As pessoas precisam de lojas físicas e de shopping centers

Rick Caruso, fundador e CEO da Affiliated Caruso, uma das maiores empresas do setor imobiliário dos EUA fez uma das melhores palestras na NRF deste ano. Ele causou certo desconforto em alguns varejistas quando disse que o shopping típico dos EUA tem perdido sua vocação. Se eles não se reinventarem, nos próximos 10 ou 15 anos serão considerados ultrapassados.

Segundo ele, os melhores shopping centers são projetados em torno do prazer, não exatamente apenas para compras. Fazendo as pessoas felizes elas consumirão mais e mais. Seu centro comercial “open mall” em Los Angeles, o “The Grove”, atrai 18 milhões de visitantes por ano e está listado entre os 15 melhores centros comerciais em todo o mundo considerando suas vendas por metro quadrado. Tem como principal foco operações de gastronomia, lazer e diversão, além das lojas. Ao invés de ficarem em casa e fazerem compras on-line, os clientes buscam, sobretudo, a atmosfera do lugar e a experiência.

Mais do que nunca, os consumidores anseiam interação humana e isto a tecnologia não pode fornecer. Claro, depois de um dia de trabalho, você pode se sentar no seu sofá e comprar diversos itens, escolhendo o tamanho e as cores, mas essa experiência é memorável? Será que atender as suas necessidades primordiais é melhor do que se reunir com outras pessoas? Os varejistas precisam entender que se não podem igualar à “Amazon” no preço, para manterem-se no mercado precisam entender que, de fato, as pessoas são solitárias e precisam se socializar.

O que os varejistas estão fazendo, segundo ele, é o que os homens das cavernas faziam: Convidando as pessoas para entrarem na sua caverna para sentar-se diante do fogo. (fazendo uma analogia, é o que a Starbucks faz quando convida o consumidor para um acesso Wi -Fi degustando um copo de café).

“Quando você cria uma experiência de varejo convincente, não só as suas vendas crescem, como sua participação no coração deste cliente aumenta – e isto é conhecido como a fidelidade do cliente”, disse ele.

Traduzindo essa visão do Caruso à realidade brasileira, aqui também notamos que os brasileiros definitivamente também querem cada vez mais comida, diversão e arte. Com a melhoria da renda dos brasileiros, o orçamento doméstico da classe média começa a comportar despesas com itens que seriam impensáveis há alguns anos atrás. Sinais de um país que se sofistica e que adquire hábitos e costumes das sociedades mais organizadas, o brasileiro quer cada vez mais ter acesso a novos sabores, viver novas experiências, sentir novas sensações e buscar seu bem-estar.

Os shoppings brasileiros na busca de diferenciação têm a grande oportunidade de dedicar parte de seus espaços a esta nova realidade. Na área gastronômica os restaurantes tipo casual dining devem crescer, formando grandes áreas gourmets. Favorece para isto o anúncio recente da entrada de 9 grandes redes internacionais deste segmento, além de outras tantas nacionais que têm se destacado neste cenário. Juntas preveem a abertura de cerca de 150 restaurantes nos próximos 5 anos. A maior parte destes restaurantes terão os shoppings como locais preferenciais para a instalação das suas unidades. As metragens variam entre 200 a 1.500m².

Teatros em shoppings? Por conta de incentivos e benefícios fiscais, os teatros começam a fazer cada vez mais parte do cenário dos frequentadores de shoppings. Junto com os cinemas, estes teatros oferecem conforto e segurança, além de beneficiar os empreendimentos com uma imagem de vanguarda. Tendem a crescer o número de empreendimentos que preveem a construção de teatros nos seus projetos.

Parques de diversões temáticos, mega aquários e game centers, devem protagonizar novos empreendimentos, ocupando grandes espaços, tornando mais do que operações âncoras, referências de turismo em seus bairros ou cidades. Nos próximos meses São Paulo receberá a primeira unidade do Kidzania no Brasil. Serão 8.500m² no espaço ocupado anteriormente pelo Parque da Mônica no Shopping Eldorado, na capital paulista. A exemplo deles, diversos outros players internacionais estudam o mercado brasileiro e devem desembarcar por aqui nos próximos anos. O potencial é muito grande, pois existe forte carência de lazer nas cidades brasileiras e forte atratividade de público.

Por conta destes movimentos que estão ocorrendo, nos próximos anos, o hábito de ir a um shopping center no Brasil será cada vez mais prazeroso. Boa diversão!

Marcos Hirai (marcos.hirai@bgeh.com.br), sócio-diretor da BG&H Retail Real Estate.

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