Sinceridade ou sincericídio?

Por Rodrigo Anunciato*

Os efeitos da crise econômica no ambiente corporativo, que vão desde o medo do desemprego, passando por corte nos bônus e políticas de benefícios, entre outros fatores, têm impactado negativamente o nível de satisfação dos funcionários das empresas brasileiras, em relação a oportunidades de crescimento na carreira e cultura corporativa, além de salários e benefícios.


Leia também:

NRF Retail’s Big Show – O evento mais esperado pelo varejo de todo o mundo

Conheça os destaques da Delegação GS&MD para o NRF Retail’s Big Show 2016 


A informação vem da primeira edição do Índice Love Mondays de Satisfação do Profissional Brasileiro, que avaliou as opiniões de 36 mil pessoas, comparando seus níveis de satisfação em relação ao trabalho no terceiro trimestre de 2015 ante o mesmo período de 2014, em uma escala de satisfação de 1 a 5.

Dentre os índices mais representativos, destaca-se a oportunidade de carreira (-6,66%), o que pode ser considerado natural devido à forte retração econômica que o País enfrenta. Mas, o que chama a atenção é a queda do índice denominado cultura da empresa (-3,8%).

O que isso significa?

Muito desse resultado é reflexo do clima geral de insegurança quanto à manutenção do emprego, o que acaba afetando diretamente a percepção do profissional com relação à cultura da empresa onde trabalha e o relacionamento entre os colaboradores.

Como as pessoas devem lidar e interagir nas organizações nesse momento?

Frente ao cenário econômico atual, a maioria dos profissionais vive a dificuldade essencial das relações no trabalho, nas quais o anseio diário por autonomia, instinto de preservação e sinceridade esbarra constantemente nos limites da personalidade e da insegurança de cada um, e pode levá-los a um cenário em que não se sabe mais o que é sinceridade e o que é sincericídio.

Sinceridade X sincericídio

A sinceridade é uma virtude quase incontestável, que faz crescer, que acrescenta, que amplia e que assim é bem-vinda. Já aquela que apenas maltrata, desorganiza e desestabiliza sem nenhum objetivo concreto, com certeza não é bem-vinda.

Já o sincericídio, diferente da sinceridade que busca ser antes de tudo construtiva, tem por intuito dizer algo que, intencionalmente ou não, pode e quase sempre vai causar danos.

Ou seja, a sinceridade pode se transformar em sincericídio facilmente.

O contrário do sincericídio é a mistura de honestidade e respeito pelo outro. Você diz o que pensa, mas protege o outro de informações que machucam e não têm implicações sobre o presente. Você conta o que é importante, mas não vai afogar o outro em pequenas vaidades ou atribulações.

Para o psicólogo Jan Luiz Leonardi, mestre em análise do comportamento pela PUC-SP, ser sincero a qualquer custo revela um defeito: o egoísmo – afinal, ninguém é dono da verdade.

Já o autor do livro ‘Sincericídio’, o psicólogo Pablo Nobel, defende que é fundamental falar a verdade, pois isso é libertador. Segundo Nobel, a verdadeira sinceridade precisa ter um olhar de compaixão, mais do que de crueldade.

Por isso, utilizar-se de palavras ásperas que machucam não é o caminho certo para expressar o que se pensa. Tudo que for dito deve priorizar a melhora do ambiente de trabalho e seu crescimento profissional, pois sua opinião passa a ser respeitada a partir do momento em que as pessoas percebem que o que você diz é valioso e não são apenas críticas que não acrescentam nada de positivo no trabalho.

Também é muito importante saber criticar e dar opiniões sobre diversos assuntos relacionados ao trabalho.

Os liderados precisam (muitas vezes) expressar seus sentimentos e conclusões sobre alguns temas corporativos e só o fazem se o líder for capaz e aberto a isso, pois nem sempre vale à pena insistir numa conversa se não têm a certeza de que serão ouvidos.

Além disso, de nada adianta ter um profissional super qualificado tecnicamente se o mesmo é um iceberg, que não consegue interagir com as pessoas, afinal a confiança é construída e conquistada com o tempo; se perdida, pode ser quase impossível recuperá-la.

Portanto, considere como possibilidade tornar-se uma pessoa autêntica. Embora muitos entendam que ser sincero e ser autêntico tratam da mesma coisa, há uma diferença clara.

O sincero age em função das emoções. Quem é autêntico age em função de seus propósitos. Para criar esse contexto, observe quais propósitos gostaria de cumprir com sua fala e seu comportamento e ao escolher um, verifique se suas palavras e comportamento inspiram as pessoas e, em caso negativo, faça os ajustes necessários.

Quando as falas e as ações de alguém são congruentes, é que afirmamos que a pessoa é íntegra. Por isso, você deve ser autêntico com seus propósitos e ir muito além da própria sinceridade.

Seja você a fonte de inspiração que deseja.

*Rodrigo Anunciato (rodrigo.anunciato@gsmd.com.br) é gerente de Soluções e Projetos da GS&MD – Gouvêa de Souza

Sair da versão mobile