Para repensar os impactos que vêm da China na economia, consumo e no varejo – Parte 1

Momentum nº 1.041

Para repensar os impactos que vêm da China na economia, consumo e no varejo

“O que acontece na China definitivamente não fica na China. A importância é crescente de um país já com a maior economia do mundo no critério PPP (Paridade do Poder de Compra), que continua evoluindo mais do que as economias ocidentais desenvolvidas e com fortes investimentos subsidiados pelo Estado, cada vez mais concentrados em educação, tecnologia e no digital. E neste momento busca através da expansão do consumo alavancar o crescimento econômico que foi afetado pela crise do covid. Definitivamente, o que acontece por lá impacta e impactará cada vez o mundo.”

Análises econômicas e políticas envolvendo o momento da China estão presentes diariamente em todos os canais de informação, pela importância de tudo que acontece por lá para o mundo.

Politicamente comunista, mas economicamente capitalista, a China tem surpreendido pela rapidez de seu crescimento nos últimos 50 anos. E demonstra disposição e foco em acelerar esse processo.

E nenhum movimento considera apenas o curto e médio prazos, mas sim as transformações mais estruturais e estratégicas que envolvem o país, que tem como característica – ideologias políticas à parte – executar de forma rápida, eficiente e controlada o que é planejado.

E a visão do país neste momento impacta pela constatação de que caminham mais rápido na direção do crescimento e expansão econômica, lastreados nos avanços no binômio educação e tecnologia.

E o fosso em relação a outras economias, incluindo o Brasil, se amplia cada vez mais.

Hoje os ecossistemas de negócios como Tencent, Alibaba, JD, Pinduoduo e outros ocupam um espaço fundamental nessa estratégia de crescimento, já que depois de conquistarem liderança no mercado interno voltam-se para a expansão internacional. Usam como modelo estabelecer conexão direta com os consumidores, apoiada no monitoramento de comportamento e o crescente apoio de IA nos mais diversos países.

A partir daí, ampliam a oferta de produtos e serviços diretamente produzidos na China ou outros mercados asiáticos, equanto o governo avança em sua estratégia de posicionar o Yuan como moeda para transações internacionais e também já avançando para o e-Yuan.

Quando politicamente necessário os ecossistemas se dispõem também a atuar com produtores locais desses países. Mas a inegável vantagem competitiva está na oferta de produtos produzidos na China e na Ásia para o mundo, concorrendo diretamente com os produtores e canais tradicionais de cada mercado.

E fazem isso da forma como se desenvolveram, colocando o consumidor no centro de tudo e começando por atender as grandes massas em busca de preço mais baixo e depois, gradativamente, ampliando a oferta de produtos e alternativas de maior qualidade e valor.

A combinação virtuosa de educação, subsídios e tecnologia permite ao país continuar crescendo mais rápido do que outras economias, mas é inegável que a inflação e o menor crescimento econômico foram legados da pandemia e obrigaram o próprio governo central e de algumas províncias reduzirem salários e se ajustar.

Inflação, menor crescimento na pandemia e as dificuldades adicionais no plano econômico impostas pela pressão norte-americana, em especial no tema tecnologia, têm cobrado seu preço no comportamento geral do mercado, obrigando o país a olhar outras áreas do mundo para ampliar o potencial de expansão.

Essa situação favorece e poderia favorecer muito mais o Brasil, que tem na China seu maior parceiro econômico considerando o saldo da balança comercial, que é perto de cinco vezes o que tem com os EUA.

Em termos práticos, o que se observa hoje na China é uma dramática transformação que se acelera ainda mais. Se o Brasil tiver um mínimo de visão estratégica e a habilidade política necessárias poderá colher resultados muito positivos.

A única coisa que não pode ser feita é ignorar a força, velocidade e extensão dessa transformação.

Lições do cotidiano

Depois de 4 anos e após a pandemia voltamos à China num roteiro trabalhado como o BTG e seus parceiros de negócios envolvendo Beijing, Shenzen, Hanzhou e Shangai.

Essa visão e vivência tocando diferentes realidades é fundamental para sentir e entender o processo evolutivo e, lamentavelmente, perceber o quanto o fosso entre China e Brasil está se ampliando.

Ao visitar os grandes ecossistemas de negócios em suas sedes e interagir com lideranças nas áreas de comércio, varejo, ecossistemas, marketplaces, cross-border, tecnologia, logística, meios de pagamentos e IA tudo aquilo que lemos e acompanhamos sobre China toma outra proporção.

Não tem leitura, vídeo ou palestra que substitua o vivenciar dessa transformação que se tornou ainda mais marcante nos últimos anos.

Cidades antes dominadas pela poluição mudaram muito.

O nível de atendimento e preocupação com visitantes cresceu de importância. Em especial, por conta da constatação de que o país precisa estar cada vez mais inserido no mundo para abrir espaço para seus produtos e marcas, considerando principalmente que os Estados Unidos e os países alinhados estão e estarão cada vez mais tentando fechar portas para a China.

Não se vê população carente nas ruas, nem carros velhos circulando. Absoluta e completa limpeza em tudo. E uma atenção com sustentabilidade marcante.

Talvez um dos aspectos que mais chamaram a atenção em relação a visitas anteriores é a preocupação com arborização, plantio e cuidados com jardins, praças e caminhos. Além da quase irritante limpeza para um país com quase 1,4 bilhão de habitantes.

Nas próximas duas semanas, vamos voltar ao tema China pelos aprendizados e provocações que uma visita por lá despertam.

Marcos Gouvêa de Souza é fundador e diretor-geral da Gouvêa Ecosystem e publisher da plataforma Mercado&Consumo.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.

Imagem: Shutterstock

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