A tragédia do Rio Grande do Sul e os impactos no foodservice

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As mudanças climáticas castigam o mundo com tsunamis, tempestades, tufões, calor intenso, entre outras reações extremas da natureza ao desequilíbrio que nós temos gerado no planeta.

O tema da sustentabilidade vem sendo discutido, porém, nós só o respeitamos, de fato, quando vivemos um problema de dimensões catastróficas como essa. Região serrana do Rio de Janeiro, litoral paulistano, Santa Catarina e Pernambuco já sofreram com os efeitos das águas. O Rio Grande do Sul tem sido de forma recorrente, ao longo dos últimos dez anos, afetado em maior ou menor grau pelos efeitos das chuvas.

Com tantos avanços tecnológicos fica impossível acreditar que esses problemas não eram factíveis de serem detectados. E a resposta é sim. Eles foram previstos, porém, as quatro últimas gestões federais cortaram custos de investimentos ou manutenção das estruturas que poderiam prevenir ou amenizar esses efeitos. Tudo o que foi feito foi no âmbito corretivo e no atual governo não foi diferente.

E o que podemos esperar em relação aos impactos da economia gaúcha localmente e no PIB total do País. A economia regional é diversificada, destacando-se em serviços, agricultura, pecuária e indústria. O setor de serviços representa 63,3% do PIB do Estado. Em termos de agricultura, do total nacional, o Rio Grande do Sul é responsável por 73% da produção de aveia, 71% de arroz, 45% de trigo e 24% da cevada no total nacional. Ou seja, é um estado forte na composição do PIB do País.

Fazendo um recorte para os negócios de alimentação (integrantes do bloco de serviços), certamente, teremos uma implacável redução de faturamento, gerada pela falta de gêneros, por conta dos impactos nas estradas, falta de funcionários, que perderam suas casas e, claro, majoritariamente falta de clientes, devido à devastação das regiões afetadas direta ou indiretamente pelas chuvas.

Em curto prazo será necessário apurar as perdas das indústrias que armazenam as produções de ciclos anteriores em silos ou áreas industriais. Se e como possam ter sido afetadas, o principal ponto, sem dúvida, será a próxima safra.

Nesse momento é impossível estimar as perdas da agricultura e agropecuária do Estado, porém, o Ministério da Agricultura necessitará estudar formas rápidas de importação, com redução tributária para reduzir os impactos dos custos para o mercado nacional dada a alta dependência do País em relação a produção do Rio Grande do Sul.

Porém, esse desejo é quase ilusório. Especificamente, arroz e trigo, que compõem a cesta básica do brasileiro, já é possível dizer que teremos aumentos de custo tanto para o consumidor quanto para o mercado profissional (transformadores, pequenas, médias e grandes indústrias).

É lindo ver a mobilização nacional e internacional em prol da captação de recursos, além de doações para apoiar as famílias do Rio Grande do Sul. Porém, é ultrajante imaginar que isso tudo poderia ter sido evitado ou minimizado.

Fica a dúvida sobre quais outras regiões do País poderão compensar a perda de faturamento do mercado de foodservice dragado por essa tragédia. O Nordeste pode ser uma aposta, mas, por proximidade, estados como Santa Catarina e Paraná devem ser impactados por um movimento migratório da população do Rio Grande do Sul em busca de moradia digna e manutenção de condições sociais mínimas sociais para as famílias como escola e universidade.

O foodservice, certamente, será um canal de consumo menos prioritário para essa população, principalmente nos próximos seis meses. Então, devemos ter um crescimento de vendas em atacarejo, pelo fator custo, mas principalmente de minimercados e conveniência para atender compras de pequeno porte gerada pelo impacto na renda dessas pessoas.

As mudanças climáticas e a severidade dos seus efeitos devem se repetir no Brasil e pelo mundo. A questão é o tipo de reação que teremos na reconstrução. Historicamente em nosso País ela é lenta, custosa e pode ser corroída por desvios financeiros.

Vamos pressionar por maior transparência e investimentos em sustentabilidade em nosso País.

Cristina Souza é CEO da Gouvêa Foodservice.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
Imagem: Comunicação MPA

 

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