Edu Lyra inspira setor farma com aprendizados que recebeu da mãe e da favela

Fundador da Gerando Falcões, mostrou como pessoas comuns podem fazer coisas extraordinárias no Conexão Farma

Edu Lyra inspira setor farma com aprendizados que recebeu da mãe e da favela

Pode ter sido só por teimosia, embora obstinação soe melhor quando se trata de Edu Lyra. Ele foi contra as estatísticas, contra os números que condenam meninos com a sua cor, seu endereço e sua origem ao mesmo destino: o daqueles que perpetuam a miséria, o analfabetismo, o tráfico e a violência urbana. E ainda que pareça contraditório, o desafio não foi sobreviver ao determinismo social e, sim, viver como exceção à regra.

A necessidade de pertencimento, intrínseca à natureza humana, molda escolhas e cria dilemas, como: “para chegar onde quero, preciso deixar o lugar de onde vim”. Trair raízes ou lidar com o incômodo de estar onde não devia?

Enquanto crescia, em um barraco de uma das favelas de Guarulhos, na região metropolitana da capital paulista, Edu resolveu esta equação: fundou a ONG Gerando Falcões e tornou-se um dos jovens empreendedores mais influentes no mundo. Para onde quer seu voo o levasse – mais alto e mais distante – levaria junto os seus, a sua história, a sua origem. Dessa maneira, iria inspirar pessoas em todas as partes com a sua perspectiva, a de que no topo sempre tem lugar para mais alguns.

A palestra de Lyra abriu a 18ª edição da Conexão Farma, feira do setor farma, promovida pela Abradilan, e que reúne, de 12 a 14 de março, mais de 170 expositores, entre indústria, distribuidor e varejo, no Expo Center Norte, em São Paulo. A MERCADO&CONSUMO é media partner e faz uma cobertura especial do evento.

Com o título “Não importa de onde se vem, mas sim para onde se vai”, a conferência do jovem empreendedor impactou presentes, arrancou aplausos e tocou corações. Não porque a superação é comovente, mas porque, como líderes, executivos e profissionais, as pessoas lidam com dificuldades parecidas em contextos diferentes.

Semeando mudanças

Quem não deixou para trás projetos ou ideias inovadoras por medo da reprovação ou de parecer diferente do grupo? Quantos profissionais já tentaram demonstrar o seu valor para alcançar uma posição que ‘jamais’ deveria pretender? Quem pagou o preço de fazer algo transformador e se frustrou? Quem foi em frente, quem se aprisionou ao passado?

Ao contar passagens emblemáticas de sua vida, o palestrante fez com que o público revisitasse lugares incômodos ou dolorosos em sua própria trajetória. Para cada passo em direção ao voo dos falcões, frases motivadoras foram compartilhadas com todos os presentes, como “tamo junto” e “vai que dá”.

Sem dúvida nenhuma, ele poderia ter substituído as expressões pelas de um autor célebre. Mas, então, não honraria a sabedoria herdada de sua mãe, Maria Gorete de Brito Lyra, mulher negra, empregada doméstica, favelada e esposa de um homem preso por assalto a banco para prover a família. É dessas pequenas vitórias e de perdas que ele se construiu como visionário e homem de sucesso. Gorete foi sua grande inspiração. “Minha mãe me deu horizontes”, disse.

Tirando risos da plateia, definiu a mãe como empreendedora. “Ela fez um produto grande e extraordinário: eu”. Repetindo as palavras de dona Gorete, complementou: “E vou fazer ele grande na vida”. Vem dela também a frase que intitulou a palestra: “filho, não importa de onde você vem, o que importa é para onde você vai”.

Lyra traduziu a experiência como um norteador para a vida, afirmando que o passado já aconteceu e cada um só pode mudar o resultado – ou um destino – a partir dos recursos possui no presente e com a mentalidade voltada para onde quer chegar.

O convite à criatividade foi um dos pontos auge da palestra. Criar e imaginar o futuro são próprios da natureza humana e este exercício requer permissão para romper paradigmas, crenças, rótulos. “Quando você compra Apple, você compra rebeldia, transgressão, teimosia. Você não compra um aparelho. Inovação é teimosia”, desafiou.

Para ele, o empreendedor trabalha no campo da imaginação e cada pessoa se torna responsável pela realização das ideias que vislumbra como um dever para com a sociedade. “Essa coisa que só você viu, que só você percebeu, esta é uma ideia transformadora e você é responsável por ela”.

Mas lembra que não é possível fazer tudo sozinho. “Quanto mais a gente cresce, mais precisa de ajuda. Ninguém consegue construir uma coisa grande sozinho”. Dirigindo-se firmemente à plateia, repetiu as palavras de dona Gorete: “tamo junto” e “vai que dá”.

“É dessa forma que pessoas comuns, como eu, como vocês, começam a fazer coisas extraordinárias”, finalizou.

Gerando Falcões

Hoje, a ONG é uma rede de desenvolvimento social que atua para interromper o ciclo de pobreza nas favelas com inovação e tecnologia.

Está presente em 6 mil favelas, atende cerca de 700 mil pessoas em todo o Brasil e já capacitou mais de mil líderes e voluntários para transformar territórios por todo o País. Entre as dezenas de projetos, a entidade derruba a favela e constrói bairros, com moradias dignas, matrículas para crianças, cursos de qualificação para jovens e oferta de trabalho para adultos conquistarem a sua autonomia.

Para este ano, a meta é tirar 200 mil pessoas da pobreza por meio de projetos sociais que contam com o financiamento de entidades parceiras e doações.

A Gerando Falcões possui um escritório nos Estados Unidos, país para onde leva projetos sociais e busca parcerias para reduzir a miséria e a pobreza onde quer que existam.

Imagem: MERCADO&CONSUMO

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