COP 28 chega ao fim com muitas discussões e poucos resultados

A pressão na terra dos anfitriões foi tamanha que não houve chance para os negociadores e especialistas avançarem no Acordo Global para o fim do uso de combustíveis fósseis

Durante quase duas semanas, representantes do mundo todo se reuniram em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, para discutir os rumos do clima no planeta, durante a 28ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU), a COP 28.

Líderes, diplomatas, ativistas, empresários e membros da sociedade civil organizada, de mais de 200 países, juntaram-se à mesa para propor a construção de soluções para diminuir os impactos da crise climática no mundo nos próximos anos. É consenso entre os especialistas que foram muitas as discussões, porém poucos os avanços e resultados concretos e práticos. 

O momento mais esperado da COP 28,  o acordo global para o fim do uso de combustíveis fósseis, o chamado  Global Stocktake, pouco caminhou em relação ao último encontro da ONU. O documento final, apresentado nesta terça-feira, 12, deixou de fora o compromisso pela eliminação gradual dos combustíveis fósseis. A pressão na terra dos anfitriões foi tamanha que não houve chance para os negociadores e especialistas avançarem no acordo. 

Por outro lado, os participantes se comprometem a impulsionar a discussão das energias renováveis e o uso de novas tecnologias que alcancem a meta de taxa zero de emissão de gases de efeito estufa até 2050, conforme o Acordo de Paris. O problema é que 2050 é logo ali e, diante dos resultados alcançados, mitigar a elevação da temperatura em até 2 graus no planeta, na comparação com a era pré-industrial, é tão desafiador quanto convencer os gigantes do petróleo a pisarem no freio. 

No impasse, dois interesses distintos: países pobres precisando desesperadamente da eliminação gradual dos combustíveis fósseis, de compensação e investimentos, lutando para permanecer no mapa-múndi nos próximos anos. Do outro lado, os grandes e ricos países, maiores algozes do clima, não permitiram que o texto explicitasse a redução, pois são eles mesmos os maiores produtores desta fonte de energia fóssil. 

O que se pode observar é que todo esse esforço em busca de soluções acaba esbarrando em interesses individuais de determinados segmentos e mercados, em detrimento do bem coletivo e mundial.

O combustível fóssil faz parte da nossa construção social, econômica e cultural há décadas, mas não negar a realidade é também a possibilidade perfeita para criarmos novos caminhos, alternativas e inovações sustentáveis, para compensar as perdas e mirar no futuro do planeta. E já temos capacidade intelectual, tecnologias e recursos para avançarmos em uma velocidade exponencial nesta pauta.

Ainda há muitas possibilidades de exploração de petróleo e carvão mundo afora. São negócios, acordos comerciais e muito, muito dinheiro envolvido. A entrada do Brasil na Organização dos Países Exportadores de Petróleo e Aliados (OPEP+), durante a COP 28, mostra o descompasso do País entre as suas necessidades comerciais e as planetárias, de redução na produção e emissão de combustíveis fósseis. Contradiz, inclusive, a política nacional de transição energética e de incentivo a fontes renováveis.

É claro que os poucos avanços trazem certa angústia para os especialistas da área, porém é necessário destacar aqui que, a cada ano da conferência, mais países têm buscado entrar nas discussões, o que tem dado mais relevância às questões climáticas e transformado o assunto de interesse coletivo, que precisa ser discutido globalmente, entre todas as nações. Estamos todos no mesmo barco, e ele não pode afundar!

A sociedade tem buscado entender melhor o tema e participar ativamente nas soluções. As pessoas estão começando a entender que a produção exagerada de dióxido de carbono (CO2), o consumismo desenfreado, o desmatamento, a emissão de outros gases de efeito estufa, uma agricultura não sustentável e tantas outras variáveis, sim, têm a ver com o fato de estarmos vivendo períodos de extremos. 

De extremo calor, de incêndios, de seca e estiagem, de enchentes cada vez mais violentas, de problemas de saúde, socioambientais, econômicos e tantas outras questões. É imperativo nos unirmos em busca de políticas públicas e privadas para conter o aquecimento global. 

O poder público, a sociedade civil e as empresas são os três pilares fundamentais  para o desenvolvimento sustentável. A conferência da ONU de certa forma expõe as grandes e pequenas nações, suas políticas públicas, sua disposição em mudar e avançar, ou não. 

Por outro lado, a sociedade mostra a sua preocupação ao desenvolver e criar cidadãos éticos e responsáveis com seus impactos, consumidores cada vez mais conscientes, que ao final avaliam e tomam a decisão de comprar produtos mais sustentáveis, recuperar e reciclar, extraindo menos recursos naturais e, portanto, poluindo menos  o mundo. São ações que vão do global ao local, e todos nós somos responsáveis.

E esse ciclo de consciência também força que as empresas se responsabilizem e se comprometam a buscar soluções sustentáveis na produção dos seus produtos e prestação de serviços. O setor industrial é um dos maiores compradores de insumos e, consequentemente,  gerador de resíduos. O empresário socialmente responsável investe em políticas e processos de ESG (Environmental, Social and Governance) visando o balanço entre valor econômico e a preocupação com as questões ambientais, sociais e de governança. 

Mas é preciso ver o copo meio cheio aqui. Apesar de poucos, os avanços da COP 28 também foram significativos, como a aprovação do Fundo de Perdas e Danos – ainda que expresse uma atuação remediativa e paliativa – criado para ajudar os países mais pobres a atravessarem a crise do clima. No apagar das luzes, a Noruega anunciou cerca de R$ 245 milhões para o Fundo Amazônia, que financia ações de redução de emissões de gases de efeito estufa, provenientes da degradação florestal e do desmatamento. A torcida agora é para que este investimento preserve efetivamente a biodiversidade deste bioma e contribua para o progresso social das suas comunidades tradicionais, e haja uma prestação de contas transparente e coerente com os objetivos propostos.

Agora é esperar para que até a COP 30, no nosso Brasil, na cidade de Belém do Pará, possamos ter respostas e acordos que vão mudar realmente essa história – as pessoas e o planeta estão realmente saturados. 

De certo mesmo, só o fato de que o mundo estará prestes a conhecer o nosso famoso tacacá!

Mayra Souza é empresária, palestrante e sócia-fundadora da SEED Consultoria em SustentabilidadeFelipe Barroso é empresário e sócio-diretor da Transforma Energia.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
Imagem: Shutterstock

 

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