Bem na frente da entrada principal do ParkJacarepaguá, caçula dos empreendimentos da Multiplan, fica o Parque da Magia. Ali, crianças de até 12 anos podem brincar à vontade nas 21 atrações, espalhadas pelos 2.600 m² do espaço. Antes do Parque da Magia, no Rio de Janeiro, a empresa já havia inaugurado outras duas atrações no mesmo modelo: o BarraCadabra, no BarraShoppingSul (Porto Alegre), e o Vilaventura, no BH Shopping (Belo Horizonte).
Investir em parques não é novidade na Multiplan. Foi em 1986 que a empresa do trevo de quatro folhas começou a atuar no setor, com a Divertlândia, em Belo Horizonte. Dez anos depois, surfou a onda dos jogos eletrônicos ao converter a Divertlândia em Hot Zone. Hoje há 11 desses parques nos shoppings da companhia.
A estratégia tem as digitais do fundador da companhia, José Isaac Peres, que sempre acreditou que consumo e entretimento são dois lados da mesma moeda. “Meu negócio não é varejo. Meu negócio é dar prazer às pessoas. Porque sem prazer, ninguém vive”, disse Peres alguns anos atrás.
Seria possível acrescentar: com prazer, as pessoas consomem mais.
A ideia de ancorar shopping centers com entretenimento, como vimos, não é nova. Mas vem ganhando novo impulso nos últimos tempos. A brMalls agregou áreas de entretenimento infantil ao lado dos seus foodhalls. Quem também está investindo forte em espaços de convivência e diversão, ancorados por alimentação, áreas infantis e pet parks, é a Ancar Ivanhoe.
Os shoppings, que já possuem importante oferta de alimentação e varejo, têm investido ainda mais em entretenimento. Curiosamente, os parques, que são essencialmente direcionados para o lazer, estão também aprimorando as opções de alimentos, bebidas e produtos, acelerando a convergência entre esses dois setores.
No mês passado, a indústria de parques reuniu-se em Brasília, por iniciativa do Sindepat (Sistema Integrado de Parques e Atrações Turísticas). Durante o encontro foi apresentado um interessante panorama setorial, com números impressionantes. Quer ver alguns deles?
Foram identificados 500 empreendimentos no País. As atrações turísticas, como aquários, rodas gigantes, teleféricos etc. respondem por 21% desse total. Os parques aquáticos representam 13% e os parques temáticos e de diversões contribuem com 9%. Os parques itinerantes, aqueles que ficam um tempo em cada lugar, somam 7% e os parques naturais sob concessão privada, como o Ibirapuera, em São Paulo, 5%.
O grosso do mercado, porém, está concentrado nos chamados family entertainment centers (centros de entretenimento familiares). Cerca de 45% dos parques em operação no País incluem atividades indoor, como jogos eletrônicos, trampolins e brinquedos. Hot Zone, Playland, Magic Games e Neo Geo são alguns players importantes desse segmento.
Outros 63 projetos estão nesse momento em desenvolvimento, prova da animação que envolve os empreendedores de parques brasileiros. Desses, 31% ficarão prontos ainda neste ano e o restante abre as portas até o final de 2025.
Ainda de acordo com o estudo apresentado no Sindepat Summit, no ano passado, os parques brasileiros receberam 89 milhões de visitantes, um aumento de 20% na audiência, em relação a 2019. Os gastos desses consumidores dividiram-se em ingressos (59%), comida e bebida (28%) e outros, o que inclui produtos e souvenirs (13%). Um dos desafios do setor é aumentar o volume de visitantes – a ocupação média desses locais varia entre 18 e 24%, por conta da alta influência da sazonalidade. Outro é elevar o gasto médio dessas pessoas, por meio de maiores e melhores opções de lojas, restaurantes e lanchonetes.
Isso significa que, assim como testemunhamos por aqui a inclusão de parques nos shoppings, também assistiremos à incorporação de áreas de lojas e restaurantes em nossos parques. Isso é bom para os consumidores e para os lojistas, que terão, respectivamente, novas opções de compras e de locais para expansão. Também ganham empresas e profissionais especializados na gestão de centros comerciais, que terão o campo de atuação ampliado.
O resultado desse movimento de convergência é que, nos próximos anos, muitos shoppings vão se parecer mais com parques. E diversos parques contarão com pequenos malls. A combinação de diversão, serviços, alimentação e compras se fará presente ainda em aeroportos, centros de saúde e terminais de transporte. E as fronteiras que dividiam conceitualmente esses locais, vão aos poucos desaparecer. Quem viver, verá.
Luiz Alberto Marinho é sócio-diretor da Gouvêa Malls.
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