que ambos sejam felizes do seu jeito.

É o que nos resta por agora.

 

NOTA. No Latam Retail Show, que acontece entre 29 a 31 de agosto, no Expo Center Norte, em São Paulo, especial atenção será dedicada ao setor de Food Halls e Food Service pela dimensão da sua transformação estratégica e representatividade econômica, com palestras, debates e cases, nacionais e internacionais, para atualização dos profissionais e executivos que atuam na área.

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